Economia global

"Vivemos tempos de incertezas políticas e instabilidade muito profundas", diz Pavan Sukhdev

Um dos maiores especialistas em economia ambiental do mundo aponta as mudanças no contrato social como um dos cinco maiores desafios disruptivos da atualidade

Pavan Sukhdev discursou na abertura do 26º Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (Ibgc), que acontece esta semana em São Paulo -  (crédito: Hara Fotografia)
Pavan Sukhdev discursou na abertura do 26º Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (Ibgc), que acontece esta semana em São Paulo - (crédito: Hara Fotografia)

São Paulo* — O mundo navega por uma tempestade perigosa e é preciso estar pronto para sobreviver às disrupções que caracterizam o momento atual. Esta é a síntese da análise de Pavan Sukhdev, um dos maiores especialistas em economia ambiental, ao apresentar cinco pontos sensíveis que desafiam a economia global. Um desses pontos refere-se ao movimento ultraconservador puxado pelo trumpismo, mas observado no mundo inteiro, que questiona as democracias e nega as questões climáticas, em um momento em que o meio ambiente rompeu o sétimo dos nove limites planetários.

“Vivemos tempos de incertezas políticas e instabilidade muito profundas no mundo”, afirmou o economista, nessa quarta-feira (8), na palestra de abertura do 26º Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (Ibgc).

“O problema mais desafiador para se entender, hoje, é essa mudança no contrato social. Esse é o contrato entre o indivíduo e o governo, entre o indivíduo e a operação, entre o indivíduo e os Poderes, e direitos da sociedade. É muito significativo o que está acontecendo. Isso é sobre a ambiguidade e a incerteza que foram injetadas em nosso mundo. É sobre a democracia sendo desafiada”, diz ele, que é ex-presidente da WWF e ex-conselheiro especial e chefe da Iniciativa de Economia Verde do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

Para embasar a sua preocupação, Pavan cita personagens como o influencer Curtis Yarvin, um ex-programador de computador da extrema-direita que se tornou blogueiro e é um dos principais entusiastas do movimento neo-reacionário norte-americano.

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Pavan Sukhdev apresenta Yarvin como “o desconhecido mais famoso do mundo”, referindo-se ao fato de ele não possuir títulos ou obras autorais, mas ser seguido por gente como o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Venci ou o multimilionário Peter Hill, criador do PayPal.

Yarvin é autor da frase “a democracia é um software ultrapassado”, que acredita na volta da monarquia, com monarcas sendo da área de tecnologia. “E há gente que acredita nesse cara”, advertiu o economista, em uma referência à maneira como Donald Trump governa, de maneira autocrática. “Os Estado Unidos estão apoiando regimes quase monárquicos, e estão agindo como se fossem um ditadura e não um democracia”, observou. “E isso está acontecendo em vários países, não apenas nos EUA”, completou.

Entre os pontos disruptivos que marcam os desafios para os próximos anos, o economista, que é fundador e CEO da GIST Impact, citou a Inteligência Artificial; crescentes riscos da saúde planetária; as novas ameaças à saúde humana, o que inclui a saúde mental; e a instabilidade geopolítica, com diversas guerras ocorrendo, sem sinais de resoluções.

30 anos

Aprofundando o tema Navegando em mares revoltos: governança para sobreviver às disrupções dos próximos cinco anos, Pavan Sukhdev também apontou caminhos para a sobrevivência nesse mar revolto. “Apostem na resiliência de pessoas”, indicou ele, a uma plateia formada por cerca de 1.500 representantes de grandes empresas do Brasil e convidados internacionais.

“Pessoas resilientes são o principal passo para uma corporação resiliente”, advertiu. “Não tenham receio de usar a inteligência artificial. A IA pode ajudar a garantir uma governança forte”, pontuou. “Invistam no capital humano. Investir na saúde mental das pessoas permite proteger as pessoas e as empresas contra essa tempestade na qual estamos tentando navegar”, finalizou.

O congresso deste ano também celebra os 30 anos de criação do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (Ibgc). Para celebrar a efeméride, o instituto publicou o livro Jornada de Propósito - o Ibgc e os 30 anos da governança corporativa no Brasil. A presidente do instituto, Deborah Wright recordou que tudo começou em 1995, quando a entidade foi criada como Instituto Brasileiro de Conselheiros de Administração (Ibca).

A ideia era seguir a tendência mundial em que, naquele momento, especialmente o Reino Unido, discutia-se a evolução dos relatórios financeiros e mecanismos de accountability.

Em 1999, já com o nome atual, o instituto publicou o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, no mesmo ano em que a OCDE lançava seus Princípios de Governança Corporativa. Hoje, o Código já está em sua sexta edição.

O Congresso segue hoje, tendo como principal convidado o professor de finanças e diretor de dois centros de pesquisa na Escola de Economia e Gestão da Universidade Tsinghua, em Pequim, Ping He. Ele vai falar sobre o tema: China no centro do novo tabuleiro global. Além de sua atuação acadêmica, Ping He é reconhecido por sua participação em debates sobre o crescimento econômico da China e os desafios da re-globalização, sendo frequentemente convidado para palestras e programas executivos voltados à compreensão da economia chinesa em transformação.

Ao longo de todo o dia, haverá palestras que focam, principalmente, a sustentabilidade e os desafios da COP30. O evento é marcado também pela dinâmica master class e rodadas de negócios entre as empresas representadas.

*A jornalista viajou a convite do Ibgc

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Por Edla Lula
postado em 09/10/2025 11:42 / atualizado em 09/10/2025 11:43
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