Violência

Um mês depois, inquérito sobre estudante que teve dedos decepados está inconcluso

Um mês depois, inquérito sobre estudante que teve dedos decepados está inconcluso Escola onde estudante brasileiro sofreu violência diz que investigações estão sob a responsabilidade da Inspeção Geral da Educação e Ciência, que não respondeu às indagações do PÚBLICO Brasil.

Público Brasil
postado em 20/12/2025 14:36
O estudante brasileiro José mal consegue mexer a mão esquerda, que teve dois dedos decepados por alunos de uma escola em Cinfães. O inquérito aberto para investigar a violência continua sem resultado  -  (crédito: Arquivo Pessoal)
O estudante brasileiro José mal consegue mexer a mão esquerda, que teve dois dedos decepados por alunos de uma escola em Cinfães. O inquérito aberto para investigar a violência continua sem resultado - (crédito: Arquivo Pessoal)

O menino José mal consegue mexer a mão esquerda. Ainda com as feridas abertas, resultante da violência que sofreu em 10 de novembro último, quando teve dois dedos decepados por colegas da escola em que estudava em Cinfães, Centro de Portugal, ele não pode fazer fisioterapia. A situação do estudante brasileiro, que completou 10 anos recentemente, aflige a mãe dele, Nívea Estevam. "Ele sofreu uma violência brutal, que nunca será esquecida", afirma ela ao PÚBLICO Brasil.

Um mês se passou após a agressão sofrida por José sem que o inquérito aberto pelo colégio em que ele estudava, a Escola Básica de Fonte Coberta, fosse concluído. Ao PÚBLICO Brasil, o Agrupamento de Escolas de Souselo ressaltou que o processo, neste momento, está "a ser diligenciado pela Inspeção Geral da Educação e Ciência", do Ministério da Educação, que não se posicionou até o fechamento desta edição.

Saiba mais

A mãe de José diz que a Inspeção Geral da Educação e Ciência e a Guarda Nacional Republicana (GNR) vem tentando ouvir o garoto, mas a decisão da família é de que ele só prestará depoimento ao Tribunal de Justiça, dada à fragilidade emocional dele. "É uma tortura para José reviver o trauma que ele sofreu. Portanto, decidimos, com nossa advogada, que ele só falará em juízo, pois é estressante demais para ele falar sobre o que sofreu. O depoimento será gravado, para que outros órgãos possam ter acesso ao que ele disse", sublinha.

José está fazendo acompanhamento psicológico. "Desde que ele teve os dedos mutilados, praticamente não abre a boca. Está quase mudo. Não quer falar sobre nada, e temos de dar tempo para que ele se sinta confortável para dizer o que quiser", afirma Nívia. Ela conta que a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CPCJ) lhe procurou para entender o que havia se passado com José e ofereceu apoio psicológico. "Mas decidimos ficar com a psicóloga que está tratando dele", assinala.

Traumas da violência


José ainda não conseguiu voltar para a escola e a família teve de deixar Cinfães temendo retaliações. A família está vivendo em Santa Maria da Feira, onde moram os sogros de Nívia. "Não sabemos quando esse pesadelo irá passar", frisa ela, destacando que o menino está tendo que tomar medicamentos para dormir. "Os dias têm sido bem complicados", assinala. Nívia conta que vem sendo procurada por outras mães cujos filhos também foram vítimas de violência em escolas, mas que tinham medo de tornar os casos públicos.

Nívia afirma que a advogada da família tentou saber da Escola Básica de Fonte Coberta quais foram os funcionários que limparam o sangue de José no local da agressão logo após o acontecido e por orientação de quem. "Mas a escola não deu nenhuma informação", diz. Quando ela chegou ao colégio, depois da violência sofrida pelo filho, funcionários tentaram minimizar o fato. "Me disseram que havia sido coisa que criança que havia acabado mal", relembra.

O caso de José vem sendo acompanhado com lupa pelo Governo do Brasil. Tanto que o embaixador do país em Portugal, Raimundo Carreiro, cobrou, oficialmente, um posicionamento do ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, sobre que providências estavam sendo tomadas em relação à violência sofrida pelo estuante. Em resposta, o ministro garantiu que tudo estava sendo apurado e que o Governo português daria proteção a José.

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