O Brasil atingiu, entre janeiro e outubro deste ano, o terceiro recorde consecutivo de corte na geração de energia renovável, fenômeno conhecido como curtailment. De acordo com levantamento divulgado nesta quinta-feira (6/11) pela Volt Robotics, com base em dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), 20,4% de toda a energia solar e eólica que poderia ser produzida no país foi desperdiçada, mais que o triplo do registrado no mesmo período de 2024.
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O prejuízo acumulado chega a R$ 5,4 bilhões apenas em 2025, valor que ameaça a sustentabilidade econômica da geração renovável no país. Desde que o ONS começou a divulgar dados sobre o tema, em 2021, o custo total dos cortes já soma R$ 8,1 bilhões.
Em outubro, 37% da capacidade solar e 37,1% da eólica deixaram de ser aproveitadas, o que representa 5,9 mil GWh não escoados, volume suficiente para abastecer uma cidade do porte de Belo Horizonte por um mês. O desperdício equivale a 10,1% do consumo elétrico nacional mensal. Os estados mais afetados foram Rio Grande do Norte (43,8%), Ceará (34,9%) e Minas Gerais (30,8%).
“No momento em que o Brasil é palco das discussões globais sobre clima, registramos o terceiro recorde seguido de desperdício de energia limpa. Fizemos a lição pela metade”, afirmou Donato Filho, diretor-geral da Volt Robotics. “É hora de transformar o excesso de energia renovável em diferencial competitivo.”
Segundo o relatório, metade dos cortes na geração renovável decorre do excesso de oferta de energia, quando a produção supera o consumo nacional. A outra metade está ligada a limitações na rede de transmissão ou a medidas de segurança adotadas para evitar falhas no sistema elétrico.
Os cortes se concentram principalmente nas manhãs e tardes, entre 9h e 16h, período de maior incidência solar e menor demanda. Aos domingos, quando o consumo é ainda mais baixo, o desperdício médio chegou a 9.000 MWmédios, evidenciando a falta de equilíbrio entre geração e consumo no país.
A Volt aponta que o problema se agravou devido a anos de incentivos à geração renovável sem a correspondente expansão da rede elétrica. O avanço tecnológico e a queda nos custos de instalação também impulsionaram o crescimento acelerado de usinas solares e eólicas, sem que houvesse planejamento sistêmico para absorver essa produção.
Térmicas acionadas
A situação tem gerado contradições. Em outubro, o país registrou o maior volume de cortes da história, enquanto usinas termelétricas — mais caras e poluentes — foram acionadas sob bandeira tarifária vermelha patamar 2. “Proíbem-se usinas renováveis de gerar energia de custo quase nulo, ao mesmo tempo em que se despacham térmicas. Falta flexibilidade e coordenação no sistema”, destaca o estudo.
O relatório alerta que o curtailment deixou de ser um problema técnico pontual para se tornar o principal entrave à consolidação da matriz renovável brasileira. “Cada megawatt-hora cortado é energia limpa desperdiçada, dinheiro público jogado fora e uma ameaça à confiança dos investidores”, conclui o documento.
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