
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta quinta-feira (27/11) que a economia brasileira segue na direção esperada pela autoridade monetária, embora em velocidade inferior à desejada. Segundo ele, os novos dados reforçam que a política monetária está funcionando, mas “de uma maneira bastante lenta”, em um ambiente econômico ainda resiliente diante do atual nível de restrição de juros. As declarações foram feitas durante evento promovido pela Itaú Asset Management.
Galípolo voltou a destacar que o BC mantém uma estratégia baseada na coleta de dados e na construção gradual de confiança, sem projeções antecipadas. “Quando dizemos que não estamos dando nenhum sinal para frente não é porque estamos querendo esconder alguma coisa, é porque eu realmente acho que a esperteza da comunicação que a gente teve ao longo desse ano foi ser humilde”, afirmou. Para ele, o papel da instituição é refletir com clareza o que está sendo observado, reconhecendo a complexidade do cenário.
O presidente do BC ressaltou que a credibilidade da autarquia é fruto de uma construção coletiva e não de uma liderança individual. Disse também que o trabalho atual se apoia em décadas de fortalecimento institucional e na qualidade técnica dos servidores.
Galípolo observou ainda mudanças relevantes na relação entre variáveis macroeconômicas no Brasil. Como exemplo, citou o comportamento do mercado de trabalho, que segue registrando queda no desemprego mesmo diante de juros nominais de 15% ao ano e reais entre 9% e 10%. Para ele, essa resistência é resultado mais de fatores estruturais do que conjunturais, reforçando a necessidade de uma dose maior de aperto monetário para surtir efeito no País.
Apesar dessas distorções, afirmou que a trajetória da inflação está alinhada ao “plano de voo” do BC e que os sinais apontam para um desaquecimento “lento e gradual” da atividade econômica. A convergência inflacionária, porém, avança em ritmo menor do que o ideal. Por outro lado, esse movimento reduz o risco de uma desaceleração abrupta.
Fiscal, expectativas e eleições
Galípolo ponderou que uma percepção de estímulo fiscal já vem influenciando expectativas desancoradas há algum tempo, o que ajuda a explicar o descompasso entre as projeções do mercado e as do BC. Ele afirmou que medidas apresentadas nos últimos anos como neutras do ponto de vista orçamentário não foram neutras do ponto de vista da demanda, especialmente quando envolveram maior tributação combinada com transferência de renda para famílias com maior propensão ao consumo.
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Sobre o ambiente político, o presidente do BC reconheceu que anos eleitorais tendem a apresentar maior volatilidade, mas reiterou que a instituição não faz juízo de valor sobre cenários futuros e se concentra exclusivamente no impacto sobre demanda, inflação corrente e expectativas. Ele destacou a importância da meta de inflação contínua nesses momentos, por permitir que o BC trabalhe com um horizonte que ultrapassa o ciclo eleitoral.

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