Educação

Cerca de 170 mil alunos voltam às aulas presenciais nesta segunda (31/1)

Diante do retorno das atividades presenciais na rede privada do DF, pais estão alertas à previsão de alta nos casos do novo coronavírus. Sindicatos divergem sobre retorno em modelo presencial e remoto

Pedro Marra
postado em 31/01/2022 05:53 / atualizado em 31/01/2022 11:23
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Com a volta às aulas presenciais, nesta segunda-feira (30/1), para aproximadamente 170 mil alunos em mais de 380 escolas particulares do Distrito Federal, mães e pais de alunos se mostram preocupados com o aumento de casos do novo coronavírus e com as condições em que os estudantes vão retornar às salas. Sindicatos divergem de opinião sobre o modelo de ensino adotado para o retorno, enquanto a Promotoria de Justiça de Defesa da Educação (Proeduc), do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), aguarda retorno da Secretaria de Educação do DF (SEEDF) sobre a divulgação do protocolo de segurança contra a covid-19 para colégios públicos e privados nesta pandemia.

Quem se preocupa com os cuidados sanitários é o estudante do 6º ano do ensino fundamental de uma escola particular da Asa Sul, Gabriel Borja, 11, filho da analista de projetos Fabiana Borja Alves, 45, moradora da região. A mãe relata que pretende deixar o filho voltar, hoje, às aulas "na cara e na coragem". "Com o retorno, vai ter a sala arejada, mas com a lotação máxima de alunos, e não vai ter como fazer o distanciamento social direito", analisa a mãe do aluno.

Fabiana esperava pela opção do modelo de ensino híbrido, mas a escola teve outra decisão. "Estão alegando que a maioria das crianças está sendo vacinada", relata. A mãe de Gabriel diz que o filho tem consciência dos cuidados contra o novo coronavírus. No ano passado, no recreio, o jovem deixava de comer com os amigos. "Ele ficava num canto e depois voltava para o grupo, para não ficar sem máscara perto deles", acrescenta. "Ele sempre vai de N95 (modelo de máscara)".

O presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições do DF (Aspa), Alexandre Veloso, declara que a entidade não compactua com o modelo do ensino remoto. "Precisamos esclarecer a questão dos protocolos, porque esse vírus vai ter muito mais transmissão entre os alunos, e a associação se preocupa com a garantia da reposição dessas aulas", afirma. Uma das sugestões de Alexandre é a gravação das aulas para os alunos terem "melhor aprendizado dos conteúdos perdidos", complementa.

Veloso adianta que a Aspa-DF pediu à Secretaria de Educação que apresente à comunidade escolar os protocolos de segurança que serão adotados no retorno do ano letivo de 2022. "Vale tanto para redes particular quanto pública, para saberem o que é ou não mais obrigatório", opina. "Provavelmente, a ômicron tem uma infecção mais fácil de ocorrer, e significa que toda turma precisará ir para casa, e essa parcela da turma vai ficar 14 dias isolada", finaliza o presidente da Aspa-DF.

Mãe do estudante do 8º ano do ensino fundamental Nícolas Mendonça, 12, a auxiliar de escritório Necy Mendonça, 39, teme um surto do novo coronavírus na escola do jovem, em Santa Maria. "Estou muito preocupada, porque ele ficou os dois anos no on-line, mas tomou as duas doses, o que me deixa um pouco mais esperançosa com essa volta em segurança", reconhece a moradora de Santa Maria.

Necy assegura que o filho é bem consciente quanto aos cuidados contra o vírus. "Ele pediu para comprar várias máscaras descartáveis", conta. Segundo ela, o colégio adota os principais cuidados sanitários, como salas ventiladas, distanciamento entre as cadeiras e limpeza das mochilas. "Ainda tem uma máquina de álcool em gel na entrada, onde vão entrar só os alunos", detalha. Necy teme um possível surto de casos na sala do filho, mas cita a dificuldade de dar atenção integral no dia a dia. "Vou deixá-lo nessa experiência, pois não tem como ele ficar em casa e eu não ir trabalhar", complementa.

MPDFT

Em 19 de janeiro, a Proeduc recomendou que a Secretaria de Educação adote providências para que as redes pública e privada de ensino voltem ao modelo presencial sem exigir dos alunos a vacinação contra a covid-19. "A Proeduc quer ainda que as escolas da rede pública não funcionem como locais de vacinação de alunos", diz o órgão. 

Ainda de acordo com a recomendação, a secretaria deve continuar a adotar os protocolos sanitários contra a covid-19 nas unidades educacionais do DF. A pasta deverá prestar informações à Proeduc sobre as providências adotadas para cumprimento da recomendação no prazo de 20 dias, que termina em 7 de fevereiro. A cópia do documento deve ser enviada ao Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinepe) para o comunicado ser divulgado às escolas privadas.

Máscara

Na opinião do vice-presidente da Sociedade Infectologia Distrito Federal (SIDF), Alexandre Cunha, o que deve ser cobrado no retorno às aulas é o uso obrigatório de máscara. "A questão da proximidade é secundária e menos importante do que a lotação da sala de aula, porque com mais crianças de máscara, é menos perigoso do que ter crianças conversando livremente sem máscara", analisa o infectologista.

O especialista orienta aos estudantes conversarem entre si utilizando máscara, e quando forem se alimentar ou beber água, devem manter distanciamento um dos outros. "Para as crianças menores, é mais difícil de colocar isso na cabeça delas, mas para as maiores conseguimos explicar a importância do distanciamento e orientar que, embora várias crianças estejam vacinadas, a agente ainda está em pandemia, que não acabou", complementa o vice-presidente da SIDF.

O diretor jurídico do Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinproep), Rodrigo de Paula aguarda um retorno do Governo do Distrito Federal (GDF) sobre a divulgação do protocolo de segurança sanitária contra a covid-19 nas escolas privadas e públicas. O pedido foi feito por meio de ata enviada ao Ministério Público do Trabalho (MPT), com prazo final para resposta na última sexta-feira. "Colocamos uma série de preocupações, porque vemos com bastante receio essa nova onda de casos (do novo coronavírus)", declara.

Rodrigo citou outra dúvida: "como fica para o aluno ou professor infectado, qual o prazo que devem ficar afastados?", indaga. Segundo ele, apesar de 25% das escolas privadas terem voltado em 24 de janeiro, o restante deve retornar nas semanas seguintes. "A categoria está bastante apreensiva, porque as crianças não foram totalmente vacinadas", esclarece o presidente do Sinproep.

Trânsito

O Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) divulga nesta semana cronograma operacional para a volta às aulas presenciais. Já a Polícia Militar informou que o policiamento será o mesmo realizado nos outros dias pelo Batalhão Escolar.

 

 

 

Cuidados sanitários das escolas

» Uso obrigatório de máscara

» Álcool em gel na entrada

» Distanciamento mínimo de 1,5m entre as cadeiras

» Entrada apenas de alunos e funcionários da escola

» Higienização das mochilas

» Afastamento dos trabalhadores da educação e estudantes que apresentarem sintomas da covid-19

» Ensino remoto

Na última quinta-feira (27/1), o Conselho Nacional de Educação (CNE), autorizou, junto ao Ministério da Educação (MEC), que as instituições do país retomem o modelo remoto caso tenha casos elevados de covid-19 nas escolas. A medida é uma exceção diante do aumento dos casos do novo coronavírus no país. "O retorno presencial às aulas e atividades educacionais deve ser a prioridade do país em relação à educação nacional de todos os níveis, considerando os déficits de aprendizado constatados desde o ano de 2020. No entanto, é absolutamente necessário adotar providências, ainda que temporárias e de curto prazo, para garantir a segurança das comunidades escolares, estudantes, professores e funcionários, suas famílias e do conjunto da sociedade inclusiva", afirma a resolução. 

De acordo com o documento, as instituições de ensino poderão decidir pelo adiamento da volta às aulas ou pela continuidade de oferta de aprendizado remoto nos casos de surto de covid-19 — quando há mais de três pessoas contaminadas no mesmo grupo em um período de 14 dias. 

Matéria atualizada nesta segunda-feira (31/1), às 11h19, em relação às informações do ensino remoto 

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação