
O aumento de tarifas anunciado por Donald Trump sobre produtos brasileiros, como aço e alumínio, reacende o alerta sobre a fragilidade da nossa posição na cadeia global de valor. Na sua avaliação, o Brasil está preparado para lidar com esse tipo de protecionismo?
Muito mais do que uma ameaça, essas tarifas podem se tornar uma oportunidade para o país. O Brasil foi a bolsa que menos caiu, com disfunção de que os mercados leem e, de fato, eles podem oferecer uma oportunidade para o país. Nós, além de termos ficado na menor tarifa, de 10%, nós temos condições de, a partir daí, oferecer para outros mercados. Mesmo que a gente tenha uma visão bastante crítica do governo, o governo tem mais acertado do que errado.
O senhor acredita que o tarifaço é apenas uma manobra dos EUA ou um sinal de mudança estrutural no comércio internacional, que o Brasil precisa encarar com mais estratégia?
Óbvio que a gente tem que ter muita cautela. Eu acho que o governo brasileiro está agindo corretamente, tem muita cautela. Mas eu tenho a impressão que nós vamos acabar se beneficiando nesse grande equívoco americano.
O Projeto de Lei da Reciprocidade tem ganhado força como reação ao protecionismo de países como os EUA e a China. Qual o posicionamento da Frente em relação ao PL?
Eu tenho criticado muito o governo, mas nesse sentido, nós apoiamos as medidas que têm sido feitas pelo governo de maneira geral e da área do desenvolvimento industrial de maneira mais específica.
Em vez de retaliar tarifas, o Brasil poderia investir em política industrial e acordos bilaterais mais robustos. Qual o papel do Congresso nesse equilíbrio entre reação imediata e construção de um ambiente mais competitivo no longo prazo?
O Congresso agiu corretamente, dando a oportunidade para o governo retaliar. o dólar está no patamar mais barato desde o de 2020, é muito significativo, estamos com hoje R$ 5,66, R$ 5,68. Isso é uma perspectiva boa, pelo menos.
Existe risco de que o PL da Reciprocidade seja usado com viés ideológico ou eleitoral, em vez de técnico e estratégico?
Espero sinceramente que as autoridades se portem com cautela, como tem feito, e que o Congresso haja racionalmente.
O senhor tem defendido a importância de reduzir o Custo Brasil para destravar a competitividade nacional. Qual seria, na sua visão, o gargalo número um que trava nosso crescimento hoje?
A questão do treinamento/ formação dos funcionários brasileiros é muito decente ainda, mas tem questões logísticas e estruturais muito defasadas da necessidade real de um país mais competitivo.
Com a aprovação da reforma tributária em curso, o que o senhor espera de mudança real para as empresas brasileiras nos próximos dois anos? Há risco de que o impacto positivo demore demais a ser sentido?
Eu não tenho nenhuma dúvida que, para o Brasil como um todo, nada é mais importante que a reforma tributária. E nós teremos ganhos enormes em longo prazo. Agora, obviamente, muitas etapas ainda têm que ser trilhadas, muitas leis complementares ainda terão que ser feitas, setores inteiros que precisarão ser regulamentados, e o trabalho ainda precisa ser feito. Mas quero enfatizar que o cenário é de ganho tanto de competitividade quanto de ganho econômico.
A competitividade do futuro passa por inovação e sustentabilidade. O Brasil tem potencial nesse campo, mas ainda investe pouco. Como o Congresso pode impulsionar políticas que estimulem pesquisa, desenvolvimento e transição energética?
Eu acho que o Congresso precisa continuar estimulando e a gente tem que ter a digitalização e o avanço da tecnologia no Brasil. Estava falando o líder do PT. Nós estaremos participando da Comissão Especial de Inteligência Artificial. Eu vejo, sempre com bons olhos, acho que nós temos feito os avanços necessários. O Brasil tem uma legislação adequada e fará alterações nas legislações pertinentes de forma correta.