
Ananindeua - A Região Norte dá um passo significativo no fortalecimento da reciclagem de PET com a inauguração da primeira fábrica de flake do Pará. Resultado da parceria entre a Cirklo, uma das maiores recicladoras de garrafas plásticas do país, e a Solar Coca-Cola, a unidade integra a Amazônia ao circuito nacional de reaproveitamento de materiais plásticos e reforça a economia circular na região.
Localizada em Ananindeua, a fábrica representa um marco para a gestão de resíduos na região. Com a estrutura já concluída e previsão de início das operações em novembro, a unidade terá capacidade para processar até mil toneladas de garrafas PET por mês, transformando o material descartado em flocos reciclados, conhecidos como flake. Esses flocos servirão como matéria-prima para a produção de novas embalagens 100% recicladas em outras unidades da Cirklo.
O investimento de R$ 20 milhões reflete um avanço significativo na organização da cadeia de reciclagem do Norte do país, estimulando a economia local, gerando empregos e promovendo práticas sustentáveis. Além de reduzir o volume de resíduos plásticos no meio ambiente, a fábrica abre oportunidades para fortalecer a atuação de cooperativas e catadores da região, integrando-os a um modelo de produção mais eficiente e ambientalmente responsável.
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A iniciativa surgiu há dois anos com o objetivo de fortalecer os elos ainda frágeis da gestão de resíduos na região, segundo Katielle Haffner, diretora de Sustentabilidade da Coca-Cola para o Brasil e o Cone Sul. "Enquanto no Sul e Sudeste há ecossistemas mais estruturados, o Norte enfrenta dificuldades, especialmente por conta da geografia, que dificulta o processo de logística reversa", afirmou.
A instalação da nova fábrica é uma resposta direta aos desafios de transporte e custo que historicamente limitaram a reciclagem no Norte do país. "O PET tem uma dificuldade na reciclagem que vem justamente das suas principais qualidades, ele é leve e barato. E tudo que é leve e barato sofre muito com o transporte", explicou o CEO da Cirklo, Irineu Barbosa.
"Como fazer uma garrafa sair de Manaus, no Amazonas, ou de Belém, no Pará, cruzar o país para virar uma pré-forma? Não compensa, o transporte fica mais caro que o valor da própria garrafa", destacou o executivo, ressaltando que o novo hub logístico permitirá maior capilaridade na coleta e no beneficiamento do material.
"A ideia é facilitar o acesso. Não só os grandes agregadores poderão enviar material para transformação, mas também pequenas cooperativas e associações. Elas poderão trazer fardos menores, e nós vamos transformá-los em matéria-prima aqui mesmo. Assim conseguimos descentralizar e fortalecer a cadeia de reciclagem na região", reforçou.
Matéria-prima
O flake é o plástico triturado em pequenos flocos. Esse material funciona como matéria-prima para a produção de uma ampla variedade de itens, incluindo novas embalagens, tecidos de poliéster, peças automotivas e componentes eletrônicos, contribuindo diretamente para a economia circular e o reaproveitamento sustentável de recursos.
O material se destaca pela versatilidade, como explicou o CEO da Cirklo. "Essa mesma resina pode se transformar em muitos outros produtos: bandejas de frutas, potes, fitas de embalagem, cerdas de vassoura e até fibras têxteis. Muita coisa feita de poliéster pode usar o flake de PET reciclado. Inclusive, o carpete onde estamos pisando agora é feito com fibra de PET reciclada. O flake virou fibra, e a fibra virou carpete", contou.
Para Barbosa, o início das operações no Pará representa não apenas um avanço ambiental, mas também um novo modelo econômico para a região Norte. "Com essa planta, conseguimos transformar o que antes era custo logístico em oportunidade produtiva. Estamos criando uma cadeia circular completa, com geração de renda local e impacto positivo para o meio ambiente", concluiu.
O diretor de Relações Externas da Solar Coca-Cola, Fábio Acerbi, acredita que o momento é estratégico para tornar economicamente viável a transformação do PET coletado localmente."Esse equipamento não existia na Região Norte e permite viabilizar economicamente o transporte de todo o PET gerado na região até uma usina. Ainda não há uma usina aqui, uma hora haverá, mas, enquanto isso, conseguimos transformar o PET coletado em resina reciclada e reinseri-lo na cadeia econômica", explicou o executivo.
Além disso, a linha de produção tem passado por ajustes para facilitar a reutilização do material. Um exemplo é a garrafa da Sprite, que deixou de ser verde e passou a ser transparente. A mudança aumenta a reciclabilidade do PET, pois garrafas transparentes são mais facilmente identificadas pelos equipamentos automatizados de triagem, podem ser usadas para fabricar novos produtos e têm valor de mercado superior ao das coloridas.
Cooperativas
O processo de reciclagem na Amazônia começa com a coleta do material pelos catadores, que atuam em cooperativas e comércios locais. A iniciativa não apenas abastece a nova fábrica de flake no Pará, como também fortalece a economia circular, garantindo renda e promovendo a inclusão de agentes ambientais na cadeia de reciclagem.
Atualmente, a Solar Coca-Cola mantém parcerias com cooperativas na região, com impactos diretos na remuneração dos catadores. Segundo Antônio Moraes, presidente da Cocamar, antes da parceria, os associados recebiam entre R$ 600 e R$ 800. Hoje, a faixa salarial varia de R$ 800 a R$ 1.100, refletindo a valorização do trabalho e a maior eficiência na coleta e processamento do material.
"Essa parceria aproximou a cooperativa da gestão municipal, oferecendo conhecimento, oportunidades e acompanhamento mais próximo. A Cocamar se tornou uma referência dentro do município", afirmou Moraes, destacando que a iniciativa também trouxe visibilidade e autoestima para os trabalhadores, que foram convidados a participar da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30).
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O objetivo da cooperativa agora é assalariar todos os catadores e ampliar as oportunidades de trabalho, incluindo novos projetos como a reciclagem de vidro, que antes era apenas transportado para São Paulo.
O material coletado é encaminhado para a fábrica Rifas Reciclagem, que atua nas regiões Norte e Nordeste. Lá, os resíduos passam por triagem, com a retirada de impurezas e rejeitos, e são organizados em fardos padronizados. Até então destinados a diversas indústrias, eles passarão a ser enviados para a nova fábrica de flake, fortalecendo a reciclagem de PET na região.
Segundo Katielle Haffner, diretora de Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil, o trabalho começou com o fortalecimento da base da cadeia, envolvendo catadores e cooperativas, mas evoluiu para preencher lacunas estruturais. "Essa cadeia é formada por diversos elos: os catadores, que coletam as embalagens; os agregadores, que transformam em fardos; e agora o elo que faltava, a transformação do PET em flake. Esse novo elo facilita o processo de logística reversa", afirmou.
Capacitação para empreendedoras
A Coca-Cola Brasil, em parceria com o Sebrae, lançou o programa "Amazônia Empreendedora", voltado à capacitação e aceleração de mulheres empreendedoras na Amazônia, com foco especial no Pará, estado que sediará a COP30. A iniciativa, já realizada em outras regiões do país, integra a estratégia de sustentabilidade da companhia e o esforço conjunto com o Sebrae para fortalecer pequenos negócios e impulsionar a bioeconomia local.
O projeto pretende capacitar 10 mil mulheres em diferentes estados da região Norte, oferecendo formação em gestão, inovação e sustentabilidade. Além disso, 300 empreendedoras serão selecionadas para uma etapa de aceleração de negócios, com acompanhamento técnico e mentorias especializadas. A Coca-Cola Brasil investirá R$ 1 milhão na iniciativa, que conta com o apoio do Grupo Vibra e da Secretaria de Bioeconomia do Pará.
Segundo a diretora de Sustentabilidade da Coca-Cola, o programa surgiu da necessidade de dar atenção a quem movimenta a economia local. "A Coca-Cola está dando um gás para mulheres que, muitas vezes, ficaram sem renda, e que agora encontram no empreendedorismo uma nova oportunidade. A maioria desses pequenos negócios é liderada por mulheres que precisavam de foco, capacitação e apoio para crescer", afirmou.
A parceria com o Sebrae busca conectar essas empreendedoras a oportunidades de mercado e fortalecer o ecossistema de pequenos varejos na Amazônia, especialmente aqueles inseridos em cadeias produtivas sustentáveis. "Estamos entendendo as demandas específicas de cada estado e atuando junto com o Sebrae para apoiar os pequenos negócios, com foco em inclusão, inovação e impacto socioambiental", destacou Haffner.
Entre os exemplos de sucesso estão iniciativas ligadas à economia criativa e à bioeconomia, como o Ateliê de Biojoias, onde artesãs locais transformam insumos da floresta em peças de design que já começam a ser exportadas.
O programa faz parte de um conjunto mais amplo de ações da Coca-Cola e do Sebrae na Amazônia, visando deixar um legado de desenvolvimento econômico, preservação ambiental e protagonismo feminino na preparação para a COP30.
"Mais do que capacitar, queremos criar oportunidades reais de renda e abrir caminhos para que essas mulheres sejam protagonistas de um novo modelo de desenvolvimento sustentável", concluiu Haffner.
* A repórter viajou a convite da Coca-Cola Brasil

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