Livre Comércio

Líderes políticos e empresariais europeus defendem acordo com Mercosul

Pressão é para que a União Europeia supere impasse com França e Itália e confirme acordo comercial com Mercosul em janeiro

Apesar do recuo de última hora da Itália, que se uniu à França para evitar a aprovação do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, líderes políticos e empresariais do bloco europeu acreditam que o tratado será assinado em janeiro com os parceiros sul-americanos.

Em Bruxelas, sede da Comissão Europeia, apesar dos protestos de agricultores contrários à abertura do mercado local aos produtos do Mercosul, a expectativa, segundo fontes diplomáticas, é que o acordo — negociado há quase 27 anos — seja aprovado pela maioria dos países e assinado com o Mercosul em 12 de janeiro do ano que vem.

“Depois de 26 anos de negociação, creio que um atraso de três semanas é algo tolerável”, disse a presidente da Comissão Europeia — braço executivo da União Europeia —, Ursula von der Leyen, na capital belga. “Estou confiante de que teremos a maioria necessária”, completou, em entrevista aos jornalistas que cobrem as reuniões da cúpula do bloco europeu. Para que o acordo seja aprovado, a Comissão Europeia precisa de maioria qualificada dos países-membros, no caso, o voto favorável de 15 países que somem, no mínimo, 65% da população do Continente. Sem França e Itália, essa maioria não é atingida.

Para o presidente da França, Emmanuel Macron, a aliança temporária com Meloni representa uma vitória de quem se opõem ao acordo comercial. A união dos dois países — que só ficam atrás da Alemanha em número de habitantes no Continente — pode viabilizar o mecanismo de minoria de bloqueio, barrando a assinatura do acordo.

Macron — que também sofre pressão política dos agricultores franceses — disse que ainda é “muito cedo” para decidir se a França vai mudar de posição e aceitar o acordo com o Mercosul. “Espero que sim, porque isso significaria que teríamos feito progressos que, em alguns casos, seriam históricos”, comentou o presidente francês, ontem, em Bruxelas. Mas ele exige mudanças ainda mais profundas nos instrumentos de salvaguarda contra a competição com os produtos sul-americanos.

Na quinta-feira (18/12), a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, pediu mais tempo para negociar novas salvaguardas aos produtores rurais. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, chegou a telefonar para a chefe de governo italiana para tentar destravar a assinatura do acordo, marcada para este sábado (20), em Foz do Iguaçu, na Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul. Meloni, porém, pediu para que Lula encaminhasse aos sócios do bloco o pedido de adiamento.

Ontem, Meloni reafirmou que o governo italiano vai superar o impasse com os agricultores e aderir ao tratado de livre comércio, que, se aprovado, vai criar o maior bloco econômico do planeta, com um mercado consumidor de 722 milhões de pessoas.

Lobby empresarial

Maior organização empresarial da Europa, a BusinessEurope criticou a decisão da Comissão Europeia de adiar para janeiro a assinatura do tratado comercial com o Mercosul. Em nota, o diretor-geral da entidade, Markus J. Beyrer, declarou que o adiamento foi “uma má notícia” para as empresas europeias. “Mais uma vez, a UE está adiando um acordo vital para os seus interesses econômicos e geopolíticos.”

Para o executivo, a parceria com o Mercosul “é crucial para reforçar a competitividade e a autonomia estratégica da União Europeia” e que, em um “ambiente geoeconômico cada vez mais marcado pela incerteza, é essencial diversificar as relações comerciais e proporcionar às empresas europeias novas oportunidades”. Ele conclui que a possibilidade de acessar um mercado de 270 milhões de habitantes (nos países sócios do bloco sul-americano) “é uma oportunidade que a União Europeia não pode perder”.

“Instamos todas as partes a chegarem rapidamente a um acordo sobre uma data para a assinatura, que possa finalmente impulsionar o processo de ratificação (do tratado). A credibilidade da União Europeia como um parceiro comercial confiável está em jogo. Após mais de 26 anos de negociações, a finalização do acordo UE-Mercosul é essencial para reforçar a competitividade, a autonomia estratégica e a capacidade da Europa de moldar as regras globais em consonância com os seus valores. Agora é a hora”, conclamou Beyrer.

Fundada em 1958, a BusinessEurope representa 42 federações empresariais nacionais de 36 países da área de influência da UE. Outras organizações representativas do setor econômico europeu, como a BDI (que representa a indústria alemã) e a Câmara de Comércio da Alemanha, também se mostraram frustradas com o adiamento do acordo e tornaram públicas as suas posições favoráveis à abertura de uma zona de livre comércio com a América do Sul.

A secretária-geral das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad), Rebecca Grynspan, fez coro com o empresariado europeu, ao lamentar mais um adiamento do acordo. Ao participar de um seminário na Espanha, ela disse que a UE “não vai ser uma parceira confiável” se rejeitar a união com o Mercosul. Segundo ela, o acordo de livre comércio pode reduzir as tarifas de mais de 91% dos produtos europeus exportados para os países do Mercosul.

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