
São Paulo* — O mundo navega por uma tempestade perigosa e é preciso estar pronto para sobreviver às disrupções que caracterizam o momento atual. Esta é a síntese da análise de Pavan Sukhdev, um dos maiores especialistas em economia ambiental, ao apresentar cinco pontos sensíveis que desafiam a economia global. Um desses pontos refere-se ao movimento ultraconservador puxado pelo trumpismo, mas observado no mundo inteiro, que questiona as democracias e nega as questões climáticas, em um momento em que o meio ambiente rompeu o sétimo dos nove limites planetários.
“Vivemos tempos de incertezas políticas e instabilidade muito profundas no mundo”, afirmou o economista, nessa quarta-feira (8), na palestra de abertura do 26º Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (Ibgc).
“O problema mais desafiador para se entender, hoje, é essa mudança no contrato social. Esse é o contrato entre o indivíduo e o governo, entre o indivíduo e a operação, entre o indivíduo e os Poderes, e direitos da sociedade. É muito significativo o que está acontecendo. Isso é sobre a ambiguidade e a incerteza que foram injetadas em nosso mundo. É sobre a democracia sendo desafiada”, diz ele, que é ex-presidente da WWF e ex-conselheiro especial e chefe da Iniciativa de Economia Verde do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Para embasar a sua preocupação, Pavan cita personagens como o influencer Curtis Yarvin, um ex-programador de computador da extrema-direita que se tornou blogueiro e é um dos principais entusiastas do movimento neo-reacionário norte-americano.
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Pavan Sukhdev apresenta Yarvin como “o desconhecido mais famoso do mundo”, referindo-se ao fato de ele não possuir títulos ou obras autorais, mas ser seguido por gente como o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Venci ou o multimilionário Peter Hill, criador do PayPal.
Yarvin é autor da frase “a democracia é um software ultrapassado”, que acredita na volta da monarquia, com monarcas sendo da área de tecnologia. “E há gente que acredita nesse cara”, advertiu o economista, em uma referência à maneira como Donald Trump governa, de maneira autocrática. “Os Estado Unidos estão apoiando regimes quase monárquicos, e estão agindo como se fossem um ditadura e não um democracia”, observou. “E isso está acontecendo em vários países, não apenas nos EUA”, completou.
Entre os pontos disruptivos que marcam os desafios para os próximos anos, o economista, que é fundador e CEO da GIST Impact, citou a Inteligência Artificial; crescentes riscos da saúde planetária; as novas ameaças à saúde humana, o que inclui a saúde mental; e a instabilidade geopolítica, com diversas guerras ocorrendo, sem sinais de resoluções.
30 anos
Aprofundando o tema Navegando em mares revoltos: governança para sobreviver às disrupções dos próximos cinco anos, Pavan Sukhdev também apontou caminhos para a sobrevivência nesse mar revolto. “Apostem na resiliência de pessoas”, indicou ele, a uma plateia formada por cerca de 1.500 representantes de grandes empresas do Brasil e convidados internacionais.
“Pessoas resilientes são o principal passo para uma corporação resiliente”, advertiu. “Não tenham receio de usar a inteligência artificial. A IA pode ajudar a garantir uma governança forte”, pontuou. “Invistam no capital humano. Investir na saúde mental das pessoas permite proteger as pessoas e as empresas contra essa tempestade na qual estamos tentando navegar”, finalizou.
O congresso deste ano também celebra os 30 anos de criação do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (Ibgc). Para celebrar a efeméride, o instituto publicou o livro Jornada de Propósito - o Ibgc e os 30 anos da governança corporativa no Brasil. A presidente do instituto, Deborah Wright recordou que tudo começou em 1995, quando a entidade foi criada como Instituto Brasileiro de Conselheiros de Administração (Ibca).
A ideia era seguir a tendência mundial em que, naquele momento, especialmente o Reino Unido, discutia-se a evolução dos relatórios financeiros e mecanismos de accountability.
Em 1999, já com o nome atual, o instituto publicou o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, no mesmo ano em que a OCDE lançava seus Princípios de Governança Corporativa. Hoje, o Código já está em sua sexta edição.
O Congresso segue hoje, tendo como principal convidado o professor de finanças e diretor de dois centros de pesquisa na Escola de Economia e Gestão da Universidade Tsinghua, em Pequim, Ping He. Ele vai falar sobre o tema: China no centro do novo tabuleiro global. Além de sua atuação acadêmica, Ping He é reconhecido por sua participação em debates sobre o crescimento econômico da China e os desafios da re-globalização, sendo frequentemente convidado para palestras e programas executivos voltados à compreensão da economia chinesa em transformação.
Ao longo de todo o dia, haverá palestras que focam, principalmente, a sustentabilidade e os desafios da COP30. O evento é marcado também pela dinâmica master class e rodadas de negócios entre as empresas representadas.
*A jornalista viajou a convite do Ibgc
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