Eduarda Westemaier Ribera é a primeira mulher brasileira confirmada nos Jogos Olímpicos de Inverno de Milão-Cortina, em 2026. É nova, talentosa, mas não se deixe enganar pela idade. Embora tenha nascido em Jundiaí em 21 de novembro de 2004, não desfilará pela primeira vez nos tapetes brancos da neve que impulsiona o esqui cross-country. Ela desembarcará nos alpes italianos com a bagagem da experiência na edição gelada da Olimpíada em Beijing-2022, após ser chamada às pressas para substituir Bruna Moura, devido a um acidente de carro. Fruto de muito trabalho e de uma insistência de quem treinou "escondido" em um passado não tão distante.
Quem assistirá a Duda nas provas de sprint 1,5km e 10km em Milão-Cortina talvez não saiba como a história começou, em 2015. Em entrevista ao Correio, ela relembra quando o projeto social Ski na Rua buscava atletas paralímpicos em Jundiaí. Como não há neve no interior paulista, a base da modalidade é o rollerski, a versão sobre rodas no asfalto. O irmão dela, multicampeão do cross-country na categoria sitting, Cristian Ribera, nasceu com artrogripose, uma doença congênita das articulações das extremidades, destacou-se e tornou-se um dos principais nomes do cenário. Hoje, ele lidera o ranking internacional. Duda também se apaixonou, acompanhou o mano nos treinos até um treinador prometeu: "Traremos uma bota escondido para você e a deixaremos testar".
Para quem observava atentamente aos passos do irmão, a adaptação foi rápida. Claro, caía, mas levantava e seguiu até um momento em que a relação não poderia mais ser mantida em segredo. "Após três meses, disseram que teriam de contar sobre uma atleta de Jundiaí que estava treinando um 'pouco' escondida. Depois de seis meses, eu viajei para neve, para Argentina e Chile, aos 12 anos, e daí eu só fui", relata Duda. Hoje, ela tem diversos feitos para se orgulhar. Aos 15 anos, disputou os Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude, em Lausanne-2020, na Suíça. Perdeu as contas de quantos títulos nacionais de rollerski conquistou. Também celebra ser a brasileira com melhor resultado em uma prova no Mundial de cross-country, em Trondheim, Noruega, com a 65ª posição no sprint.
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Embora as medalhas ainda não tenham vindo, Duda enxerga evolução e gostaria de mais apoio. "Se tivéssemos mais oportunidades, igual aos outros esportes, acho que isso seria bem legal, porque não tem como conseguirmos medalha na neve, se não temos neve, principalmente para os olímpicos. Essa realidade está bem longe, pelo menos de nós, que treinamos no Brasil. Se pudéssemos ter uma estrutura a mais e um apoio maior para ficarmos muito mais tempo na neve, talvez um dia daria", reconhece.
As chances de subir ao pódio em Milão-Cortina são remotas, mas a edição será especial pela proximidade com a família. "Será a primeira vez que meu pai e minha mãe poderão viajar para fora do Brasil, e eles estarão nos acompanhando de pertinho. Está sendo a melhor sensação do mundo, de poder proporcionar aos meus pais uma experiência incrível, de estarem na neve num evento tão grande. Acho que está sendo melhor ainda, porque eu vou ter todos eles, o meu namorado, a minha psicóloga, os meus dois irmãos", celebra. A edição gelada da Olimpíada no próximo ano será a segunda que terá o privilégio de dividir com o irmão Cristian. Eles dividiram a experiência na China, há três anos.
Duda é uma atleta consciente. Ela enxerga o impacto das mudanças climáticas no cenário dos esportes de neve. Testemunhou várias provas canceladas devido à falta de condição. "Iremos para Europa agora, dia 17, na segunda-feira. O lugar para o qual iremos está sem neve. Acho que deve ter um 1,5km de pista, mas é artificial. É preocupante ainda."
A modalidade
O esqui cross-country é a forma mais antiga de esquiar e surgiu na Escandinávia, a partir da necessidade de se percorrer longos trajetos cobertos por neve. Durante séculos, no norte coberto de neve, os esquis eram necessários para perseguir a caça e coletar lenha no inverno. Com longas distâncias entre as pequenas comunidades isoladas e invernos rigorosos, o esqui também se tornou importante como meio de manter o contato social. As provas têm de 2km a 50km.
