Futebol

Times de Minas Gerais são reflexos da evolução das SAFs no Brasil

Elite de Minas Gerais é o principal exemplo da evolução das SAFs no Brasil. Entre os 12 participantes do torneio, sete operam no modelo, outros quatro vivem o sonho de transição de gestão e um está no meio termo do clube-empresa

Elite de Minas Gerais é o principal exemplo da evolução das SAFs no Brasil -  (crédito:  Pedro Souza/Atletico)
Elite de Minas Gerais é o principal exemplo da evolução das SAFs no Brasil - (crédito: Pedro Souza/Atletico)

Um dos torneios estaduais mais importantes e prestigiados do calendário brasileiro, o Campeonato Mineiro de 2025 será uma prova inconstestável da mudança de paradigmas administrativos vivenciados no esporte do país através da ascensão das Sociedades Anônimas de Futebol (SAFs). Nesta edição da disputa, mais da metade dos 12 clubes envolvidos na luta pela taça são geridas na pegada empresárial. São sete a trabalharem no modelo. O fato é histórico e faz a competição de Minas Gerais, com pontapé inicial marcado para hoje, ser a primeira a alcançar tal patamar em todo território nacional.

Os clubes mineiros têm sido os mais atraídos pelo eudorado prometido pelas SAFs. Times da Série A do Campeonato Brasileiro e maiores vencedores do estado, Atlético-MG e Cruzeiro operam desta forma há algumas temporadas. Representantes do estado na segunda divisão do país, América-MG e Athletic seguem o mesmo caminho. A rota também foi adotada por clubes menores de Minas Gerais: Betim, Itabirito e Pouso Alegre fecham a lista das sociedades na competição e sonham em alcançar uma gestão profissional e eficiente para colher resultados dentro dos gramados, a começar pelo âmbito regional.

Nem mesmo quem ainda carrega o status de associação surge como um defensor pleno do modelo tão tradicional e difundido por tantos anos no futebol brasileiro. Enquanto o Tombense atua como clube-empresa — uma espécie de meio-termo entre o associativo e o empresarial —, os demais estão no meio do caminho para, em breve, também se transformarem em SAF. Uberlândia, Aymorés, Villa Nova e Democrata GV possuem, ao menos, um projeto inicial para trocarem o modelo administrativo em um futuro não muito distante. Ou seja, a tendência de empresa certamente vai aumentar o domínio no Campeonato Mineiro nas próximas temporadas.

As SAFs, porém, também vivem períodos de altos e baixos no âmbito esportivo e os dois maiores clubes do estado são os melhores exemplos disso. Antes voraz no mercado da bola e quase inalcançável pelos adversários mineiros, o Atlético-MG amargou vices da Copa do Brasil e da Libertadores em 2024 e mudou os rumos. Como não vai participar do principal torneio de clubes da América do Sul neste ano, o Galo precisou conter gastos. Assim, perdeu boa parte do elenco profissional, incluindo o atacante Paulinho. Se até o jogador tinha status de inegociável e primordial no alvinegro, o cenário de menor arredação em campo o fez ser vendido ao Palmeiras, por 18 milhões de euros (R$ 115 milhões na cotação atual).

O Cruzeiro vem no outro lado da onda e vive uma temporada de amplo crescimento nos investimentos. Apenas na janela de meio de ano, a Raposa investiu mais de R$ 100 milhões no elenco e mudou o patamar de competitividade entre os clubes no Brasil. Agora, o time celeste conta com nomes de peso no grupo, como os atacantes Gabigol e Dudu, o lateral-direito Fagner e o zagueiro Fabrício Bruno. Todos chegaram neste ano para qualificar um elenco baladado por contar com peças como o goleiro Cássio e o meio-campista Matheus Pereira. Agora, resta ao clube fazer o valor gasto falar mais alto nos gramados.

Domínio

A troca de posições entre Cruzeiro e Atlético-MG pode iniciar uma nova ordem em Minas Gerais. O antigo dominío do Galo rendeu uma hegemonia no estadual. O clube alvinegro vem de um pentacampeonato consecutivo e sonha em repetir o hexa conquistado entre 1978 e 1983. Principal candidata a impedir o feito, a Raposa jamais conseguiu enfileirar seis taças estaduais, por exemplo. O pior: o time celeste não fica no topo do estado desde a longínqua temporada 2019, quando iniciou uma impressionante derrocada responsável por deixar a equipe três anos na Série B do Brasileirão.

Com pensamento empresarial enraizado, o Campeonato Mineiro é o maior exemplo de como o futebol brasileiro está seduzido pelo ideal de troca do modelo de gestão. Os investimentos, no entanto, irão se chocar e não serão suficientes para garantir a vitória. Além dos projetos, os fatores de campo terão voz ativa para definir o campeão de Minas Gerais.

Danilo Queiroz
DQ
postado em 18/01/2025 06:00
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