
A política monetária mais contracionista vem surtindo efeito na atividade econômica, tanto que o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, divulgado recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentou desaceleração para 0,4% em relação à alta de 1,4% nos três meses anteriores;
Entre os setores mais afetados pelos impactos dos juros mais elevados está a indústria da transformação, que registrou queda pelo segundo trimestre seguido e ainda teve uma contração mais profunda do que a do PIB, de 0,5%.
Enquanto isso, na média, o setor industrial apresentou variação positiva de 0,5% de abril a junho, na comparação com os três meses anteriores. Especialistas destacam os juros altos e o aumento do endividamento das famílias como fatores para que o consumo de bens duráveis encolha, afetando os dados da indústria da transformação.
Conforme dados do Banco Central, divulgados na semana passada, as novas concessões de crédito no Sistema Financeiro Nacional (SFN) recuaram 2% nas operações de empréstimos para as famílias, somando R$ 644,1 bilhões. No acumulado do ano até julho, as novas contratações nominais avançaram 12,3% no volume total, mas com as concessões às famílias crescendo em ritmo menor, de 9,5%. Os dados do BC ainda mostram que a inadimplência vem crescendo de forma expressiva. Em julho, chegou a 5,2%, patamar mais elevado desde novembro de 2017.
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No primeiro trimestre, a indústria de transformação recuou 1% em relação aos três meses anteriores, enquanto o PIB avançou 1,4% na mesma base de comparação. De acordo com analistas, no segundo trimestre, a indústria seguirá em queda, puxada por esse ramo de atividade. Os setores mais sensíveis à política monetária vêm enfraquecendo, com destaque aos bens de capital e bens de consumo duráveis.
Entidades do setor produtivo, como Confederação Nacional da Indústria (CNI) e coligadas, seguem criticando o atual patamar da taxa básica da economia (Selic), de 15% ao ano, e defendem que o Banco Central já deveria ter iniciado o ciclo de cortes de juros. Analistas, no entanto, estimam que a Selic só deverá começar a cair no início de 2026, em grande parte, devido ao desarranjo das contas públicas que tende a limitar o impacto da política monetária.
Perspectivas
Presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Jorge Nascimento prevê recuo de 1% a 2% na produção do setor neste ano por conta dos juros mais altos. A maioria das vendas de eletrodomésticos da linha branca e da linha marrom e bens duráveis em geral, depende do crédito, porque é feita de forma parcelada. Além disso, ele ressaltou que, neste ano, não há os mesmos estímulos do governo de 2024, como o Desenrola (programa de renegociação de dívidas). "O setor teve uma boa performance em 2024, mas, neste ano, com os juros mais elevados e o endividamento das famílias está aumentando e a inadimplência também, estamos prevendo queda", disse.
De acordo com Nascimento, o impacto do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de 50% sobre os produtos brasileiros nas indústrias do setor de eletroeletrônico no país é pequeno, porque as vendas para o mercado norte-americano "não chegam a 1% da produção nacional".
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E analistas alertam que a inadimplência já está nos maiores patamares do atual governo, dando sinais de que não deve parar de subir, mesmo com os estímulos para o crédito consignado para o trabalhador privado podem não garantir um avanço maior para a indústria. "De fato, já vemos taxas atualizadas negativas no volume de concessões de crédito de recursos livres também em julho, na recente nota de crédito divulgada nesta semana pelo Banco Central", destacou Eduardo Velho, economista-chefe da Equador Investimentos.
"As nossas exportações para os EUA são muito pequenas, e o tarifaço não impacta o nosso negócio. Mas, se houver reciprocidade do governo brasileiro, aí, sim, nossos insumos, como semicondutores e compressores, terão os preços elevados", afirmou. Contudo, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avisou recentemente ao governo norte-americano que começou os estudos para adotar medidas de reciprocidade.
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O presidente da Eletros ainda demonstrou otimismo de que as conversas do setor com o governo para a adoção de políticas públicas visando estimular a troca de eletrodomésticos mais eficientes, tanto no consumo de energia, quanto no consumo de água na produção, além do estímulo fiscal para as famílias de baixa renda mobiliarem as residências adquiridas por meio do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), devem ser retomadas no fim deste ano ou no início do ano que vem. "Estamos tentando retomar as conversas com o governo para essas políticas e buscamos também ampliar os estímulos para a logística reversa, dando destinação mais adequada aos aparelhos antigos na hora da troca", destacou.
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