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Semi-integral ou integral? Como escolher o sistema de ensino do filho

Na hora de matricular os filhos, muitos pais optam pelo sistema integral ou semi-integral. Decisão deve ser tomada após análise detalhada e de acordo com o perfil da criança

Ana Maria Pol
postado em 24/10/2021 06:16 / atualizado em 25/10/2021 15:36
Para Carlos Alberto, a decisão de pôr Lucas em horário integral só trouxe benefícios para o garoto -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Para Carlos Alberto, a decisão de pôr Lucas em horário integral só trouxe benefícios para o garoto - (crédito: Arquivo Pessoal)

U ma série de fatores conta na hora de definir qual é o período de ensino mais adequado para o filho. Os pais que estão indecisos entre as rotinas do integral e do semi-integral, por exemplo, precisam compreender o que caracteriza cada tipo de período e fazer uma avaliação detalhada, que, segundo especialistas, deve ir além da agenda e dos horários disponíveis da família. Os responsáveis precisam avaliar, principalmente, se a metodologia apresentada pela escola está de acordo com o perfil do estudante.

Para o especialista em avaliação da aprendizagem, professor da Universidade Católica de Brasília e membro do Conselho de Educação do Distrito Federal Cláudio Amorim, é preciso que os pais avaliem se os projetos vão ao encontro com o currículo da Secretaria de Educação do DF. “Eles precisam verificar se as propostas pedagógicas visam à formação do ser integral, que é aquele que tem responsabilidade, autonomia, equidade e sabe promover a sustentabilidade”, pontua.

Segundo Cláudio, a proposta pedagógica da escola, independentemente do tipo de período oferecido como serviço, deve prover o desenvolvimento emocional, cultural, social, intelectual e físico do estudante. “É preciso que o pai disponibilize tempo para que, além de usar o período da criança na escola como critério, possa conversar com a direção da escola para entender qual é o sentido dos projetos para formação de seus filhos, e qual tipo de cidadão que ele quer preparar para viver em sociedade”, ressalta.

Para além do período escolhido, o especialista explica que os tipos de projeto devem oferecer a educação integral, no sentido de ser uma proposta pedagógica que fomenta a participação de todas as partes — professores, alunos, família, diretores e funcionários em geral — na educação da criança e do adolescente. “Quando falo da educação integral, quero dizer que ela deve possuir características da Base Nacional Comum Curricular, que trará projetos e ações que agregarão determinados valores, habilidades e competências para formar um sujeito integral. Ou seja, vai trabalhar propostas que independem do tipo de período ou jornada”, completa.

Período integral


Com as longas jornadas de trabalho dos pais, a demanda pelo ensino em período integral tem aumentado nos colégios particulares. Isso porque a modalidade costuma atrair aqueles que não têm com quem deixar os filhos ou optam em oferecer atividades complementares supervisionadas. Entre as escolas que oferecem esse tipo de ensino, está o colégio Sigma, com o projeto Sigma Camp — contraturno especialmente criado para os alunos do infantil 2 ao 5º ano do Ensino Fundamental.

A coordenadora pedagógica do projeto, Daiane Farias, explica que esse tipo de período oferece aos estudantes a possibilidade de se dedicarem a uma jornada orientada para o desenvolvimento com atividades de movimento, lúdicas, artísticas e culturais. “A ideia do ensino integral é que as famílias fiquem seguras quanto ao ambiente em que as crianças estão, garantindo comodidade e a sequência da proposta pedagógica da escola. Damos continuidade aos processos que as crianças vivem no período regular”, diz.

De acordo com Daiane, um dos benefícios desse tipo de ensino é a fuga das telas. “As crianças que ficam em casa estão sujeitas ao uso maior de telas, enquanto na escola isso é controlado e, em alguns momentos, até evitado. E a gente percebe a diferença entre as crianças que ficam no período integral e as demais. Elas exploram coisas diferentes do que fariam em casa”, diz.

Segundo a coordenadora, os participantes do período integral tendem a ter um rendimento acadêmico maior. “O raciocínio e a curiosidade são fantásticos. As crianças que ficam no integral têm uma autonomia surreal. A comunicação desenvolta, a interação entre alunos e a relação com professores são diferentes”, ressalta.

Para o contador Carlos Alberto Torres Pires, 54 anos, a decisão de colocar o filho Lucas, 8, no ensino integral foi certeira. “Eu vejo que, hoje, o Lucas é muito mais decidido e resolvido do que alguns outros colegas. Tem uma resposta muito mais rápida, e isso vem em paralelo às atividades que ele exerce, porque enquanto alguns colegas estão em frente à televisão, ele joga bola, faz natação e outras atividades”, completa. Carlos explica que o filho sempre estudou nesse formato. “Tanto eu quanto minha esposa trabalhamos, e optamos por colocá-lo na escola, para ficar em um local no qual pudesse ser acompanhado por alguém com formação na área da educação, em vez de uma babá, por exemplo”, diz.

O pai conta que uma das preocupações da família era a falta de contato com o filho. “Ele estudava em outra instituição que não nos permitia acessá-lo durante o dia. Optamos em tirar e colocar onde pudéssemos ter esse acesso. Até o início da pandemia, tínhamos a oportunidade de almoçar com ele todos os dias”, diz. “Ele tornou-se um menino que aprendeu a dividir, que gosta muito das atividades que faz nesse contraturno. Não sei se conseguiríamos atingir tudo isso com uma babá”, pondera.

Semi-integral

Escolas que oferecem atividades regulares durante a manhã e, à tarde, mesclam exercícios obrigatórios com opcionais. Assim funciona a modalidade de ensino semi-integral. “É um tipo de atendimento para crianças que precisam de um horário um pouco mais estendido, seja um pedacinho da manhã, seja da tarde, porque os pais não têm disponibilidade em determinados horários por questões pessoais”, explica Carol Cianni, diretora do colégio Canarinho.

De acordo com ela, as crianças do período semi-integral ficam na escola das 7h às 15h ou das 11h às 19h. “Elas costumam almoçar, vão para o soninho e fazem alguma outra atividade com as assistentes.”

Para Carol, o período estendido dá uma segurança aos responsáveis. “O pai e a mãe sabem o que está acontecendo com a criança. Quando deixo com uma babá, não sei o que vai acontecer, aquilo foge do controle das famílias. Na escola, há um pouco mais de previsibilidade. E o colégio vai acompanhar o desenvolvimento da criança”, pontua. “Além disso, diferentemente do integral, os pais do semi-integral podem passar mais tempo com as crianças em casa.”

A segurança da rotina e a possibilidade de passar maior tempo de qualidade com as filhas motivaram a designer de interiores Stella Garcia Nogueira, 39, a dispensar a funcionária e colocar as crianças no período semi-integral na escola. A decisão veio por causa da demanda de trabalho. “Apesar dos horários, queríamos ter um tempo de qualidade com elas em casa, então optamos pelo semi-integral para ter um meio-termo”, explica.

Mãe de Carolina, 5, e Marina, 3, Stella diz que as meninas ficam das 7h30 às 15h na escola. “Eu as busco e, das 15h em diante, lanchamos em casa, fazemos brincadeiras. Às vezes, descemos para brincar no bloco, jantamos e ficamos juntos até a hora de dormir”, diz.

Antes, a rotina da família era diferente. “Tínhamos uma secretária, e ela ficava com as meninas meio período, mas, mesmo que fosse atenciosa e carinhosa, não havia didática. Ela ficava ali para dar os cuidados básicos, como banho, comida. Então, optamos pela escola para ter uma educação mais orientada, seguir uma pedagogia. Eu busco ser muito alinhada com a escola, estou sempre conversando com as orientadoras para estarmos em sincronia.”

De acordo com a designer, a mudança na vida educacional das crianças não afetou a organização financeira da família. “Eu tinha duas crianças no meio período e uma funcionária. Ao dispensá-la, o valor da mensalidade aumentou, mas, ainda assim, não houve muita diferença. Se tivesse optado pelo integral, gastaria mais. Mas foi preciso avaliar bem todas as variáveis”, pontua. Stela só vê benefícios. "A escola adota uma pedagogia em que a criança aprende de maneira lúdica, sem uma metodologia mecânica e repetitiva. Penso que elas se desenvolvem melhor, tanto na parte motora e intelectual quanto social, do que as que não frequentam. São crianças que se comunicam e se socializam melhor."

Os três modelos de ensino

» Regular: a criança passa cerca de cinco horas na escola, seja no período matutino, seja no vespertino, e estuda disciplinas da Base Nacional Comum Curricular.


» Semi-integral: a criança passa cerca de oito horas na escola e, durante o período matriculado,
cumpre o currículo regular. No turno contrário, participa de atividades extras.


» Integral: a criança passa cerca de 10 horas na escola e participa de atividades complementares supervisionadas, como esportes, reforço escolar, refeições e atividades diversas.

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