Banco Central

"O núcleo de inflação está mais resiliente", alerta Campos Neto

Apesar do processo de desinflação em curso, o presidente lembra que o país ainda enfrenta desafios para consolidar a inflação, pois o processo de desinflação tende a não ser linear

Rosana Hessel
postado em 17/05/2023 11:26 / atualizado em 17/05/2023 11:29
 (crédito: Sergio Lima / AFP)
(crédito: Sergio Lima / AFP)

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçou o alerta de que ainda não é possível afrouxar a política de aperto monetário adotada desde março de 2021, apesar da desaceleração da inflação recente, e voltou a defender o atual regime de metas. De acordo com o chefe da autoridade monetária, a inflação ainda continua dando sinais de que é persistente e as expectativas do mercado para 2024 e 2025 “continuam desancoradas”.

“Como temos argumentado, o processo de desinflação deve continuar, porém, de forma não linear, pois o núcleo de inflação está mais resiliente devido à difusão da inflação”, alertou Campos Neto, nesta quarta-feira (17/5), durante discurso de abertura da primeira Conferência Anual do Banco Central.

Segundo ele, um dos componentes que têm influenciado essa persistência inflacionária está relacionado com a alta de preços no setor de serviços, que tende a ser mais ampla, tanto no Brasil quanto em outros países. O presidente do BC ressaltou que as expectativas de inflação para 2024 e 2025 continuam desancoradas, pois, embora tenham ocorrido progressos na condução política monetária, ainda há desafios para consolidar a inflação em níveis mais baixos.

O chefe da autoridade monetária brasileira, que participou do evento de forma remota por problemas de saúde, destacou que esse processo de desinflação no Brasil começou antes de outros países, porque, na avaliação dele, o Banco Central brasileiro percebeu que a inflação resultante dos impactos da pandemia da covid-19 e da guerra na Ucrânia é mais duradoura.

Na avaliação de Campos Neto, o recuo de Ìndice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou do pico de 12,1%, em abril de 2022, para 4,1%, em abril deste ano, foi resultado do processo de aperto monetário iniciado em março de 2021, quando o BC iniciou a alta da taxa básica da economia (Selic), em março de 2021, quando os juros básicos estavam em 2% ao ano.

“No segundo semestre de 2002, o principal fator na redução da inflação para os cortes de impostos implementado foi o combustível de eletricidade do serviço de telecomunicações. Mas a diminuição da inflação também se deve ao ciclo de apertar a política monetária empreendida pelo Banco Central”, afirmou.

Pelas estimativas do mercado, que voltou a elevar as projeções para o IPCA deste ano, a inflação oficial deverá encerrar o ano acima do patamar atual, chegando a 6,03%, acima do teto da meta de inflação deste ano, de 4,75%. Para 2024 e 2025, a mediana das projeções coletadas no boletim Focus, do BC, está em 4,15% e 4%, respectivamente, ambas acima do centro da meta, de 3%, mas dentro do limite de tolerância, de 4,5%.

Incertezas e arcabouço

Na avaliação de Campos Neto, apesar da desinflação estar em curso, tanto o Brasil quanto os demais países ainda precisam entender os motivos do atual processo inflacionário, que é mais persistente. Ele reconheceu que as incertezas internas em relação à economia doméstica, especialmente no quadro fiscal, têm contribuído para essa desancoragem das expectativas, mas elogiou o novo arcabouço fiscal que deverá ser votado pelo Congresso. “O novo arcabouço legal anunciado pelo governo pode eventualmente mudar a direção de um quadro explicativo de inflação. Avaliamos que as novas regras evitam os cenários mais extremos da trajetória de dívida pública”, afirmou.

No entanto, o presidente do BC reafirmou o discurso das últimas atas do Comitê de Política Monetária (Copom) de que “não há uma relação mecânica entre a política monetária e a apresentação do arcabouço fiscal”. “A convergência da inflação permanece condicionada a outras variáveis mais econômicas, como reação e expectativa de inflação. As projeções da dívida pública e os preços de ativos”, frisou. Ele ainda saiu em defesa do atual regime de metas e afirmou que ele tem sido “bem-sucedido” em meio às sinalizações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), querer que a meta volte a ficar acima de 4%.

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