Poluição

Poluição na sala de aula causa baixa no desempenho dos alunos, diz pesquisa

Estudo da FGV mostra ainda, que devido a essa baixa qualidade do ar, os estudantes podem ter tido um desempenho no Enem inferior ao previsto

Fernanda Strickland
postado em 22/11/2023 22:04 / atualizado em 23/11/2023 17:23
Poluentes atingem o sistema nervoso causando um estresse oxidativo, o que gera uma neuro inflamação e afeta de forma negativa as capacidades cognitivas -  (crédito:  Luis Nova/CB)
Poluentes atingem o sistema nervoso causando um estresse oxidativo, o que gera uma neuro inflamação e afeta de forma negativa as capacidades cognitivas - (crédito: Luis Nova/CB)
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Pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em Brasília constatou que o ar respirado por alunos e professores dentro das salas de aula, no Brasil, é poluído. O estudo mostra ainda, que devido a essa baixa qualidade do ar, os estudantes podem ter tido uma baixa de desempenho de até 76 pontos nos resultados de seus exames no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

“Constatamos uma média da poluição do ar por material particulado de 9,5 microgramas por m³ (9,5 g/m³) ao redor das escolas. Boa parte dessa poluição se infiltrou nas salas de aula. Esse valor é quase o dobro do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 5g/m³”, afirma o professor da FGV Brasília Weeberb Réquia, que liderou a pesquisa.

A pesquisa da FGV foi realizada entre os anos 2000 e 2020, e abrangeu 25.390 escolas de todo o país, com alunos matriculados do Ensino Médio. Para calcular as taxas de poluição, os pesquisadores utilizaram dados de satélite.

O professor da FVG, explica que esses poluentes atingem o sistema nervoso causando um estresse oxidativo, o que gera uma neuro inflamação e afeta de forma negativa as capacidades cognitivas.
“Nosso objetivo é apoiar a criação de políticas eficazes para melhorar a segurança, a saúde e o desempenho do aprendizado dos alunos. O ingresso nas universidades no Brasil é muito concorrido e pequenas variações nas pontuações dos exames determinam a aceitação para universidades em cursos específicos. Portanto, sugerimos que os investimentos futuros sejam focados na diminuição desses níveis de poluentes”, afirmou.

Segundo a EPA, Agência Proteção Ambiental Americana, a qualidade do ar interno pode ser de duas a cinco vezes pior que a do ar externo. “Inadequações na qualidade do ar em ambientes internos são reconhecidos pela OMS como fatores de risco para a saúde humana, acarretando absenteísmo, perda de produtividade, internações e mortes”, afirma Henrique Cury, membro do Qualindoor — Departamento Nacional de Qualidade de Ar Interno da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava) e CEO da Ecoquest.

Com o objetivo de tornar efetivas as políticas públicas que promovam a boa qualidade do ar interno, o Projeto de Emenda à Constituição (PEC) 007, de 2021, tramita no Senado. De autoria de senadora Mara Gabrilli, a PEC, atualmente na Comissão de Constituição e Justiça, inclui entre os direitos e garantias fundamentais o direito à qualidade do ar, inclusive em ambientes internos públicos e privados de uso coletivo. Segundo Cury, “será um marco e um divisor de águas para que políticas públicas e ações governamentais garantam a saúde dos brasileiros também nos ambientes internos”.

”Passamos a maior parte das nossas vidas em ambientes fechados e precisamos aprender a importância de medir e monitorar a qualidade do ar de forma contínua. Temos de encarar a qualidade do ar interno com a mesma seriedade com que tratamos a qualidade da água que bebemos”, afirma Leonardo Cozac, presidente da Sociedade Brasileira de Meio Ambiente e Controle de Qualidade do Ar de Interiores (Brasindoor) e CEO da Conforlab Engenharia Ambiental.

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