Júlia Christine*
postado em 03/08/2025 06:00 / atualizado em 03/08/2025 06:00
Mariana Barreto: apoio motivacional da família foi fundamental na conquista da aprovação - (crédito: Arquivo pessoal)
A segunda edição do Concurso Nacional Unificado (CNU), conhecido como o “Enem dos Concursos”, está se aproximando. Com a avaliação, que será aplicada em dois momentos, 5 de outubro e 7 de dezembro, o medo, a dúvida e o receio de não conquistar a aprovação assolam os candidatos. Para que os concurseiros levem a melhor no processo seletivo, é necessário organização, dedicação e planejamento.
Nesta edição, segundo dados divulgados pelo Ministério da Gestão, o certame registrou 761.528 inscrições confirmadas e atraiu candidatos de todos os estados e o Distrito Federal, abrangendo participantes de 4.951 municípios. Além disso, a seleção reúne 3.652 vagas para cargos de nível médio, técnico e superior. Os convocados receberão, inicialmente, entre R$ 4 mil e R$ 16 mil.
Com uma candidatura concorrida, a seleção, criada pelo Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI), visa agilizar a contratação de servidores e preencher vagas em órgãos federais. Sendo assim, os cargos requerem pessoas qualificadas para suprir as demandas. Os candidatos devem se preparar não só para as avaliações, mas caso consigam a vaga para se destacarem na área.
O Concurso Nacional Unificado é uma prova que exige estratégia e resiliência. Entre os métodos de preparação mais eficientes estão os cronogramas de estudos, a prática de provas anteriores, o treinamento de gestão de tempo, o estudo dos temas mais cobrados e o cuidado com a saúde mental. Além disso, a antecedência nos estudos é crucial para a conquista da classificação
Ao mesmo tempo em que escrevia sua tese de doutorado, apresentada na Universidade de Leeds, na Inglaterra, Lucas de Belmont Fonseca, 30 anos, foi aprovado em primeiro lugar no CNU para o cargo de tecnologista, especialista em fomento do complexo econômico-industrial da saúde. Atualmente, trabalhando no gabinete da Secretaria de Relações Institucionais, vinculada à Presidência da República, o paraibano compartilha dicas essenciais para quem deseja atuar em algum dos cargos disponíveis no edital. Lucas recebe salário bruto entre R$ 6 mil e R$ 7 mil.
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“A tomada de decisões é essencial. A organização para traçar os melhores caminhos, a escolha do bloco, a preferência dos cargos e as videoaulas foram o preparo ideal para a minha aprovação. É importante também que os candidatos foquem nos conteúdos mais relevantes e tenham a noção de que a prova não é apenas decoreba: devem focar no que é mais abrangente”, relata.
Em apenas duas semanas, durante quatro horas por dia, Lucas focou em assistir, em média, a três videoaulas disponíveis na plataforma Estratégia Concursos. Além das aulas teóricas, fazia resumos, resolvia questões de provas anteriores e debatia os conteúdos mais requisitados pela banca com sua namorada, Mônica; e a cunhada Mariana, que já estavam se preparando, com antecedência, para o certame.
Entre todos os desafios durante a preparação para a seleção, Fonseca relata que o maior entrave foi a etapa de títulos do CNU, fase classificatória que serve para somar pontos à nota dos candidatos aprovados nas provas, valorizando formações acadêmicas e experiências profissionais relacionadas ao cargo. Todavia, Lucas não pensou em desistir em nenhum momento.
“A parte mais difícil foi a avaliação de títulos. Eu não tinha experiência profissional. Estava terminando o doutorado e tinha apenas o mestrado. Na concorrência, havia pessoas que, só com a experiência profissional, fizeram a nota máxima. Eu, por não estar inserido no mundo do trabalho, acabei não pontuando tanto quanto poderia. Mesmo com essa tensão, não pensei em desistir”, lembra.
Concursada da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Mônica Barreto Nobrega, 36, trabalhava como assistente de administração. Em fevereiro deste ano, foi aprovada no concurso do CNU para o cargo de analista técnico de críticas sociais, onde atua na formulação, implementação, monitoramento e avaliação de políticas públicas em diversas áreas sociais. O cargo fica sob a gestão do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI).
“O que me motivou a entrar no processo seletivo foi o formato da prova, que é muito diferente do padrão da carreira acadêmica. Esse concurso prioriza as experiências pessoais e os conhecimentos que foram construídos ao longo dos anos, trabalhando e também estudando política e sociedade de forma geral”, conta.
Com uma rotina puxada, Mônica tentava otimizar ao máximo a aprendizagem. A paraibana, que estudava no contraturno do trabalho, montou o seu próprio cronograma de estudos com base no edital do concurso, que é disponibilizado no Diário Oficial da União (DOU) e pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
Além dos estudos individuais, Mônica compartilhava saberes com sua irmã, Mariana, e o namorado, Lucas. “Estudar com outras pessoas foi essencial. Conversávamos muito sobre os temas da prova, trocávamos resumos e debatíamos possíveis temas de redação. Otimizamos o estudo”, comenta.
Frustrada com a vida acadêmica, Mariana Barreto Nobrega de Lucena, 38 anos, estava se preparando para fazer o concurso de analista em ciência e tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Após descobrir que o cargo estava sendo oferecido no Concurso Nacional Unificado, começou a se preparar para o certame e foi aprovada em 2025. Com doutorado, ela trabalha no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e recebe salário bruto em torno de R$ 15 mil. Com os descontos, como sindicato, previdência privada e outras deduções, o valor líquido fica em aproximadamente R$ 11 mil, podendo variar.
Entre as dificuldades, Mariana engravidou dois dias antes de saber que o concurso tinha sido prorrogado de maio para agosto de 2024. Mesmo com as mudanças no corpo, o sono excessivo e o enjoo constante, ela manteve uma rotina de aperfeiçoamento nos conteúdos até a data da prova, ampliando as matérias que ainda não havia estudado.
Quanto às dicas preparatórias, ela relata que “impor metas realistas de estudos diários, fazer resumos à mão e ter um estudo dinâmico, alternando entre ler, ver videoaulas e escrever” é excepcional. Além de tudo isso, o apoio motivacional da família foi fundamental na conquista da aprovação no CNU de Mariana.
“Foi incrível ter o apoio da minha irmã e do meu cunhado. Criamos um grupo no WhatsApp com o nome ‘Vencedores’ para nos motivar, onde compartilhávamos novidades sobre o concurso e dicas para a prova. E, quando fomos todos aprovados juntos, tivemos uma reação maravilhosa. Ficamos muito felizes e realizados, pois tínhamos nos esforçado muito para isso”, lembra.
CNU SOB O OLHAR DE QUEM ENSINA
Desde 2016, Bruno Bezerra se dedica a orientar concurseiros em busca da tão sonhada aprovação. Atual professor da plataforma Estratégia Concursos, ele acumula duas décadas de envolvimento com o universo dos certames públicos, primeiro como candidato e, hoje, como mentor e educador
Com ampla experiência na área, Bezerra afirma que, para ir bem no Concurso Nacional Unificado, é necessário ter um plano de estudos bem estruturado. “Os concurseiros precisam focar em quatro pilares principais: estudo da teoria com material direcionado para concurso, resolução de questões, especialmente da FGV, revisões frequentes e a resolução de simulados periódicos.”
O estudo dos conteúdos com um material específico para concursos é indispensável. “O ideal é utilizar materiais direcionados para esse tipo de prova, que abordem exatamente o que é cobrado nas avaliações, nem mais, nem menos. Isso evita perda de tempo com conteúdos desnecessários e garante que nada importante fique de fora”, relata.
A resolução de questões de concursos anteriores, especialmente da banca da Fundação Getulio Vargas, responsável pelo CNU, ajuda o aluno a entender como os assuntos teóricos são cobrados na prática. Além disso, é essencial para aprender o estilo da banca, que tem características muito próprias.
Comentadas pelo professor, as revisões frequentes e os simulados periódicos são de extrema relevância. “O conteúdo que não é revisado tende a ser esquecido. É essencial revisar constantemente o que foi estudado. Já os simulados ajudam a identificar os pontos fracos e, principalmente, a treinar a estratégia de prova. Isso é importante porque a banca costuma aplicar provas longas e exigentes, nas quais o gerenciamento do tempo pode ser decisivo para a aprovação”, conclui.
A estruturação do certame também merece a atenção dos candidatos. Reunindo mais de 30 órgãos do Poder Executivo Federal, a avaliação, por conta da diversidade de atividades, foi organizada em nove blocos temáticos, agrupando áreas com funções semelhantes. “O candidato só pode escolher um bloco temático, mas pode concorrer a vários cargos dentro dele, desde que cumpra os requisitos exigidos para cada cargo. Por isso, é essencial que o concurseiro entenda o perfil e as áreas de atuação de cada bloco, analise a quantidade de vagas, os requisitos de formação e a remuneração inicial.”
A preparação antecipada para esse tipo de processo seletivo é sempre recomendada. Todavia, para quem está começando a estudar agora, Bruno dá um alerta importante: “Quem deixou para estudar nos últimos minutos precisa focar em ser estratégico. O tempo é curto, não dá para estudar de forma genérica ou com métodos lentos. O ideal é usar um material que possua teoria objetiva, questões comentadas, jurisprudência e Lei Seca, tudo com foco no concurso e na banca FGV”, finaliza.
O dia da prova é decisivo, e o que o candidato pensa e faz nesse momento pode impactar diretamente seu desempenho. Para amenizar os sintomas de nervosismo e medo, o professor, já experiente, aponta caminhos estratégicos: não alimente pensamentos como “é minha última chance” ou “preciso ser aprovado a qualquer custo”; foque no que você pode controlar, resolva a prova com tranquilidade e estratégia e, por fim, tenha a mentalidade certa: “Você fez o possível”, termina.(JC)
*Estagiária sob a supervisão de Ana Sá