Balanço

'Eu não vivo da política', diz Haddad sobre corrida eleitoral de 2026

Ministro da Fazenda nega a intenção de se candidatar e diz que, em 2026, quer trabalhar pela reeleição do presidente Lula

No mesmo dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou que gostaria que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fosse candidato em 2026, o chefe da equipe econômica do terceiro mandato do petista reforçou que não tem interesse em se candidatar, mas, sim, de trabalhar na campanha da reeleição de Lula.

"Cada um tem uma trajetória. Eu não vivo da política", afirmou Haddad, nesta quinta-feira (18), a jornalistas, ao ser questionado se ele gostaria de se candidatar nas próximas eleições. "Eu tive uma conversa com o presidente e ele disse que respeitaria a minha decisão", acrescentou Haddad, durante um café com setoristas da Fazenda na tarde de ontem, na sede da pasta.

Mais cedo, no Palácio do Planalto, também em café com jornalistas, Lula declarou que gostaria de ter Haddad como candidato em São Paulo. "Vocês sabem que o Haddad tem maioridade e tem biografia para decidir o que ele quer fazer. Se você me perguntar se eu gostaria que ele fosse candidato, eu gostaria", afirmou. "É impossível você imaginar uma pessoa da envergadura do Haddad deixar o Ministério da Fazenda e voltar para casa. Acho que nem eu, nem a Ana Estela iríamos gostar", acrescentou Lula, citando a esposa do ministro.

Haddad contou que pretende tirar férias e, quando retornar, em 11 de janeiro, vai retomar a conversa com Lula e, então, deixar a Fazenda, em fevereiro. "Se o meu pleito for atendido para colaborar com a campanha, uma troca de comando aqui (na Fazenda) seria importante", disse ele.

Ao ser questionado sobre quem poderia substituí-lo no comando da Fazenda, Haddad evitou dar nomes, mas ponderou que sempre tem levado os secretários para despachos com Lula. "Obviamente, esse é um cargo (de escolha) do presidente da República. Mas eu não despacho sozinho com o presidente. Eu gosto de promover as pessoas que trabalham comigo", disse ele, citando os secretários Robinson Barreirinhas (Receita Federal), Rogério Ceron (Tesouro Nacional) e Marcos Pinto (Reformas Econômicas), que está de saída do governo. "Eu os levo e tenho orgulho das pessoas que trabalham comigo", declarou.

Em tom de despedida, Haddad fez um balanço positivo de sua gestão à frente da Fazenda, mas não sinalizou um prazo para que a trajetória da dívida pública se estabilize. Ele comemorou o avanço das pautas econômicas no Congresso Nacional. "Estamos terminando o ano com todas as matérias apreciadas", disse. Ao se defender das críticas sobre o arcabouço fiscal, Haddad afirmou que a regra "tem uma arquitetura muito boa" e é bastante elogiada por vários países. "Acho que é preciso manter a arquitetura, mas é possível discutir os parâmetros", afirmou.

De acordo com o ministro, o deficit fiscal herdado do ex-ministro da Economia Paulo Guedes, em 2023, foi de R$ 160 bilhões, porque o Orçamento tinha erros como o Bolsa Família dimensionado errado, de R$ 400 em vez de R$ 600, além dos R$ 44 bilhões do calote de precatórios. Além disso, afirmou que, no governo Temer, o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, encerrou 2018 com um deficit nas contas públicas de R$ 139 bilhões, que seriam mais ou menos R$ 180 bilhões aos preços de hoje. "Ninguém fala disso, e ninguém chamou Meirelles de irresponsável", reclamou, com tom de ressentimento.

UE-Mercosul

Ao contrário de Lula, que ameaçou abandonar o acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia se não houver avanço no próximo sábado, durante a cúpula do bloco sul-americano em Foz do Iguaçu (PR), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu um pouco mais de paciência. "Acredito que vale a pena insistir um pouco mais", disse Haddad. "Tínhamos que abrir essa seara na esfera geopolítica e era uma clareira", acrescentou.

O ministro contou que mandou mensagem para o presidente da França, Emmanuel Macron, para manter o acordo. Na avaliação dele, o acordo tem salvaguardas importantes e, se os governantes precisam de mais tempo para esclarecer isso para a opinião pública, não tem problema esperar mais um pouco além da cúpula do Mercosul, que acontece no próximo sábado (20/12), em Foz do Iguaçu, para a assinatura do acordo. "Acho que vale a pena esperar", disse,acrescentando que, "só não pode demorar muito".

Banco Central

Além de elogiar o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, Haddad afirmou que eles nunca divergiram sobre a direção da política monetária, mas sobre a intensidade do remédio. "Fazenda e Banco Central nunca divergiram sobre a direção da política, não houve divergência em relação a isso. Houve debate sobre dose, sobre intensidade", afirmou ele, acrescentando que o debate era feito de maneira "civilizada".

Além disso, declarou que as ponderações sobre a atuação do BC não deveriam "ferir nem causar tanta celeuma". Segundo ele, desde que assumiu o cargo, tem defendido harmonia entre as políticas monetária e fiscal. "Eu prego uma harmonia entre política monetária e fiscal desde o primeiro dia", garantiu.

 


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