Conscientização

Povos originários levam cultura indígena para escolas públicas do DF

Iniciativa visa desconstruir estereótipos e divulgar a cultura dos povos tradicionais brasileiros por meio do encontro com estudantes. Ação ocorrerá durante todo o mês de abril em creches e escolas de ensino especial, fundamental e médio

Correio Braziliense
postado em 17/04/2024 06:00
 16/04/2024. Cr..dito: Minervino J..nior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Grupo Fulni-.. da etnia de Pernanbuco. ind..genas visitando a Escola classe especial de Sobradinho.
     -  (crédito:  Minervino Júnior/CB)
16/04/2024. Cr..dito: Minervino J..nior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Grupo Fulni-.. da etnia de Pernanbuco. ind..genas visitando a Escola classe especial de Sobradinho. - (crédito: Minervino Júnior/CB)

Por Júlia Giusti*

Alunos do Centro de Educação Especial (CEE) de Sobradinho viveram, ontem, um encontro marcante. Um grupo de indígenas Fulni-ô, povo tradicional de Pernambuco, envolveu a comunidade escolar em rituais de dança e canto. Na roda, os estudantes com deficiência aprenderam mais sobre uma das culturas originárias do Brasil à sua maneira: pela vivência.

Os Fulni-ô vão visitar creches e escolas de ensino especial, fundamental e médio durante todo o mês, em que se comemora o Dia dos Povos Indígenas, celebrado em 19 de abril. A iniciativa faz parte do Projeto Curumins, que atua na promoção da cultura indígena há 25 anos, buscando sensibilizar estudantes e professores sobre as comunidades tradicionais do país.

Este ano, o projeto pretende atender entre 20 e 30 escolas rurais e urbanas do Distrito Federal e Entorno. O projeto inova ao criar alternativas não conteúdistas para o estudo da história e cultura indígena nas escolas, como prevê a Lei nº 11.645, de 2008.

A ideia do projeto surgiu da época em que Pablo Ravi, arte-educador e idealizador do programa, trabalhava na Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). No local, havia um centro cultural que recebia escolas, mas ele sentia falta da presença dos indígenas para trocar experiências com os alunos. "Eu sentia muita necessidade de mostrar os indígenas se apresentando, porque tínhamos fotos, vídeos e artesanatos, mas não havia a presença deles. Então, quando terminou esse projeto, eu tive a ideia de marcar visitas em escolas", afirma. Ele conta que, no início, foi difícil manter o Curumins, pois a iniciativa não contava com apoio financeiro, mas agora, patrocinada pela Secretaria de Cultura do DF, realiza encontros nas escolas todos os anos.

Para o líder da comunidade Fulni-ô, Walê Ribeiro, a visita às escolas é uma rica oportunidade para "divulgar nossa cultura e levar um pouco da nossa história diretamente para os alunos". Ele acredita que o diferencial desse contato é despertar nas crianças o espírito da proteção ao meio ambiente, uma luta dos povos indígenas. "A gente procura levar nosso conhecimento sobre como cuidar da natureza, como não poluir os rios, como não desmatar, principalmente, para as crianças, que estão em fase de aprendizado", explica.

Integração

O Centro de Educação Especial (CEE) de Sobradinho atende estudantes de toda a região, de 0 a 60 anos. A supervisora pedagógica da escola, Alzira Alves, explica que o público é, principalmente, de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), deficiências múltiplas (DM) e intelectuais (DI). "Nosso foco é a inclusão deles na sociedade. A gente faz todo trabalho para que, fora da escola, eles possam ser tratados de maneira normal e, também, na parte escolar, para que eles sejam inseridos no ensino regular", diz.

A coordenadora do centro educacional, Lécia Fleury, descreve que, entre as atividades realizadas, os estudantes participam de oficinas artísticas, educação ambiental, informática e educação física. Nesta semana, em comemoração ao Dia Nacional dos Povos Indígenas, a escola está trabalhando a cultura dos povos tradicionais, então, trazer os Fulni-ô proporcionou a eles uma experiência "muito além de fazer uma atividade de escrita ou de pintura, porque você está integrando as duas culturas".

Maria Cleide Ribeiro, de 37 anos, é aluna no centro educacional desde criança, e conta que foi "muito legal ver os indígenas e conhecer os trabalhos deles". Ela conta que descobriu um talento em comum com os convidados: Maria também é artesã e vende pulseiras e tapetes que produz nas oficinas da escola, atividade que aprecia muito.

A conclusão vai ao encontro do objetivo do Curumins. Para Pablo Ravi, o contato entre os indígenas e a comunidade escolar é essencial na desconstrução de preconceitos e estereótipos em relação aos povos tradicionais. "Queremos mostrar para as crianças que os povos indígenas têm uma realidade próxima à delas. A gente traz vários brinquedos indígenas justamente para ir quebrando preconceitos que se formam na cabeça das pessoas. Os povos têm uma diversidade muito grande, então a gente não pode generalizar. Cada um tem seus costumes", afirma.

Durante os 25 anos do projeto Curumins, os indígenas Fulni-ô adquiriram experiência para lidar com as crianças nas escolas. Walê Ribeiro, líder da comunidade, relata que, geralmente, são recebidos muito bem pelos alunos, pais e educadores, mas houve vezes em que "os professores agiram com preconceito só porque eu tenho um celular, bermuda e relógio". Por isso, ele ressalta que é fundamental "tirar a nossa história do livro para contá-la pessoalmente".

Walê também compartilha que a visita no Centro de Educação Especial de Sobradinho foi diferente do que estão acostumados, já que lidar com alunos deficientes requer outras abordagens. Para ele, porém, o resultado foi um sucesso: "Foi gratificante para nós essa visita, pois sentimos a alegria deles em nos receber. Foi muito bom levar uma experiência nova para eles", fala.

Povo Fulni-ô

O povo indígena Fulni-ô vive em aldeias localizadas nas proximidades da capital de Pernambuco, Recife, em área demarcada, cedida pela princesa Isabel à época da Guerra do Paraguai. Sua população é de quase 6 mil habitantes. O idioma nativo é o yaathe, mas eles também falam português. Atualmente, vivem em duas aldeias, sendo uma delas reservada para os rituais, onde ficam por três meses ao ano. Os Fulni-ô fazem parte dos aproximadamente 305 povos indígenas espalhados pelo Brasil.

A programação de visitas às escolas do DF vai até 24 de abril, conforme o calendário a seguir:

Dia 17/4

Sobradinho

EC Sitio das Araucarias 10h30/13h30

EC BASEVI 8h/15h30

Dia 18/4

Planaltina

CEE 01 10h30/13h30

CEF 02 Arapoanga 15h/16h

Dia 19/4

Sobradinho

EC 16 10h30/13h30

EC Broxhado 8h/15h30

Dia 22/4

Planaltina

EC Pedra Fundamental 14/15h

JI Casa da Vivência 8h/15h30

Dia 23/4 - Planaltina

EC 03 10h30/13h30

EC 06 8h/15h30

Dia 24/4

São Sebastião e Sobradinho

EC 104 São Sebastião

CEF 01 Sobradinho

*Horário não divulgado

 *Estagiária sob a supervisão de Priscila Crispi

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