
Depois do balde de água fria do Banco Central na intenção do Banco de Brasília (BRB) de comprar o Banco Master, o cenário é incerto e pode comprometer o socorro que vinha sendo costurado para os grandes investidores do banco endividado. Procurados, BRB e Master, com sede em São Paulo, informaram que seguem aguardando o envio da íntegra da decisão do BC para avaliarem os fundamentos e examinarem as alternativas cabíveis.
Os bancos envolvidos podem pedir ao BC a reconsideração da decisão em até 10 dias após o recebimento da íntegra da sentença. A decisão, segundo fontes próximas à autoridade monetária, foi da diretoria colegiada e analistas avaliam que é muito difícil que o veredicto seja modificado.
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Ontem, um dia após o anúncio da decisão do BC, as ações do BRB fecharam no vermelho, com queda de 5,5%. As ações ordinárias e as preferenciais (sem direito a voto, mas com preferência no recebimento de dividendos) do BRB encerraram o dia na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) cotadas a R$ 10,20 e a R$ 10,84, respectivamente, com quedas de 5,47% e 7,74%. Enquanto isso, o Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, voltou a subir após três quedas seguidas na semana e fechou com alta de 0,81% a 140.993 pontos.
Ao avaliarem a decisão do BC, analistas consideram que a instituição reforçou a sua autonomia, porque vinha sofrendo pressões para aprovar a operação que, mesmo não consolidada, rendeu bons frutos aos acionistas do BRB. Apesar da queda de ontem, os papeis do BRB ainda acumulam altas consideráveis desde o anúncio da compra do Master, feita em 28 de março, por meio de fato relevante ao mercado.
Desde então, os papeis do BRB têm uma valorização considerável, de 37,92%, nas ordinárias, e de 60,71%, nas preferenciais, conforme levantamento feito pela Elos Ayta a pedido do Correio. Segundo os analistas, o Master vinha adotando uma política agressiva no mercado, pagando rendimentos de até 140% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que acompanha a taxa básica da economia (Selic), de 15% ao ano. Essa atuação é considerada arriscada, devido ao endividamento doMaster que, em 2024, tinha umpassivo total de R$ 63 bilhões, dosquais R$ 49,8 bilhões em depósitos bancários.
O economista e consultor Roberto Luis Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), considerou a decisão do BC acertada, porque ela vai evitar um socorro futuro para cobrir um buraco que ainda não se sabe ao certo o tamanho.“Essa fusão não faz muito sentido, porque não há sinergia alguma entre um banco público e um privado”, afirmou.
Pelas estimativas de Vladimir Timerman, CEO e fundador da gestora Esh Capital, o passivo do Master pode ser de R$ 10 bilhões a R$20 bilhões maior do que o estimado atualmente. O gestor fez várias denúncias contra o Master em instâncias, como o Ministério Público Federal e o Banco Central e não poupou críticas à operação. “O BC fez muito bem em barrar a compra do Master pelo BRB e me admira que não tenha feito logo uma intervenção. Se as pessoas fizerem as contas, vão fazer questionamentos”, afirmou.
Pressões
A operação entre BRB e Mastertinha apoio de políticos do Centrão e, principalmente, do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), pois buscava o fortalecimento do BRB no mercado financeiro nacional, ampliando a atuação do banco no país. Procurado pelo Correio, o governador não respondeu até o fechamento desta edição. à Rede Globo, Ibaneis disseque aguarda para conhecer os detalhes da decisão do BC. “Não conhecemos ainda os fundamentos. É uma operação complexa que envolve muitos interesses e pressões de toda natureza. Precisamos veros fundamentos que podem até trazer alguma análise do maste rque não tivemos acesso”, disse o governador.
No mês passado, a Câmara Legislativa do DF deu o aval para a operação e, nos últimos dias, parlamentares do Centrão pressionaram os diretores do BC a fazerem o mesmo, principalmente o que responde pela diretoria de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do BC, Renato Dias de Brito Gomes, cujo mandato vence em dezembro deste ano.
Mas o ápiceda pressão foi a assinatura de líderes de sete partidos de um pedido de urgência ao projeto de leique permite ao Congresso Nacional destituir os presidentes e diretores do BC do cargo quando “forincompatível com os interesses nacionais”, o Projeto de Lei Complementar 39/2021.A proposta, de autoria do deputado Camilo Capiberibe (PSB--AP), foi ressuscitada por parlamentares, após a deflagração deoperações — conduzidas PelaPolícia Federal, Receita Federal, Ministério Público Federal e Ministério Público de São Paulo —, que investiga esquemas que envolvia alavagem de dinheiro, com suspeitas de participação de instituiçõesfinanceiras e fintechs.
De acordo com o professor deFinanças na Fundação VanzoliniMarcos Crivelaro, a decisão do BCfoi um recado claro sobre a prevalência do critério técnico na supervisão do sistema financeiro. “Emum ambiente de crescente complexidade institucional, preservar aatuação independente do BC é fundamental para garantir previsibilidade, segurança jurídica e confiança no mercado — elementos essenciais para a estabilidade econômica de longo prazo”, afirmou.
Já o professor de Economia daUniversidade de Brasília (UnB) César Bergo avaliou que o PLC 39 como um retrocesso na autonomiado BC. Ele lembrou que o Legislativo discute sobre a autonomia financeira do BC.
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Marcelo de Assis
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