Rio de Janeiro — O direito de ir e vir ao estádio com a camisa do clube do coração é respeitado pelo menos uma vez no ano sem o pânico da violência nos estádios. A vigésima edição do Jogo das Estrelas neste sábado, no Maracanã, promovido por Arthur Antunes Coimbra, o Zico, desde 2004, foi uma espécie de grito de liberdade para quem ama a paz, não a guerra.
Dentro das quatro linhas o time vermelho do Galinho de Quintino derrotou o branco por 7 x 6 diante de 40.157 torcedores em uma noite de festa. O anfitrião fez o dele em cobrança de pênalti aos 71 anos no duelo à parte com Carlos Germano, que havia defendido cobrança do dono da festa em outra edição. Antes, deu a honra do pontapé inicial a Renato Aragão, o Didi, embaixador do Unicef no Brasil, e emocionou-se nas homenagens póstumas aos amigos Adílio e Mário Jorge Lobo Zagallo e aos jornalistas Antero Grego, Sílvio Luiz e Washington Rodrigues, o Apolinho.
"Estamos felizes por chegar à 20ª edição com tanta gente confiando na nossa credibilidade e o legado. Mérito do meu filho que acreditou nesse projeto. Estou muito feliz pela criançada, a garotada que nunca viu parte desses jogadores em campo" Zico, anfitrião do Jogo das Estrelas
Fora das quatro linhas, torcedores chegavam ao Maracanã engajados pela paz nos estádios. Era fácil encontrar fãs vestindo a camisa dos quatro clubes cariocas harmonicamente, sem a mínima intervenção da polícia. Encontravam-se dentro e nos arredores do estádio pacificamente. Turistas do Brasil e do mundo ostentavam uniformes de times paulistas, mineiros, gaúchos, nordestinos e europeus sem medo de ser feliz.
Em um canto do estádio, os amigos cariocas Bruno Lessa, torcedor do Vasco, e Raphael Martins, fiel ao Flamengo, lanchavam juntos em harmonia. "Somos parceiros de anos, de trabalho, mas é fundamental a liberdade vir ao estádio andando tranquilo na rua, não somente em jogos festivos. A competição fica para dentro do campo", afirmou o rubro-negro Martins em entrevista ao Correio Braziliense.
Bruno Lessa endossa as palavras do colega flamenguista. Para quem gosta e ama futebol, não é só futebol. É muito mais do que esporte. É você encontrar o teu ídolo, independentemente do clube no qual ele joga. Hoje ele joga contra o seu time, amanhã está seu. O futebol cria amizades e vai na contramão do que algumas vezes a gente vê, de violência. Essas pessoas não gostam de futebol".
O garoto Rui Davi, de 14 anos, estava feliz da vida por usar a camisa número 2 do Fluminense na festa de Zico. Acompanha pelo pai, o tricolor curtiu o clima de paz. "Aqui não tem ninguém querendo agredir a gente. É seguro", disse enquanto saboreava tranquilamente um lanche.
Mora de Águas Claras, em Brasília, Leonardo Gonçalves veio ao Rio de Janeiro com o filho Lorenzo, de quatro anos, para o pequeno conhecer o Maracanã. O herdeiro orgulhava-se da camisa branca do time das Laranjeiras. "É muito importante essa convivência tranquila no estádio. Nos últimos anos houve muita briga, bagunça. Em jogo desse, a gente pode vir com a camisa do nosso time e trazer o filho pela primeira vez para conhecer o Maracanã vestido com o manto tricolor sem provocações", disse Gonçalves em entrevista ao Correio.
Em alto depois dos títulos da Libertadores e da Copa do Brasil, o casal de namorados João Pedro Carreira e Luiza Santos ostentava a camisa do Botafogo no Maracanã. "Virei torcedor há pouco tempo, mas sempre de longe por causa da inimizade. Estou me sentindo confortável aqui. É bonito ver todo mundo junto. O fato de ser um evento festivo afasta o risco de briga", pondera.
"Embora não seja um jogo convencional, independentemente da torcida, mostra o amor pelo futebol. Independentemente da cor da camisa, estamos todos unidos em um evento beneficente", afirmou Luiza Santos.
*O jornalista viajou a convite da Bradesco Seguros