SALTOS ORNAMENTAIS

Evolução pela maternidade: Giovanna Pedroso busca sonho do LA-28 em nome do filho

Fato de ser sido mãe mudou a forma como a atleta enxerga a vida, a si e a carreira, como relata em entrevista ao Correio

Giovanna Gomes de Almeida Pedroso tinha 17 anos quando disputou, pela primeira vez, os Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro, em 2016, nos saltos ornamentais. Ficou fora de Tóquio-2020 e de Paris-2024, mas planeja retornar ao maior evento do esporte em Los Angeles-2028. Hoje, aos 27, orgulha-se de uma nova versão, mais madura, centrada. Uma das explicações, senão a maior, tem nome: o pequeno herdeiro Nicolas.

O filho de três anos é o principal motivo para a separação das carreiras de Giovanna. O fato de ser sido mãe mudou a forma como enxerga a vida, a si e a carreira, como relata em entrevista ao Correio. "Desde o nascimento dele, mudei e amadureci, foi quando muita coisa mudou na minha cabeça. Você tem de se reinventar. É tudo diferente, não vive mais só para si. Tem uma criança pela qual você precisa lutar. Antigamente, eu treinava, chegava em casa e descansava. Agora, não. Tudo que faço é pensando nele", conta. 

A maternidade gerou maturidade e provocou reflexões em Giovanna. "Falo com o meu técnico: se antes eu tivesse a cabeça que tenho agora muita coisa teria sido diferente. Mas estou muito na paz, entendendo muita coisa sobre a minha vida, sobre os meus sentimentos, sobre a minha cabeça", compartilha. Compreender que a carreira não teria fim devido ao nascimento do filho foi fundamental. A condição ainda é um tabu no esporte, mas está diminuindo. Mães-atletas são mais comuns em modalidades coletivas, como vôlei e futebol. 

Giovanna retornou aos saltos ornamentais em 2023. Passou praticamente dois anos longe da rotina de treinos e competições. Porém, o talento, a técnica e o trabalho intenso quatro meses depois de dar à luz a Nicolas foram importantes para voltar com o título de campeã do Troféu Brasil. "Meu técnico nunca tinha trabalhado com alguém que virou mãe. A primeira coisa que falei para ele foi: 'Estou grávida, mas voltarei'. Isso era uma certeza na minha vida. Não tinha opção de não voltar. Tanto que o meu parto sempre quis que fosse normal, devido ao esporte", explica. 

A promessa foi cumprida e Giovanna sente que não há limites no esporte nem na vida. "Quando você se torna mãe, parece que é capaz de tudo. Isso me ajudou muito no esporte também. No esporte, são muitos desafios. Na maternidade, também. Em tudo que vou fazer agora é realmente com muito mais consciência. Tenho mais certeza de tudo", reforça. A carioca da gema também participou das últimas duas edições do Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos, em Doha-2024 e Singapura-2025.

Ciente do que pode fazer e para onde ir, ela mira os próximos Jogos Olímpicos. "Meu principal objetivo é Los Angeles. Conseguimos recuperar muita coisa, principalmente em relação ao corpo. Eu olhava para o meu o técnico e falava que realmente não estava tão focada. Vi que precisava fazer do jeito certo, ou não iria para frente", analisa. 

Questionada sobre qual foi o maior desafio durante a jornada após se tornar mãe, Giovanna não pensa muito: recuperar a forma. "O físico foi o mais difícil para mim, porque quando tive o Nicolas engordei 20kg. O peso já era um problema. O mental, o negócio era o cansaço, que me pegava muito. Queria muito treinar e, às vezes, não conseguia. Cheguei a chorar várias vezes", confidencia. 

A maturidade de Giovanna se reflete nas escolhas fora do esporte. Ela decidiu se matricular na faculdade no meio do ano. Cursa educação física no modo semipresencial com duas matérias neste início, mas enxerga como um passo importante para o pós-carreira. "Era uma coisa que me pesava muito. Sempre treinei o dia inteiro, mas era uma coisa que me incomodava ainda, porque, poxa, estou com 27 anos. Uma hora, a vida de atleta acaba. Estou gostando tanto, que a minha vontade é de mudar para o presencial. Demorei muito para começar", enxerga. 

Em 2026, Giovanna celebra uma década da primeira participação em Jogos Olímpicos.  "Aquela fase foi uma muito, com muitos resultados, mas eu também era muito nova. Caramba, aos 17 anos, participei de uma Olimpíada. A primeira medalha no Pan foi com 16 anos. Só tenho lembranças boas. Quero viver aquilo ali de novo. Se eu novinha não tinha nem a cabeça que eu tenho hoje consegui. Imagina agora", imagina. 

Em 2023, Giovanna Pedroso faturou a medalha de bronze da plataforma sincronizada de 10m dos Jogos Pan-Americanos de Santiago, no Chile, ao lado de Ingrid Oliveira. Foi especial, pois reeditaram a dupla de prata na edição de Toronto-2015 e marcou a retomada da amizade. Elas se desentenderam após os Jogos do Rio-2016 e voltaram a conversar sete anos depois. "É muito difícil alguém conseguir abalar a nossa amizade. Só eu sei das coisas que acontecem e o quanto me faz bem ter a Ingrid por perto. Nossa parceria continua firme e forte", garante.

 


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