Por Gabriela Braz
Alunos do Centro de Ensino do Ensino Médio 111 do Recanto das Emas são finalistas do Prêmio Zayed de sustentabilidade. A premiação internacional ocorre nos Emirados Árabes Unidos e busca soluções sustentáveis e inovadoras ao redor do mundo. Cerca de 8 mil escolas de 173 países concorreram na mesma categoria, “Global High School”, e o projeto criado pelo Clube de Ciências do CEM 111 foi um dos selecionados para competir pelo primeiro lugar. Os jovens da equipe juntaram trabalhos de anos e aprimoraram seus conhecimentos, a fim de criar ideias ecológicas.
Nas próximas semanas, o Clube de Ciências do Cem 111 estará no preparo de relatórios, planilhas e projetos até o dia da apresentação final, que ocorrerá em janeiro durante a Semana de Sustentabilidade. O Prêmio Zayed de sustentabilidade é uma homenagem ao fundador do país, Sheikh Zayed Bin, e seu legado humanitário, e garante aos vencedores da categoria o valor de 150 mil dólares (cerca de R$ 800 mil) para levar o projeto adiante.
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Da inscrição ao reconhecimento internacional
A ex-aluna Micaelly Mesquita, atualmente estudante de Engenharia civil na Universidade de Brasília (UnB), trabalha com editais voltados para o impacto ambiental e sugeriu a participação do prêmio. Com o tempo curto, os integrantes apreensivos “tentaram a sorte” ao juntar os projetos no período de duas semanas e submetê-los à primeira etapa. E, então, descobrem que chegaram à final da competição por meio do professor Geldo Ferreira, coordenador da Integral e do Clube de Ciência. Ele surpreendeu as alunas dizendo: “E aí, preparadas para viajar até o outro lado do mundo?”.
O projeto dos alunos, batizado de "Ciclo Vivo", combina sustentabilidade e impacto social. Ele propõe o reaproveitamento da água da chuva por meio de um sistema de irrigação automatizada que foi totalmente produzido e testado pelos próprios estudantes. O foco é combater o desperdício e a insegurança alimentar, utilizando essa água para irrigar hortas comunitárias, fertilizadas por compostagem natural. Com isso, o "Ciclo Vivo" visa produzir 80 quilos de alimentos frescos por mês, que serão distribuídos para o refeitório da escola e para a comunidade local.
O Clube de Ciências levou um projeto parecido à COP30, Conferência da ONU sobre mudança do clima ocorrida no Brasil (em Belém, no Pará), apresentando um plantio de mudas de árvores do Cerrado na própria escola. O trabalho não passou para a segunda etapa, mas foi essencial para a produção do projeto do prêmio. O grupo já tinha fotos e as experiências com o reflorestamento do Parque do Recanto das Emas. “Todos os projetos do Clube de Ciências são renováveis e reutilizáveis” afirma Maria Eduarda, aluna do 3º ano.
Posteriormente, a segunda etapa categorizou os finalistas, e a escola do Recanto das Emas representa o Brasil, sendo o único do país a competir no prêmio. Neste momento, o grupo entrega os toques finais do projeto e produz o plano de trabalho. A ida à capital dos Emirados Árabes, custeada pelo prêmio, integra um professor e duas representantes, que estarão nas atividades da semana sustentável. O esquema sustentável será apresentado e poderá se tornar ainda maior após a premiação, se expandindo por mais lugares do Brasil e até do mundo.
A história do Clube de Ciência
Fundado em 2013 pelo Professor Geldo, o clube começou pequeno. É formado por alunos e ex-alunos que se deixaram levar pela curiosidade e entraram no mundo da ciência. Assim vem sendo, de maneira independente, o grupo funciona com os alunos entusiastas que produzem pesquisas e são orientados pelos professores.
Com projetos que vão da radiação, incluindo a produção de um protetor solar para a comunidade até participações em lançamento de satélites, o grupo coleciona conquistas em sua trajetória. No campo científico, os jovens já foram honrados na primeira edição do Prêmio Paulo Freire pelos “encontros da ciência” e convidados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia para a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Além de homenagens, o Clube está sempre presente nas feiras educativas, compartilhando conhecimento e realizando atividades.
A Feira de Ciência "Encontro de arte, ciência e cultura", realizada no CEM 111, revelava o grande interesse dos jovens em áreas que os levariam a objetivos maiores após a formação. Percebendo a necessidade de ampliar esses eventos que, apesar dos inúmeros benefícios, ocorriam apenas uma vez por ano, os professores buscaram uma solução institucional. Assim, a escola integrou a ideia dos clubes ao PPP (Planejamento Político Pedagógico). Esse PPP revisado, que visa incentivar estudos e hobbies durante e após a formação, foi uma conquista celebrada, especialmente, pelos ex-alunos que retornaram para integrar o grupo.
Protagonismo Juvenil
O diálogo é a ferramenta essencial para o funcionamento do Clube. Geldo conta que os alunos são independentes para realizar pesquisas e convencê-lo a aprimorar por meio de experiências e atividades fora da escola. O interesse molda o grupo composto por mentes brilhantes e criativas.
A ex-aluna Pollyana Feitosa revela que pediu para fazer parte do clube. Com muitas histórias marcadas pela ciência, a jovem conta sobre a oportunidade da equipe do Clube de ser convidada pela TV Comunitária de Brasília para falar sobre ciências e assuntos diversos. “A TV comunitária é um local para comunidade apresentar, nós do clube ganhamos um espaço na tevê, onde poderíamos fazer cobertura de projetos, de feiras de ciências e pessoas interessadas no assunto. Nós decidimos tudo por lá, temos muita autonomia” conclui Pollyana. Mesmo com o nome ciências no meio, o clube valoriza todas as áreas do conhecimento. “Conseguimos acertar na diversidade dentro do Clube, temos cultura, comunicação, matemática e muita Ciência” conclui Geldo.
Sempre interessada pela área da ciência, Micaelly Mesquita começou sua caminhada no Clube de Ciência em 2016 e até hoje continua encantada pelo trabalho. Seu sonho de estar na UnB nasceu por meio de saídas de campo e contatos possibilitados pelo Clube. “Nós somos inspiradas, e hoje estamos aqui para ajudar a inspirar”, conta a ex-aluna. O grupo expande a visão dos estudantes sobre o mundo. A jovem Ana Figuerêdo, estudante do 3º ano, conta que seus horizontes mudaram depois que entrou no projeto. Ela ganhou uma bolsa no Meninas.comp, iniciativa que inclui meninas no campo da computação.
Os integrantes do Clube de Ciência se sentem gratos após chegarem à final. “Sempre vemos as pessoas preconceituosas com a escola pública, e ver que chegamos à final mostra o quanto somos capazes” conclui Ana.
*Estagiário sob supervisão de Ana Sá.