Caminhoneiros

Bloqueios em vias por grupos bolsonaristas colocam abastecimento em risco

A CNI informou, por meio de nota, que 99% das empresas brasileiras utilizam as rodovias para transporte de sua produção

Tainá Andrade
postado em 02/11/2022 03:55 / atualizado em 02/11/2022 07:27
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

A falta de produtos começou a afetar empresas industriais e comerciais no segundo dia de bloqueios de rodovias pelo país por radicais bolsonaristas, atingindo setores essenciais para a população, como alimentação, saúde e combustíveis. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) informou, por meio de nota, que 99% das empresas brasileiras utilizam as rodovias para transporte de sua produção. Portanto, frisou a entidade, tornou-se urgente a rápida desobstrução das vias para a normalidade da entrega dos produtos.

De acordo com os principais levantamentos, a situação em todos os setores é mais crítica em Santa Catarina (SC), onde Jair Bolsonaro (PL) venceu nas urnas, com mais de 3 milhões de votos (69,27%). A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) fez um apelo, na manhã de ontem, a Bolsonaro, para que se pronunciasse em relação às dificuldades de levar os alimentos até às lojas.

Além do estado sulista, o vice-presidente da Abras, Marcio Milan, em entrevista, apontou outras cinco unidades federativas onde a situação está delicada, e, coincidentemente, tiveram maioria de votos para o presidente: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Distrito Federal e São Paulo. Outras unidades federativas citadas foram Pará e Minas Gerais, responsável por 16% da malha rodoviária federal.

No monitoramento da Abras, feito da manhã de segunda-feira até o final do dia de ontem, foi identificada, nas regiões mais afetadas pelos bloqueios, uma média de 70% das lojas com desabastecimento. Na lista de setores mais lesados estão: frutas, legumes e verduras, seguidos por açougues, peixes, frios e latícinios. Por último, mercearias e panificação.

Milan chamou a atenção para o aumento de movimentação dos consumidores nos supermercados no final do dia de ontem. Isso pode indicar a preocupação de que a paralisação pode se prolongar. "Se de um lado temos a insegurança alimentar, de outro tem a preocupação de vários produtos se perderem ao longo da cadeia e isso vai gerar um desperdício", ressaltou.

A Abras foca na situação das centrais de abastecimento (Ceasas) pelo Brasil, que não estão recebendo produtos da forma habitual. A Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), registrou ontem a entrada de 4,4 mil veículos. Em comparação com o mesmo dia da semana passada, quando foram recebidos 5,2 mil, houve diminuição de 17%. "As lojas já estão sentindo falta. Principalmente as lojas menores, que têm uma capacidade menor de estocagem e nas quais, basicamente, o abastecimento de produtos é diário", disse Milan.

Saúde

Outra área que também emitiu alerta de risco de interrupção foi a da saúde. Segundo o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Nésio Fernandes, três estados reportaram problemas com escalas de trabalhadores, insumos e suprimentos: Distrito Federal, Pernambuco e Santa Catarina. "O Amapá também pode ter problemas de abastecimento se (as manifestações) durarem mais três dias", completou.

A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) informou ao Correio que, até as 20h de ontem, monitorava a paralisação, em seis estados, de 87 carretas de transporte de gases industriais, e de 55 com gases medicinais.

A principal preocupação é com o transporte de oxigênio para hospitais. "As manifestações estão colocando em risco o transporte de oxigênio medicinal, destinado a clínicas e hospitais, locais nos quais é utilizado para a manutenção e preservação da vida de pacientes em UTIs ou CTIs, em estado crítico, ou que estejam sofrendo de crise respiratória", informou a Abiquim, em comunicado.

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