Mercado financeiro

BC veta compra do Master pelo BRB

Em meio a pressão do centrão, Banco Central antecipa análise e indefere operação que previa aquisição de 58% do capital do banco

Em fato relevante, o banco do DF disse que a transação  representaria
Em fato relevante, o banco do DF disse que a transação representaria "uma oportunidade estratégica com potencial de geração de valor para o BRB" - (crédito: BRB)

O Banco Central rejeitou, na noite de ontem, a compra de fatia do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB). As partes foram notificadas pela autoridade monetária após o fechamento do mercado. Em um "fato relevante" — documento enviado a investidores — o BRB confirmou a informação, e disse que solicitou o acesso à íntegra da decisão para avaliar os fundamentos técnicos e alternativas cabíveis.

O Banco Central não detalhou os motivos do indeferimento. A operação foi anunciada no dia 28 de março, quando o banco do Governo do Distrito Federal (GDF) confirmou a intenção de adquirir 49% das ações ordinárias e 100% das ações preferenciais do Master, pagando R$ 2 bilhões.

"O BRB reitera seu posicionamento de que a transação representa uma oportunidade estratégica com potencial de geração de valor para o BRB, seus clientes, o Distrito Federal e o Sistema Financeiro Nacional e manterá seus acionistas e o mercado informados sobre eventuais desdobramentos relevantes, nos termos da legislação e da regulamentação aplicáveis", informou a instituição financeira ao mercado. O banco também disse que o contrato será rescindido "de acordo com seus termos e condições".

A compra já havia sido autorizada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em junho, sem restrições. O órgão não viu prejuízos à concorrência, já que a participação conjunta no mercado ficaria abaixo de 20%. O aval do BC seria o último passo — obrigatório — para concretizar a operação. Apesar de ter prazo de um ano para analisar o caso, a autoridade monetária preferiu se antecipar.

A compra chegou a ser barrada a pedido do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) porque não havia aprovação da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Em resposta, o governador Ibaneis Rocha (MDB) enviou um projeto de lei em regime de urgência em agosto, que tramitou em menos de uma semana — sob protesto da oposição. A preocupação é com a saúde financeira do Banco Master, que usa uma tática agressiva, oferecendo rendimentos que chegaram a 140% do Certificado de Depósito Bancário (CDI), sendo que as taxas médias para bancos pequenos giram em torno de 110% a 120%. A operação foi vista por críticos como uma tentativa de salvar o Master, cujo proprietário é o banqueiro Daniel Vorcaro, da crise que enfrentava, e poderia trazer prejuízo ao BRB.

Polêmicas

A negativa do Banco Central ocorreu em um momento conturbado para a operação. De um lado, o Master, entre outras instituições, foi citado durante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS como suposto envolvido no esquema de fraude envolvendo empréstimos consignados para aposentados e pensionistas. A acusação partiu do advogado Eli Cohen, que investigou as fraudes, ouvido em audiência na segunda-feira. Além disso, a Operação Carbono Oculto, deflagrada na quinta passada pela Polícia Federal contra um esquema de lavagem de dinheiro do PCC envolvendo fintechs e o setor de combustíveis, mirou dois grandes parceiros do Master: Trustee DTVM e Reag Investimentos, que administram mais de metade dos fundos do banco.

Por outro lado, partidos do centrão iniciaram uma articulação, na terça-feira, para aprovar um projeto de lei (PL) que dá poderes para que parlamentares demitam diretores e o presidente do Banco Central, o que foi interpretado pela base governista como forma de pressão para o BC autorizar a compra do Master.

Ontem, antes da decisão da autoridade monetária, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, expressou preocupação com o texto. ""Não vejo nenhum motivo para ele (o PL) caminhar. Não foi discutido com ninguém, não estava na pauta. (O que) preocupa é a intenção que está por trás disso. E, na minha opinião, não traz benefício nenhum", disse.

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A rejeição da compra foi celebrada por opositores da gestão Ibaneis. "Mais um passo importante na defesa dos interesses da nossa população! Não faz sentido envolver o BRB em uma operação com um banco falido e envolvido em problemas financeiros graves", escreveu em suas redes sociais o deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).

 

 


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postado em 04/09/2025 04:28
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