visto estudantil

Estudantes e requerentes de visto de trabalho não podem sair do país

Trabalhadores, estudantes e pesquisadores estão impedidos de entrar em outros países por conta do bloqueio nas fronteiras imposto pela pandemia de covid-19

Maryanna Aguiar*
postado em 25/06/2021 16:07 / atualizado em 25/06/2021 16:41
"Conheço pessoas que compraram passagens e pagaram taxas relativas ao processo do intercâmbio junto ao consulado Francês no início do ano", afirma Igor Augusto, 21 anos - (crédito: Arquivo Pessoal)

Igor Augusto, 21 anos, se dedicou por três anos na Universidade de São Paulo (USP) até ser contemplado com uma bolsa de estudos na École CentraleSupélec, na França para um curso de duplo diploma em engenharia com ênfase em ciência de dados. O que ele não esperava é que uma restrição do governo francês iria dificultar os planos.


O Ministério do Interior da França avalia a situação sanitária do Brasil como preocupante, e, portanto, o Brasil foi incluído na "zona vermelha". Pessoas de países desta zona não conseguem viajar para a França nem emitir vistos, salvo casos isolados, considerados imperiosos.


“Nós, estudantes e pesquisadores, reivindicamos que estudo e pesquisa sejam considerados como motivos imperiosos para que possamos obter nossos vistos. Nesse sentido, criamos o movimento ÉtudierEstImpérieux para que autoridades capacitadas a nos ajudar tomem consciência desse problema”, ressalta Igor.


O movimento “ÉtudierEstImpérieux”, em português "estudar é imperativo”, reúne cerca de 750 estudantes e pesquisadores que se encontram na mesma situação e buscam atrair visibilidade para a causa, com páginas em diversas redes sociais e uma carta enviada ao governo da França, e também ao Itamaraty, pedindo a reavaliação da norma que os impede de entrar no país, porém não obtiveram resposta oficial, a não ser um comunicado do Ministério do Interior Francês mantendo o status quo da situação.


“Tenho certeza que todos que estão participando do nosso movimento também se dedicaram muito para alcançar essa oportunidade. São centenas de sonhos que estão em jogo. Com certeza irei continuar lutando pela reivindicação de estudar como motivo imperioso”.


A situação é a mesma de estudantes e trabalhadores que precisam começar a estudar ou a ocupar seus cargos em outros países, como o caso da Lauren Hobolt, 25, analista de sucesso do cliente. Ela trabalha na área comercial e de relacionamento com clientes, e decidiu mudar para área de software., conseguindo uma vaga em Ausbildung em uma empresa alemã. O Ausbildung é um híbrido entre estudo e trabalho, no qual há um contrato com uma empresa e também aulas em uma instituição, que ao final proporciona um diploma de técnico na área de ingresso.


“É uma oportunidade ótima para aprender a parte teórica, e ao mesmo tempo colocar na prática dentro da empresa e aprender com profissionais que tem muita experiência na área. No Brasil, até pouco tempo, não tínhamos muitas oportunidades parecidas com essa, e por isso comecei a procurar essas vagas na Alemanha. Normalmente, as pessoas se aplicam para essas vagas quando já moram na Alemanha, e por pedir um bom nível de alemão, é difícil eles terem aplicantes internacionais. Fui a primeira brasileira contratada para essa posição na empresa em que vou ingressar e acredito que é uma forma de abrir portas para que no futuro venham outros também. ”


Porém, uma restrição da Alemanha, ao fim de janeiro deste ano, por conta da variante da covid-19, Gamma, o país passou a impedir totalmente o ingresso.


Na tentativa de reverter a situação, Lauren e outros trabalhadores e estudantes com o mesmo destino, contataram o Ministério de Relações Exteriores do Brasil, e os Ministérios e políticos alemães, além da Embaixada da Alemanha no Brasil e Embaixada do Brasil na Alemanha. Alguns nunca responderam, como é o caso dos ministérios, e as outras respostas, apesar de serem simpáticas, não ofereceram nenhuma perspectiva de resolução do problema.

Lauren diz ter conseguido a vaga dos sonhos
Lauren diz ter conseguido a vaga dos sonhos (foto: Arquivo Pessoal)


“Pedimos encarecidamente o apoio das instituições brasileiras competentes, como o Itamaraty. Sabemos que o envolvimento dele foi essencial para ajudar estudantes brasileiros, que estavam na mesma situação que nós, a ingressarem nos Estados Unidos em abril e acreditamos que o apoio do Itamaraty faria total diferença nessa situação”, relata e desabafa sobre suas expectativas.


“Tem sido uma verdadeira montanha russa de emoções. Desde a euforia de conseguir uma vaga e iniciar o planejamento concreto de mudança, até o início das restrições que se estendem há 6 meses, todos os dias atualizando o site da embaixada alemã na expectativa de que algo mude".


De acordo com ela, a ansiedade e o medo de perder essas vagas para que tanto batalhou são constantes. Ela espera que em breve tenha uma resolução para esse problema, afinal muitos deles correm o risco de perderem suas vagas de trabalho e estudo, que segundo ela, não foram fáceis de conseguir. "Exigiram anos de preparação e estudo. Por isso iniciamos o movimento nas redes sociais, para ganhar maior visibilidade e entenderem que estão tratando de pessoas. Sempre marcamos autoridades brasileiras e alemãs para que elas vejam que estamos aqui", desabafa a jovem.


O grupo da Alemanha, enviou cartas ao ministro Carlos Alberto França pedindo para que ele intervenha juntamente com o embaixador do Brasil na Alemanha, e para o embaixador da Alemanha no Brasil. Recentemente enviaram cartas para os ministérios da Alemanha, o BMI que impõem as restrições e o das Relações Exteriores e da Educação e Ciência, ainda sem retorno.

*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Luisa Araujo

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