CARREIRA

Profissão do futuro: como a IA impacta o mercado de trabalho

Em processo de integração de inteligência artificial generativa, empresas e instituições de educação se adaptam

EuEstudante
postado em 03/08/2025 06:00 / atualizado em 03/08/2025 06:00
Alex Echeverria, 23, formou-se em inteligência artificial em 2024 e hoje trabalha como líder de IA no Grupo Odilon Santos
 -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Alex Echeverria, 23, formou-se em inteligência artificial em 2024 e hoje trabalha como líder de IA no Grupo Odilon Santos - (crédito: Arquivo Pessoal)

Artur Maldaner*

O impacto do uso da inteligência artificial generativa no mercado de trabalho ainda é incerto. O que se sabe, no entanto, é que as mudanças em curso em diferentes áreas de atuação devido ao avanço tecnológico trazido por elas serão permanentes, e se adaptar a essa nova realidade se torna pré-requisito para o sucesso profissional. De cursos universitários aos de capacitação profissional, as opções para se atualizar são inúmeras, e essenciais para manter uma carreira competitiva.

Alex Echeverria, 23 anos, trabalha como chefe de inteligência artificial (IA) no Odilon Santos, grupo empresarial de Goiás que atua na área do transporte. O jovem se formou em bacharelado em inteligência artificial em 2024 pela Universidade Federal de Goiás (UFG), e hoje coordena o uso de IA na operação da empresa.  
O trabalho de Alex é guiar os funcionários sobre como usar IAs generativas, como o Chat GPT, para automatizar os trabalhos mecânicos dos funcionários, como preencher planilhas, escrever relatórios, ler contratos, entre outros, de forma que os trabalhadores tenham mais tempo para atividades criativas. 
O jovem conta que desde a sua graduação  está intrinsecamente inserido no mercado de trabalho e que, nesse período, trabalhou em seis organizações de setores, como educação, saúde, finanças e telecomunicações. Alex aponta o curso de IA como o principal denominador para seu sucesso profissional e explica que os alunos, além de desenvolverem habilidades técnicas, são estimulados a pensar de maneira empreendedora. 
“Hoje em dia, a IA é uma ferramenta que nivela o jogo. As habilidades técnicas, como inglês e programação estão perdendo a impor- tância”, argumenta Alex, e sustenta que a ferramenta será utilizada em todas as áreas de atuação, fazendo com que os profissionais mais experientes, e também os mais inventivos, sejam valorizados. 

Alerta da OIT 

 Kubota: A substituição pela IA não vai ser tão rápida
Kubota: A substituição pela IA não vai ser tão rápida (foto: Helio Montferre/Ipea)

Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), publicado no ano passado, já alertava sobre possíveis riscos da implementação de inteligências artificiais no mercado de trabalho. O relatório, que analisou os países da América Latina e Caribe, revela que 26 a 38% dos empregos nas regiões podem ser expostos ao uso de IA, e 2% a 5% correm o risco de automação total.  
O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Luis Cláudio Kubota, verifica que as empresas brasileiras implementam IAs na mesma proporção das de países europeus, mas que, em termos de produção científica, ainda estamos muito abaixo de países vpioneiros em pesquisa na área. 
Kubota explica que o Brasil enfrenta problemas de infraestrutura na adoção e pesquisa de IA e, portanto, as pesquisas do Ipea podem orientar a criação de políticas públicas que sejam favoráveis à inovações e tenham o potencial de aumentar a produtividade econômica do Brasil de forma sustentável.  
“Eu acho que a substituição não vai ser tão rápida quanto se imaginava, e é interessante que é a primeira vez que temos uma tecnologia com um potencial de impacto muito maior nos trabalhos de escritório”, pondera o economista sobre o impacto no mercado de trabalho. 
No setor privado, empresas de consultoria defendem que as IAs criaram impactos positivos em contratação e crescimento econômico. A pesquisa AI Jobs Barometer, realizada pela rede global de consultorias PwC, constatou que, no Brasil, o número de anúncios de emprego que exigiam habilidades com inteligência artificial cresceu em 30,3% no último ano, em comparação com os 7,5% globais.  
Camilla Cinquetti: a IA está sendo usada para aumentar a produtividade das empresas
Camila Cinquetti: a IA está sendo usada para aumentar a produtividade das empresas (foto: Divulgação)
O levantamento reuniu mais de um bilhão de anúncios de emprego em todo o mundo e analisou o nível de exposição das vagas à IA, separando em trabalhos automatizáveis e aumentáveis (em que a IA pode ser usada para colaborar com o trabalho humano). De acordo com sócia de força de trabalho da PwC Brasil, Camila Cinquetti, a consultoria identificou um aumento em vagas de emprego mesmo em funções automatizáveis: “Isso indica que a IA está sendo usada para aumentar a produtividade, não apenas cortar pessoal. As empresas que usam IA para redução podem perder oportunidades de crescimento em novos mercados”, comenta.  
Luis Cláudio Kubota, do Ipea, confirma o aumento da procura por profissionais experientes com a tecnologia, mas argumenta que a automatização pode dificultar o ingresso no mundo do trabalho. “Acho que os novatos de muitas carreiras vão ter dificuldade de entrar no mercado, já que essas tarefas mais mecânicas, que são passadas para os iniciantes, têm um grande potencial de serem automatizadas”, observa, citando áreas, como advocacia, programação e audiovisual. 

Formação 

Soares coordena o Centro de Excelência em IA (CeIA) da UFG
Soares coordena o Centro de Excelência em IA (CeIA) da UFG (foto: Carlos Siqueira/Divulgação)

A Universidade Federal de Goiás (UFG) oferta o bacharela do em inteligência artificial desde 2019 e, de acordo com o coordenador do curso, Anderson da Silva Soares, a graduação foi criada para atender a uma procura de cursos voltados ao mercado de trabalho. “Quando criamos o curso de IA, estávamos vendo altas taxas de evasão, principalmente na área de exatas. Então, ele foi feito para ser mais alinhado com as necessidades dos alunos. E, hoje, temos apenas 3,5% de evasão em um curso de exatas”, conta o professor 
Anderson explica que, por meio da criação do Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia), os alunos têm contato direto com empresas parceiras da UFG, onde trabalham de forma remunerada com uma bolsa de pesquisa. “As atuações dos alunos estão claramente voltadas a uma jornada de transformação digital das empresas, e, hoje, atuam em diversas áreas, como saúde, publicidade e tecnologia”, explica o coordenado. 
A Universidade de Brasília (UnB) segue o exemplo da UFG e planeja criar o seu curso de bacharelado em inteligência artificial no primeiro semestre letivo de 2026. Em uma entrevista para o Correio  o vice-reitor da UnB, Márcio Muniz, confirma que o objetivo da universidade é se modernizar por meio da criação da graduação, que vai dispor de novas disciplinas específicas sobre inteligência artificial, que também poderão ser aproveitadas por alunos de outros cursos. 

Formação em IA

O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) está em processo de adaptação para atender as novas necessidades do mercado de trabalho. No Distrito Federal, por exemplo, o Senac oferece cursos de aperfeiçoamento, como as disciplinas de Chat GPT na prática e inteligência artificial generativa, voltadas ao público sem experiência com a tecnologia que deseja aprimorar habilidades profissionais. Também disponibiliza o de técnico em inteligência artificial, que forma um profissional para atuar nos cargos de assistente de lógica, inteligência artificial e prototipagem.  
Para Antônio José, do Senac-DF, o técnico em IA sai como um profissional coringa
Para Antônio José, do Senac-DF, o técnico em IA sai como um profissional coringa (foto: Divulgação)
“O técnico em IA sai hoje como um profissional coringa, podendo atuar em diversas áreas de trabalho, já que a experiência com inteligência artificial generativa permite que, além da TI, o aluno possa trabalhar com mineração e análise de dados em áreas da saúde, publicidade, e virtualmente qualquer outra”, argumenta Antônio José de Sousa, supervisor de Tecnologia da Informação no Senac-DF. Sousa defende que o profissional especialista em IA seja multitarefa e preparado para atender às necessidades relacionadas ao uso da ferramenta em qualquer área de atuação.
Sobre os cursos de aperfeiçoamento profissional oferecidos, o executivo do Senac destaca o leque abrangente que podem trazer à carreira de qualquer trabalhador. “Para mim, eles deveriam ser feitos por todo o público. Principalmente por aqueles que julgam não precisar da IA.” 
Sousa explica que a IA será o novo pré-requisito para ingresso no mercado de trabalho e que, por receio, profissionais que podem se beneficiar muito da ferramenta acabam não a adotando. Ele destaca os publicitários e designers gráficos, que enfrentam o medo de terem o trabalho automatizado: “Podem ir contra ou aproveitar o fomento da tecnologia para destacar o seu trabalho. E eu acho que esse público deve aproveitar a educação para aprimorar a produção”. 

Operação empresarial 

Thiago Oliveira, CEO de empresa de negociação de dividas, confirma melhorias no atendimento
Thiago Oliveira, CEO de empresa de negociação de dividas, confirma melhorias no atendimento (foto: Divulgação)

Entre as empresas que integram a IA na sua operação está a Monest, especializada em negociação de dívidas, por meio do atendimento feito com chatbot de inteligência artificial. O CEO, Thiago Oliveira, conta que a empresa viu um aumento significativo após a implementação do atendimento com IA, por conseguir entregar soluções com mais rapidez.  
“A IA trouxe a possibilidade de melhorar a eficiência do atendimento, e resolver problemas que o atendimento humano não consegue, por custo ou por volume. Então, hoje nós treinamos a plataforma para resolver as questões repetitivas e genéricas. Assim conseguimos trazer uma boa experiência para o cliente, que busca algo que resolva o problema dele”, argumenta Oliveira. 
Quanto à contratação, o CEO conta que a empresa conseguiu melhorar a operação ao montar um time multidisciplinar, com engenheiros de prompt, por exemplo, formados na área da tecnologia, e profissionais de outras áreas de atuação que também recebem treinamento interno em inteligência artificial. 
Na opinião de Oliveira, a IA será o novo pré-requisito para todas as áreas de trabalho, como o Excel no passado. “Nas empresas lá fora, quando pedem uma nova contratação para um setor, na área de marketing, por exemplo, a primeira pergunta que eles fazem é: ‘O que precisamos contratar não pode ser automatizado com IA?’”, relatou Thiago. 
A empresa do CEO João Sobreira opera de forma completamente automatizada
A empresa do CEO João Sobreira opera de forma completamente automatizada (foto: Arquivo Pessoal)
No marketing, empresas como a Advolve.ai já operam de forma completamente automatizada, sem funcionários com formação em produção de publicidade. O CEO João Sobreira explica que a empresa fornece uma plataforma de machine learning, que cria anúncios virtuais de forma automatizada e permite que o cliente controle suas  próprias campanhas de maneira também automática. Ifood e Cogna Educação estão entre as organizações que contratam o serviço para melhorar o alcance de suas propagandas virtuais e diminuir custos.
“Para mim, como empresa, o principal são os dados, e cada vez mais as empresas dão prioridade a obter dados de qualidade e organizados, até mais do que profissionais muito qualificados”, diz Sobreira, e explica que quanto melhor os dados obtidos dos clientes, melhor será a campanha produzida pela inteligência artificial, principalmente para empresas grandes, que priorizam sempre diminuir o custo de aquisição de clientes. “A IA hoje consegue praticamente humanizar o serviço, ele é muito personalizado e simula muito bem o humano”, adiciona.
Yuri Barbosa diz que o conhecimento prático em IA faz a diferença na hora da contratação
Yuri Barbosa diz que o conhecimento prático em IA faz a diferença na hora da contratação (foto: Lucas Cassiel | InsignePro)
De acordo com Yuri Barbosa, CEO da Full Sales System, empresa de consultoria de vendas, a IA já está integrada em todas as etapas da empresa, principalmente em forma de assistente de pré-venda. De acordo com o empreendedor, a maior prioridade na hora da contratação é o conhecimento prático no uso de ferramentas de inteligência artificial, em todas as áreas: “É uma competência esperada em todos os níveis da empresa, a aplicação é essencial para entregas mais ágeis, inteligentes e escaláveis”, afirma. 

Onde aprender no Senac 

Curso Técnico em Inteligência Artificial:
Capacitação em programação e machine learning de IAs
  • Locais: Taguatinga e Setor Comercial Sul
  • 2 anos ou 1.200 horas de duração
  • segunda a sexta das 19h às 22h 
Aperfeiçoamento Chat GPT na Prática:
Uso de IA generativa de forma estratégica e útil para profissionais
  • Locais: Taguatinga e Setor Comercial Sul
  • 1 semana ou 36 horas
  • segunda a sexta das 19h às 22h 
Pós: Pós Graduação em Data Science e Inteligência Artificial:
capacitação avançada em análise de dados e machine learning
  • Terça, Quinta (noite) e Sábado (manhã); 360 horas
  • registrar interesse no site do Senac DF 
  • Mais informações e inscrições o seguinte endereço eletrônico: www.df.senac.br/        
* Estagiário sob a supervisão de Mariana Niederauer   

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