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Esporte tem um poder transformador como aliado da atividade escolar

Além dos benefícios à saúde e ao desenvolvimento da criança e do adolescente, a prática esportiva ajuda no bom desempenho escolar

Thays Martins
postado em 24/10/2021 06:17 / atualizado em 25/10/2021 15:37
Ex-estudante de educação física, Laiza Cassol (c) sempre incentivou as filhas, Eloá e Eloize, a praticarem esportes -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
Ex-estudante de educação física, Laiza Cassol (c) sempre incentivou as filhas, Eloá e Eloize, a praticarem esportes - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Durante as Olimpíadas e Paralimpíadas de Tóquio, o Brasil foi brindado com grandes performances de jovens atletas, como Rebeca Andrade, Rayssa Leal e Wendell Belarmino. Mas, para que eles chegassem lá, tiveram que conciliar o esporte com a vida escolar, já que começaram bem novinhos. Essa associação, inclusive, vai além do que formar atletas de alto rendimento. Segundo pesquisa feita nas universidades de Radboud, na Holanda, e de Edimburgo, na Grã-Bretanha, a prática esportiva ajuda a reter o conhecimento adquirido durante a aula.

Para o coordenador de Promoção da Saúde do Sesi-DF, Robson Feitosa, os benefícios são inúmeros. “Desenvolvido nas etapas corretas, o esporte, além de estimular o desenvolvimento motor e a coordenação, a habilidade, atua na parte cognitiva, do raciocínio lógico, na parte da ação social junto ao próximo, na questão do respeito. Ele ainda traz um benefício para o aprendizado, porque o aluno começa a prestar mais atenção, assimilar mais a matéria”, destaca.

Todos esses benefícios são percebidos pela estudante e atleta de alto rendimento Ágatha Amaral, 13 anos. Cursando o oitavo ano no Leonardo da Vinci, ela diz que é difícil conciliar a rotina de treinos com os estudos, mas que se organiza para dar conta. “Durante a semana, eu tento fazer os deveres. Às vezes, chego atrasada à aula por causa do treino, mas consigo acompanhar. E, nos fins de semana, tento compensar os estudos”, detalha.

Ágatha começou na natação 5 anos, inspirada pela irmã, que treinava. De lá para cá, quebrou recordes do DF e do Brasil. A mãe só vê benefícios. “Em termos escolares, por mais que ela tenha menos tempo, ela valoriza mais. É muito mais atenta na parte acadêmica e tem mais foco. Ela tem ótimas notas. O esporte nunca vai atrapalhar, sempre vai acrescentar”, afirma Adriana Amaral.

Mas, para que tudo dê certo, a mãe destaca a importância do papel do colégio. “Sem o apoio da escola, não é possível continuar no esporte. Ela precisa se ausentar das aulas para as competições, então, tem que ter outros momentos de estudo. As provas precisam ser aplicadas em outras datas”, exemplifica. “A escola tem que entender que não tem que formar só engenheiros, médicos e advogados. O mundo também precisa de artistas e atletas.”

Parceria


Segundo o professor Leonardo Siqueira Familiar, do Leonardo da Vinci, é exatamente essa organização que pode fazer a diferença na garantia do bom desempenho, tanto em sala de aula quanto no ginásio de esportes. “É muito importante que se crie uma rotina. Essa organização ajudará nas prioridades, e a família tem grande responsabilidade nisso.”

Marcello Ottoline, diretor de Educação Física da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEE-DF), explica que o apoio da escola é um desafio na formação de jovens atletas no Brasil. “O ideal seria uma escola que entendesse a necessidade do estudante e facilitasse a vida acadêmica. Mas isso elas não costumam dar a atenção”, lamenta. A questão é tão importante que é tema de estudo nas faculdades de educação física. Na Universidade de Brasília (UnB), desde 2018 o tema é analisado pelo Grupo de Pesquisa sobre Dupla Carreira Esportiva.

É exatamente esse apoio tão precioso que separa o desempenho brasileiro nas Olimpíadas e nas Paralimpíadas, segundo Marcello. Em Tóquio, o Brasil terminou em 12° nos jogos olímpicos e em 7° nos paralímpicos. “O país que entende a relevância do esporte na etapa escolar, geralmente, é um país que tem sucesso em Olimpíadas e Paralimpíadas. No Brasil, os atletas paralímpicos são acompanhados de perto pelo comitê paralímpico. O mesmo não acontece com os olímpicos”, lamenta.

O caminho


Não é à toa que a aula de educação física é uma das mais desejadas pelos alunos. Segundo Marcello, a prática de atividades físicas é essencial para a formação e o desenvolvimento do indivíduo, além do benefício para a saúde. “É da condição humana. Nós somos movimento. O direcionamento para essa prática na vida adulta vem da escola. Não tem como falar de saúde sem falar de prática esportiva. A escola tem como obrigação, pelo menos, apresentar as modalidades”, destaca.

E não tem idade certa para começar. “Quanto mais novo, melhor”, afirma o diretor da SEE-DF. Isso porque é logo no começo da infância que ela mais precisa ser estimulada. “No início, são brincadeiras: arremessar, receber, chutar, arrastar-se, tudo isso desenvolverá a habilidade motora. Na educação infantil, não se fala em esporte; no ensino fundamental, são atividades pré-esportivas, como queimada, pique-bandeira, e assim por diante”, explica.

No contraturno, Robson Feitosa alerta que é sempre importante observar qual atividade é recomendada para cada idade. “A gente precisa respeitar algumas fases. A partir dos 6 meses, o recomendado é a natação, na qual o bebê vai começar a entender os membros superiores e desenvolver a parte motora. Com uns 6 anos, pode ser o futsal e o futebol, para desenvolver a habilidade de correr e saltar. Ali pelos 7, a gente pode entrar com um vôlei, porque é quando começa a desenvolver o reflexo. Lutas também podem ser a partir dos 6 anos, para desenvolver um pouco de força”, exemplifica.

Para o professor Leonardo, o importante é a criança ser estimulada de diferentes maneiras. “Não existe uma fórmula para começar no esporte. É importante que comece desde cedo a se aproximar das vivências motoras. Quanto mais cedo oferecermos um ambiente rico em oportunidades de práticas de movimento diversificado, melhor. É muito importante que a criança vivencie uma grande variedade de movimentos motivadores e prazerosos”, afirma.

Treinos e estudos


Na rede pública de ensino, a prática esportiva é oferecida pelos Centros de Iniciação Desportiva (CIDs). Hoje, todas as escolas são cobertas com a oferta de, pelo menos, uma modalidade. As atividades ocorrem no contraturno, para estudantes de 6 a 17 anos, preferencialmente de escolas públicas, mas também são ofertadas vagas para estudantes de colégios particulares. Adeptas da prática nos CIDs da Candangolândia e do Riacho Fundo, as irmãs Eloá, 14 anos, e Eloize Cassol, 12 anos, fazem vôlei e badminton há quatro anos. “Eu fui conhecer o badminton e achei bem diferente. Nunca tinha visto. Eu vejo o esporte como uma oportunidade”, explica Eloá.

A grande incentivadora das meninas é a mãe, Laiza Cassol, que estudava educação física quando engravidou da primogênita, interrompeu a graduação na época, mas nunca deixou a paixão pelo esporte de lado. “A gente tinha esse interesse em colocá-las para fazer esporte, e elas se interessaram pelo badminton. Nas aulas, o professor observou que elas são altas, e recomendou o vôlei”, lembra.

Segundo Laiza, depois que elas começaram, mudou a concentração na escola. “Mudou a vida delas e a minha também, que sempre as acompanho. Além disso, diminui o risco de se envolverem com outras coisas, porque estão preocupadas em treinar.” A mãe explica que durante a pandemia, para as meninas não pararem os treinos, ela as levava para o ar livre para jogarem. Agora, nem todas as atividades voltaram por completo, mas os treinos já estão sendo realizados com o uso de máscara.

Nesse mesmo sentido, a Secretaria de Esporte e Lazer, em parceria com o Serviço Social da Indústria do DF (Sesi-DF), começou o projeto Centro de Excelência em Esporte. Nele, serão oferecidas aulas de cinco modalidades: natação, futebol, futsal, voleibol e futevôlei, para estudantes de 9 a 15 anos. As vagas são, preferencialmente, para estudantes de escola pública, mas também estão abertas para alunos das particulares.

As atividades começaram este mês, e ainda têm vagas para interessados. Por enquanto, 1.200 estudantes participam do projeto. A ideia é formar equipes de alto rendimento. “Nós fizemos testes com todos os alunos — peso, altura, coordenação, agilidade. Nos próximos meses, vamos comparar para ver o quanto evoluíram”, explica Robson. A equipe de treinamento é formada por cinco profissionais de educação física, uma psicóloga e uma pedagoga, que acompanham a parte mental dos jovens.

Um desses alunos é Luiz Felipe, 11 anos. Ele já praticava natação antes do projeto, mas, com a pandemia, a prática foi deixada de lado. O pai dele, Felipe Moura, explica que, com isso, o filho ganhou muito peso. Além disso, ele tem asma, então, a preocupação com a saúde moveu a vontade de voltar para o esporte. “Eu gosto de fazer por conta da minha respiração e sempre adorei piscina. Gostei de voltar, mas foi cansativo porque não lembro mais dos exercícios”, explica Luiz, que está no 5° ano. De acordo com o pai, os estudos e o esporte têm de andar lado a lado. “Eu vejo que melhorou até a questão da disciplina, o zelo com os materiais, isso está refletindo na escola. E lá em casa tem um acordo: a escola não pode falhar.”

Prejuízos?


Um dos grandes mitos em torno da prática de atividades físicas pelos pequenos é que ela poderá interferir no processo de crescimento dos jovens. Afinal, a maior parte dos ginastas são baixos e os jogadores de vôlei são altos, por exemplo. Sobre a questão, não há consenso. “Há estudos que dizem que atrapalha o crescimento, e há várias outras pesquisas que mostram que isso não é verdade. Eu acredito que não atrapalha, desde que seja bem orientado e de acordo com a idade”, afirma Robson Feitosa.

Para Marcello Ottoline, o que acontece, na verdade, é que o esporte seleciona aqueles com biotipo certo para seguir a carreira naquela área. “Geralmente, quem se sobrepõe é quem tem as características. O atleta que é baixinho tem vantagem na ginástica porque o centro de gravidade dele é mais baixo. Isso vale para todas as modalidades. Na natação, o tamanho do pé o coloca na frente. Tivemos alguns atletas que quebraram esses paradigmas, mas são exceção”, explica.

O mais importante, nessa questão, é que o esporte seja ensinado de forma a respeitar os processos da criança, e não sobrecarregá-la. “A gente orienta que a inclusão esportiva seja agradável, lúdica e prazerosa. Duas a três vezes por semana, no máximo. Consequentemente, não atrapalha os estudos. Agora, encher de atividades só esportivas, com certeza, não trará um ganho, pode prejudicar tanto no desporto quanto no rendimento escolar, por conta do cansaço.”

Para saber mais

» Centro de Excelência em Esporte
Onde: Sesi Taguatinga — Setor F Norte QNF 24
Inscrições: bit.ly/3oP3hoP (enquanto tiver vagas)

» Centros de Iniciação Desportiva (CID)
Mais informações: bit.ly/3atgnjm

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