FUTEBOL INTERNACIONAL

Como o futebol português trabalha para deixar de ser mercado periférico

Vitórias de Benfica e Sporting contra Juventus e Tottenham na rodada da Liga dos Campeões e o respeito à seleção lusitana em torneios de ponta refletem o longo processo de evolução

Paulo Martins*
postado em 17/09/2022 11:36
Vitórias como a do Benfica sobre a Juventus não são eventos raros nas competições de ponta do Velho Continente -  (crédito:  AFP)
Vitórias como a do Benfica sobre a Juventus não são eventos raros nas competições de ponta do Velho Continente - (crédito: AFP)

O Campeonato Português é tratado como liga de segunda classe no futebol europeu. Embora Benfica e Porto tenham dois títulos da Liga dos Campeões cada um; e o Porto outros dois na Liga Europa, além de dois títulos mundiais na era da Copa Intercontinental, os clubes são pouco cotados entre os favoritos aos títulos continentais. Porém, tanto as equipes como a seleção nacional mostram evolução. Benfica e Sporting venceram Juventus e Tottenham, respectivamente, na rodada desta semana da Champions League.

Hoje sobram bons exemplos de jogadores lusitanos espalhados entre os principais times do mundo. O Paris Saint-Germain tem Vitinha, Danilo Pereira e Nuno Mendes. O Manchester City conta com Bernardo Silva e João Cancelo. O United ostenta Diogo Dalot e Bruno Fernandes, além do astro Cristiano Ronaldo. O Milan emprega Rafael Leão. Estes são apenas alguns exemplos do que pode vir a ser a esquadra portuguesa na Copa do Mundo.

A juventude da maioria dos jogadores mostram uma outra faceta do futebol lusitano. Desde a ótica brasileira, Portugal sempre foi uma relevante vitrine. A realidade, entretanto, dá uma visão diferente do que tem se tornado a liga portuguesa: um campeonato em crescimento interno e celeiro para as principais competições.

Isto não porque o Benfica bateu uma reforçada Juventus em Turim (2 x 1) ou porque o Sporting dominou e bateu o Tottenham no José Alvalade por 2 x 0. A verdade é que a terra do fado tem revelado bons jogadores e crescido financeiramente, tal e qual o futebol brasileiro. Esse efeito deve ser ainda mais visto nos próximo anos, uma vez que até o Campeonato Brasileiro é mais valioso do que a liga lusa.

De acordo com dados do site Transfermarkt, o Campeonato Português vale 1,1 bilhão de euros, enquanto o Brasileirão, 1,28 bi. Comparando as formações mais ricas, nenhum time brasileiro ultrapassa os 200 milhões, ao passo que o Porto (245 mi), o Benfica (238 mi) e o Sporting (219 mi) superam esse teto. A realidade mais próxima do futebol sul-americano é a do Braga. Considerado quarta força portuguesa, vale 109 milhões.

O portal dá conta de que os únicos brasileiros que ultrapassam a marca centenária em euros são o Palmeiras (175 mi), o Flamengo (149 mi), o Atlético-MG (121 mi) e o Corinthians (102 mi). Considerando os jogadores mais valiosos, em comparação ao Brasil, os 10 primeiros da lista portuguesa estão taxados com valor superior aos 20 milhões. No Brasil, essa cotação é restrita ao volante palmeirense Danilo e ao centroavante flamenguista Gabriel.

Dentro das ligas europeias, um campeonato semelhante ao de Portugal é o holandês, em termos numéricos: a Eredivisie tem valor de 1,02 bilhões de euros, sendo puxado pelo trio Ajax, PSV e Feyenoord, avaliados acima dos 200 milhões, cada. Em relação às demais ligas do continente, a distância é bem maior neste parâmetro: o Campeonato Inglês, mais valioso do mundo, tem peso de nove bilhões, seguido pelo Espanhol, Alemão, Italiano e o Francês.

Com os resultados indicando-se melhores que o fator financeiro, Portugal tem tudo para alcançar o status de liga valiosa dentro da Europa. Nesta segunda rodada de Champions League, as provas foram dadas, assim como a seleção lusa em campo, com o título recente da Euro-2016 e da Liga das Nações.

Apenas tropeços pontuais, como os 4 x 0 sofridos pelo Porto, frente aos belgas do Brugge, no Estádio do Dragão ou uma derrota dentro do país contra a Sérvia (o que forçou as eliminatórias para o selecionado do técnico Fernando Santos) podem comprometer um desempenho promissor dos clubes e da camisa portuguesa.


Toque brasileiro

A lógica de vitrine para a elite mundial desde o futebol brasileiro (ou uruguaio, que revela muitos bons atletas para uma população de 3,5 milhões de pessoas, como no exemplo do ex-Benfica Darwin Núñez, hoje no Liverpool) pode ter sido inspiração para Portugal revelar bons jogadores em escala industrial como na América do Sul. Além destes fatores, a proximidade continental e de calendário e a utilização do euro pesam a favor desta mecânica.

Apesar desta ideia, já sem tantos jogadores naturalizados como os exemplos bem-sucedidos de Pepe e Deco, o jogador mais valioso da Liga de Portugal é um brasileiro naturalizado como português. Otávio, um atacante que joga mais pelo lado esquerdo do ataque do Porto, anotou cinco gols e deu 14 assistências na temporada 2021/2022. A contribuição deu ao time da Cidade Invicta mais um título nacional, fazendo do paraibano de João Pessoa o mais caro, avaliado em 30 milhões de euros.

A era nascente nasce de um intercâmbio de ideias com o Brasil, que evoluiu para mandar no continente americano com experiências de técnicos portugueses como Jorge Jesus e Abel Ferreira. Triunfos como os do Benfica e do Sporting na rodada da Liga dos Campeões contaram com gols brasileiros: os tentos fatais para a vitória encarnada e leonina foram anotados por David Neres e Arthur, respectivamente.

A nova fase do pensamento da safra de técnicos lusitanos espalhados pelo mundo, mesclado com a habilidade do futebol brasileiro diz muito sobre o crescimento de ambos países e seleções que, inclusive, têm chance de se cruzar na Copa do Mundo, pela proximidade nos grupos G e H.

 

* Estagiário sob supervisão de Marcos Paulo Lima

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