Polêmica dos gastos

UnB não comprou leite condensado com dinheiro do governo federal

Diante da denúncia dos altos gastos com o produto em 2020, o valor tem sido atribuído a instituições federais de ensino. No IFB, compra do item foi baixa

Mateus Salomão*
postado em 28/01/2021 15:32 / atualizado em 28/01/2021 16:16
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

A Universidade de Brasília (UnB) informou que não comprou leite condensado com dinheiro do governo federal. No Instituto Federal de Brasília (IFB), a suspensão das aulas remotas reduziu o gasto no item em 2020. Nesta semana, o valor dos gastos com produtos alimentícios tem sido alvo de polêmica e contestação nas redes sociais. 

A Administração Superior da UnB afirmou que não houve compra de itens como leite condensado, chiclete, biscoitos e sorvetes. “O Restaurante Universitário opera por meio de um contrato de prestação de serviços, ou seja, cabe à empresa contratada fazer a aquisição dos alimentos", afirmou.

A universidade informou que adquiriu, ao longo de 2020, café e açúcar, por meio de pregão. Ressalta que foram comprados 6 mil pacotes de 500 gramas de café, totalizando R$ 29,8 mil, e 1.200 pacotes de 5 quilos de açúcar, a um total de R$ 10,1 mil. Outros gastos, da ordem de cerca de R$ 10 mil, foram para a aquisição de hortifrutigranjeiros para alimentar os animais da universidade que ficam na Fazenda Água Limpa e em laboratórios.

O IFB, por meio de nota, informou que, em 2020, foram adquiridas 10 latas de leite condensado, 127 pacotes de biscoito e nenhum chocolate em virtude da pandemia e a consequente suspensão das aulas práticas nos laboratórios. “Os mais variados tipos de insumos são necessários para as aulas em cursos como gastronomia, (no câmpus do) Riacho Fundo; alimentos, no Gama; agroindústria, em Planaltina etc.”, informou o instituto.

Além disso, o IFB adquire produtos e alimentos para as refeições diárias servidas aos estudantes internos que residem nos alojamentos do câmpus Planaltina, que funciona ininterruptamente nos sete dias da semana. Com a suspensão das aulas presenciais, o local continuou a atender estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, com cestas básicas para mais de 4,6 mil estudantes, além do pagamento de auxílio emergencial.

Na quarta-feira (27/1), ao citar a polêmica em almoço com cantores sertanejos, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que a quantidade de leite condensado seria para “enfiar no rabo de vocês… de vocês da imprensa”. Logo após, os apoiadores aplaudiram e entoaram: “Mito! Mito!”.

 

Entenda a polêmica

Em reportagem publicada no domingo (24/1), o portal Metrópoles expôs que o governo federal gastou mais de R$ 1,8 bilhão em alimentos. Na conta entram mais de R$ 15,6 milhões em leite condensado e mais de R$ 2 milhões destinados à compra de chiclete. Os principais pagantes foram o Ministério da Defesa, em primeiro lugar, e o Ministério da Educação, em seguida.

Diante da polêmica, o filho do Presidente da República e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) atribuiu o gasto com leite condensado e outros itens de alimentação anual aos “quase 400 mil militares, universidades, hospitais e outros órgãos federais.”

Irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, Arthur Weintraub criticou o youtuber Felipe Neto pela divulgação dos números nas redes sociais e afirmou que o leite condensado é “comprado sobremodo para universidades e institutos federais”.


Procurado, o MEC informou que as despesas realizadas pela pasta com aquisição de gêneros alimentícios em 2020 foram da ordem de R$ 85 mil. “Como é do conhecimento da sociedade brasileira, o MEC é uma pasta complexa, à qual estão vinculadas autarquias, empresa pública, universidades federais, institutos federais e hospitais universitários, com atividades em todo território nacional”, ressaltou

“A fonte de consulta utilizada na matéria, do portal Metrópoles, de 24 de janeiro último, é o Painel de Compras do governo federal. Nesse sistema, todas as unidades gestoras, isto é, unidades aptas a realizar licitações e celebrar contratos, encontram-se vinculadas ao grupo do órgão supervisor, mas seus processos são independentes em razão da autonomia gerencial e administrativa atribuídas a tais instituições pelas vias constitucional e legal”, ressaltou. “Dessa forma, cada unidade é responsável pela execução do seu orçamento e suas contratações, sem que haja a interveniência do MEC.”

 

Por meio do seu perfil do Instagram, a União Nacional dos Estudantes (UNE) comentou a quantia de R$ 1,8 bilhão destinada à alimentação pelo governo federal em 2020 e afirmou que “tudo foi gasto com dinheiro público que poderia ter sido revestido com investimentos na Educação”. A entidade ressaltou que o valor gasto com comida é superior ao corte no orçamento da Educação previsto para 2021, de R$ 1,4 bilhão.

 

Procurada pela reportagem, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) afirmou que não tem dados sobre os gastos desses produtos nas federais e que não comentaria a respeito.


Internautas criticam e ironizam a situação

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*Estagiário sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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