Júlia Giusti*
postado em 13/07/2025 06:00 / atualizado em 13/07/2025 06:00
Paula Cesetti, 27, foi efetivada após três meses de residência - (crédito: Arquivo Pessoal)
Com o intuito de capacitar profissionais graduados há, no máximo, cinco anos ou cursando pós-graduação para atuar no serviço público, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) criou o programa MPDFT Residente, que completou um ano este mês. Nessa primeira edição, o processo seletivo, feito de forma gratuita em março de 2024, contou com 6.574 inscritos, dos quais 418 foram aprovados em seis áreas diferentes: direito, tecnologia da informação (TI), estatística, psicologia, serviço social e comunicação social. Entre os aprovados, 114 residentes já foram nomeados.
Com duração máxima de três anos, o programa funciona como uma ponte entre a formação acadêmica e o mundo profissional e oferece experiência prática interdisciplinar, supervisionada e com foco no desenvolvimento de competências para o setor público. A jornada de trabalho é de 30 horas semanais, e a bolsa é de R$ 3 mil, além de auxílio-transporte. Ainda não há previsão para o próximo processo seletivo para a residência.
Segundo a vice-procuradora-geral de Justiça Jurídico-Administrativa do MPDFT, Selma Sauerbronn, a iniciativa surgiu da necessidade de aperfeiçoamento constante das ações da instituição voltadas ao diálogo com a sociedade e com o ambiente acadêmico. “Queremos oxigenar o órgão, na perspectiva de uma gestão inovadora e próxima à comunidade, bem como contribuir para o aprimoramento profissional em várias áreas. Todos ganham”, afirma.
Direito
Paula Cesetti, 27 anos, foi residente da área de direito em 2024 e, hoje, trabalha no MP como assessora jurídica efetiva, em cargo comissionado, na 9ª Promotoria de Entorpecentes. Ela conta que estava estudando para concurso público quando soube do programa. Aprovada pela seleção, foi chamada para a residência no final de julho do ano passado e, em outubro, convidada por uma promotora para compor o quadro de colaboradores da instituição, no seu cargo atual. Durante o programa, Paula atuou em diversas promotorias e fez peças como pastas processuais, denúncias e alegações. “Eu já trabalhava no Tribunal de Júri do MP como voluntária, então, tinha contato com essas atribuições”, diz.
Apesar de ter ficado pouco tempo na residência, ela achou a experiência muito positiva por envolver, além da prática, pesquisa e extensão: “Apenas não tive oportunidade de fazê- -las por sair antes, mas é muito bacana para quem quer se especializar”. A assessora considera que o programa lhe abriu portas e tornou mais próximo o sonho de ser promotora de Justiça. “Se você se comprometer, aprende muito. Isso me permitiu reconhecimento profissional, e vou continuar estudando para passar no que quero”, expõe.
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Psicologia
Luísa Jobim, 26 anos, é psicóloga e residente na área no MPDFT. Em 2022, ela diz que se preparava para um concurso no campo da psicologia jurídica, mas interrompeu os estudos para focar na atuação clínica. Em 2024, decidiu retomá-los quando soube do programa para a residência e se inscreveu no processo. “Embora não tenha me preparado especificamente para essa seleção, eu já estava em ritmo de estudos voltado para concursos, o que contribuiu para o meu desempenho na prova”, conta.
Para Luísa, o programa despertou ainda mais seu interesse pela área jurídica, com formação teórica e prática que vão aprimorar sua atuação profissional. Além dos atendimentos e da elaboração de relatórios, ela destaca que a troca de experiências entre a equipe e a boa convivência tornam a residência mais proveitosa. “Existe uma cultura de compartilhar visões, debates e estudos de caso entre analistas de psicologia e serviço social, residentes e estagiários, o que torna o ambiente propício ao aprofundamento técnico e reflexões sobre a prática”, relata.
Hoje, Luísa planeja continuar estudando para o serviço público em sua área, na busca por “uma carreira que traga mais estabilidade”. Recentemente, impulsionada pela residência, ela prestou concurso para analista de psicologia no MPDFT e ficou em primeiro lugar na prova objetiva. “Se tudo der certo, pretendo seguir por esse caminho. E, mesmo que isso não se concretize agora, vou continuar atuando na intersecção psicologia e direito, meus grandes interesses”, projeta, confiante.
Para a tutora de psicossocial Isabela Britto, o programa de residência tem se mostrado essencial na formação dos profissionais, ainda que haja melhorias a fazer, como focar mais na parte de ensino, para além do trabalho. A tutora trabalha ao lado de Luísa, a quem considera “quase pronta para ser uma servidora completa, em termos de competências técnicas e pessoais”. Isabela percebe que a profissional é dedicada nas atividades propostas e tem contribuído na área. “Ela se mostra bastante empenhada mesmo, então, foi uma grata surpresa para nós”, conta.
Tecnologia da informação
José Hevenicio, 30 anos, graduado em física, mestre em engenharia biomédica e especialista em ciência de dados, é residente de tecnologia da informação no MPDFT, na Assessoria de Ciência de Dados (Acida). Ele relata que já tinha domínio em programação pela formação acadêmica e experiências profissionais, mas decidiu estudar mais para conseguir a oportunidade no MP, a fim de se aprimorar ainda mais na área. “Foquei em estudar por conta própria, principalmente no que o edital de seleção pedia, como as linguagens que o mercado mais usa, como Python e SQL”, diz.
“Imagine que os gestores usam painéis com gráfico, para tomar decisões importantes. Se esses placares estiverem com informações desatualizadas ou erradas, a decisão pode ser falha. Nesse caso, minha aplicação dispara um alerta para a equipe técnica corrigir o problema. Isso ajuda a manter a qualidade da informação e a confiabilidade das análises”, explica.
José define a experiência como “desafiadora”, mas, ao mesmo tempo, gratificante: “É a porta de entrada perfeita para o mercado de trabalho”. Ele considera que está tendo uma formação completa, podendo aplicar os estudos na prática e ver resultados; aprender competências e habilidades exigidas pelo mercado; conviver com profissionais experientes e observar o impacto do seu trabalho no MPDFT.
“Uma coisa é você aprender a programar com exemplos de livro ou em projetos pessoais; outra é usar isso para resolver um problema real, com impacto direto na instituição. Além da parte técnica, estou aprendendo sobre responsabilidade, cumprimento de prazos e como trabalhar em equipe. Ter o acompanhamento de tutores experientes é um acelerador de carreira que nenhum curso consegue oferecer”, descreve.
Ele pretende seguir na área de ciência de dados, reconhecendo que a residência confirmou que ele está “no caminho certo” e que sua área tem grande potencial para tornar o serviço público “mais ágil e eficiente”. Por meio do aprofundamento em tecnologias avançadas, como inteligência artificial (IA), o profissional tem como propósito usar o conhecimento para resolver problemas “cada vez mais complexos”
Para o tutor de TI Rodrigo Jesuino, o programa gera um ganho coletivo, pela capacitação dos residentes, que já trazem uma bagagem de conhecimento em tecnologia, e pelo uso dos projetos feitos por eles para o aprimoramento da instituição. “Os residentes têm ritmos diferentes, por isso, a gente orienta e acompanha o desenvolvimento deles. As soluções criadas são usadas pelo órgão, e eles ganham experiência para os futuros empregos”, destaca.
* Estagiária sob supervisão de Ana Sá