A rivalidade entre Flamengo e Corinthians é responsável por balançar a maior quantidade de corações no país. A dupla alcança aproximadamente 77 milhões de pessoas de norte a sul, incluindo o Distrito Federal, e proporcionam situações dignas da magnitude do esporte. E os irmãos gêmeos Matheus e Gabriel Medeiros protagonizam uma delas. Compartilhando diversas semelhanças físicas desde os primórdios da vida, eles têm algo capaz de colocá-los em lados opostos: os clubes do coração. Um é flamenguista, o outro, corintiano. Hoje, no encontro das 16h, no Maracanã, pela Série A do Campeonato Brasileiro, os parceiros vão, mais uma vez, sentir a emoção à flor da pele pelas paixões distintas.
O amor pelo futebol nasceu com os irmãos, mas a devoção de cada um deles pelo clube de coração surgiu de formas diferentes. Para o corintiano Gabriel, a influência veio da irmã mais velha. O flamenguista Matheus foi "escolhido" pelo time carioca. "Desde pequeno, a gente sempre gostou muito de futebol. Jogava o dia inteiro, acompanhava, mas eu não tinha time. Lá em casa, minha irmã era corintiana. Então, me espelhei nela e me apaixonei. Não lembro exatamente quantos anos eu tinha, mas era novo, sofri no ano do rebaixamento", conta Gabriel. "Lembro dele chorando. Já era fanático", acrescenta Matheus.
"O Flamengo me chamou a atenção antes mesmo de começarmos a acompanhar mais. Talvez tenha tido a influência de outros familiares flamenguistas, mas sempre tive olhos para o clube", compartilha o rubro-negro. O pai dos gêmeos, no entanto, viu-se na encruzilhada por ser torcedor do Palmeiras. Segundo os irmãos, o patriarca fica na expectativa pelo empate em jogos entre Flamengo e Corinthians, mas o clima familiar sempre foi amistoso. Não costuma haver provocação de nenhum lado. "A gente nunca brigou por isso. Tem um carinho recíproco por ser o clube do meu irmão e vice-versa. Quando acontece de o Flamengo cair e de o Corinthians passar, torço por eles para ver meu irmão feliz", revela o flamenguista.
A divergência fica por conta da expectativa de cada um para o confronto de hoje. Há quatro jogos sem perder, o Corinthians deixou Gabriel esperançoso. Ele, no entanto, reconhece: o retrospecto recente não é dos melhores contra o adversário do dia. Nos últimos 15 encontros, foram nove vitórias cariocas, duas paulistas e quatro empates, com título da Copa do Brasil em 2022 para os cariocas. Na visão do rubro-negro, o clima é de pouco otimismo para o Flamengo.
Coração dividido
Se em Brasília os irmãos estarão de lados opostos, um personagem tem tudo para ter o coração dividido no Maracanã. Campeão da Libertadores e do Mundial pelo Corinthians em 2012, Tite trabalha para construir uma relação com o Flamengo. A fase, porém, não é das melhores. O treinador convive com pressão após a sequência de resultados negativos. Os gêmeos compartilham visões distintas sobre o ex-técnico da Seleção.
Mesmo com a turbulência, Matheus é favorável à permanência do gaúcho no Flamengo. "Gosto muito do Tite. É um técnico muito bom, mas é um cara teimoso. Ele morre abraçado com as ideias dele, por mais que o prejudiquem. Espero que não seja demitido. Basta encaixar as ideias com os jogadores", analisa. "O Tite é um técnico muito grande. A trajetória dele fala por si só. Tem muita capacidade, mas precisa ser mais inteligente, testar coisa nova. Se ele ficar apegado a essas ideias, não vai dar certo", opina.
Gabriel relembra com carinho o trabalho do treinador no Corinthians, apesar de ter recusado o clube no ano passado. "Não julgo o Tite. O Flamengo tem um elenco e uma estrutura muito boa. Não tem quem não queira treinar lá. A gente queria muito ele de volta. Fica uma mágoa, mas não tem como não ter aquele sentimento de gratidão. Ele fez história. Acho que não vai ser demitido, mas, se for, não seria de tudo ruim, ainda mais pelo carma do Vítor Pereira", brinca o alvinegro, citando o técnico português, outro com passagens por Corinthians e Flamengo.
Na visão dos irmãos, a identificação do técnico com o clube paulista é algo pela qual ele ainda terá de correr atrás. "O DNA do Flamengo é do cara que briga, que vai para cima. Falta um pouco disso, ele abraçar mais, entender como é clube para poder se encaixar", palpita o flamenguista. "No Corinthians, estávamos acostumados a viver no sufoco. O importante era ganhar. A torcida precisa entender, precisa ter cobrança, ainda mais por ele ter o melhor elenco do Brasil. É uma via de mão dupla. O Tite é a cara do Corinthians", ressalta o corintiano.
Independentemente das opiniões, o combinado é assistir ao jogo unidos. "O futebol é importante na nossa relação. Sempre tentamos nos encontrar. Não moramos mais juntos, mas toda semana é lei. Domingo é dia de assistir a uma partida com meu irmão", conta Matheus. Na hora dos pitacos, o coração fala mais alto. "Vai ser aquele 2 x 1 sofrido para o Flamengo", prevê o rubro-negro. "Vai ser no padrão Corinthians, aquele 1 x 0, gol do Yuri Alberto", crava o alvinegro.
Estagiários sob supervisão de Danilo Queiroz e Victor Parrini
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