conjuntura

IPCA-15: alimentos puxam inflação em janeiro

Índice medido parcialmente no mês até desacelerou, mas a comida pesou no bolso do cidadão. Famílias têm que fazer ginástica para não terem de trocar artigos, buscarem os melhores preços e não comprometerem a qualidade

 26/01/2024 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Politica. Carestia dos preços dos Alimentos - Arroz - Batata - Açucar - Feijão.  -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
26/01/2024 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Politica. Carestia dos preços dos Alimentos - Arroz - Batata - Açucar - Feijão. - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)
postado em 27/01/2024 03:55

Em janeiro, o preço dos alimentos ficou salgado para o brasileiro. A inflação medida parcialmente neste mês desacelerou, mas os artigos de alimentação tiveram peso relevante na carestia deste início do ano.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), conhecido como prévia da inflação oficial, desacelerou em relação a dezembro e ficou abaixo das previsões do mercado. O indicador medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgado ontem, registrou avanço de 0,31% frente ao mês anterior, quando subiu 0,40%.

As estimativas do mercado para alta do IPCA-15 estavam perto de 0,50%, mas os analistas avaliam que é preciso cautela, pois os dados mostram o aumento do espalhamento da inflação, que teve forte contribuição da carestia dos alimentos, que voltou a acelerar em comparação a dezembro.

Para o cálculo do indicador, que mede a inflação das famílias com rendimento de um a 40 salários mínimos por mês, os preços foram coletados entre 15 de dezembro de 2023 e 14 de janeiro deste ano e comparados com os dados registrados de 14 de novembro a 14 de dezembro.

Das 11 regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, Belo Horizonte registrou a maior variação do IPCA-15 em janeiro, de 0,88%. Enquanto isso, Brasília registrou a única deflação entre as cidades listadas pelo órgão ligado ao , com variação negativa de 0,41%. No acumulado em 12 meses até janeiro, a capital federal registrou alta de 4,70%.

El Niño

O aumento de preços no grupo alimentação e bebidas registrou, de 1,53%, teve um impacto maior do que a variação do indicador, de 0,32 ponto percentual. Já o grupo de transportes registrou queda de 1,13% e contribuiu para um impacto negativo de 0,24 ponto percentual, ajudando na desaceleração do indicador de carestia no mês. Esse recuo foi puxado, principalmente, pelo tombo de 15,24% nas passagens aéreas, que, sozinho, impactou em -0,16 ponto percentual no IPCA-15. Também houve recuos nos preços dos combustíveis, de 0,63% enquanto gás veicular teve avanço de 2,34%.

Conforme os dados do IBGE, o custo da alimentação no domicílio foi o que mais subiu em janeiro no grupo que liderou as altas de preços. O destaque ficou para os alimentos in natura, como a batata-inglesa (de 25,95%), o tomate (de 11,19%), o arroz (de 5,85%), as frutas (de 5,45%), e as carnes (de 0,94%). Já a alimentação fora do domicílio desacelerou em relação ao mês de dezembro (com alta de 0,53%) e registrou aumento de 0,24%.

“O resultado do IPCA-15 veio abaixo da nossa expectativa. Esperávamos alta em torno de 0,50% e a maior parte das pressões nos preços dos alimentos foi sazonal, e, portanto, é transitória e pode perder força com a aproximação do outono. Além disso, a queda nos preços das passagens aéreas também era um movimento esperado para os meses de janeiro”, destacou o economista Andre Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre).

O especialista alertou, porém, para outros fatores relevantes. “O El Niño não prejudicou a safra de grandes commodities, como soja e milho, mas esse fenômeno deixará sua marca na safra de 2024. Então, no segundo trimestre, caso o fenômeno continue forte, podemos ver mais do que alimentos in natura com preços em elevação”, destacou.

José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, chama a atenção para o aumento da dispersão da inflação, pois o índice de difusão passou de 56% para 67%, e para o aumento de preços de serviços subjacentes, que tiveram “contribuição positiva elevada”. Esses dados também preocupam o economista Alexandre Maluf, da XP Investimentos. Ele ressalta que o avanço de 0,68%, na medida de inflação de serviços subjacentes, “ficou acima das estimativas da XP, de 0,52%”.

“Apesar das principais surpresas de alta em serviços subjacentes estarem concentradas em aluguel de carros e serviços bancários, os serviços intensivos em mão de obra têm mostrado sinais relativamente preocupantes nas leituras recentes de inflação, provavelmente refletindo a recente melhoria na renda real disponível às famílias”, disse Maluf. Segundo ele, mesmo com as surpresas baixistas no IPCA-15 de janeiro a XP manteve em 3,7% a previsão para o IPCA deste ano.

O economista e consultor André Perfeito lembra que, na próxima semana, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, deverá ficar atento aos grupos que continuam sofrendo pressões inflacionárias. “A dispersão dos preços aumentou e uma medida bastante usada pelo Copom para antecipar a inflação, os serviços subjacentes, teve piora”, alerta. Segundo ele, os serviços tendem a pressionar o IPCA, “devido à recuperação do rendimento médio real habitual na esteira do desemprego em queda”.

Conforme os dados do IBGE, nos 12 meses encerrados em janeiro a variação do IPCA-15 foi de 4,47%, também abaixo dos 4,72% contabilizados no mesmo período imediatamente anterior. Em 2023, o indicador registrou alta de 0,55% no primeiro mês do ano.

 

Colaborou Isabel Dourado, estagiária sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza

 

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