Pesquisa

47% dos jovens "nem-nem" têm níveis baixos de alfabetismo, aponta estudo

O estudo do Inaf mostra a correlação do acesso ao mercado de trabalho com os níveis de alfabetismo, e ressalta que jovens que trabalham e estudam apresentam os melhores indicadores nos testes

Artur Maldaner*
postado em 12/08/2025 00:02 / atualizado em 12/08/2025 00:02
PRI-0307-OPINI -  (crédito: Maurenilson Freire)
PRI-0307-OPINI - (crédito: Maurenilson Freire)

Dois a cada dez jovens brasileiros não estudam nem trabalham, e, entre eles, 47% apresentam apenas o nível elementar de alfabetismo, enquanto 18% são analfabetos funcionais, aponta o novo relatório do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf). O levantamento, que analisou brasileiros de 15 a 29 anos, alerta sobre as dificuldades de ingresso de analfabetos funcionais no mercado de trabalho, dos quais apenas 24% trabalham, e 35% não estudam mais.

O fenômeno está relacionado a baixos níveis de escolaridade, e mostra que 71% dos jovens com até o 5° ano do ensino fundamental completo são analfabetos funcionais, além de não terem oportunidades de emprego com altos níveis de responsabilidade e potencial de desenvolvimento pessoal, explica Ana Lima, coordenadora da pesquisa.

Coordenadora do Inaf, Ana Lima defende o potencial educacional do trabalho
Coordenadora do Inaf, Ana Lima defende o potencial educacional do trabalho (foto: Divulgação )

“Um dos indicadores mais interessantes que apontamos é a potência educacional do trabalho. Quando o jovem consegue conciliar trabalho e educação”, conta a economista. Os dados apontam que, da população total verificada na pesquisa, 16% conciliam trabalho e estudo, sendo a parcela com melhores índices de alfabetismo: 65% dos que trabalham e estudam apresentaram a capacidade de interpretar e compreender textos longos. 

A especialista aponta a necessidade de enxergar o estudante e trabalhador como um só indivíduo, e fomentar a criação de políticas públicas, que proponham a formação acadêmica e profissional simultânea de populações consideradas vulneráveis: “Eles não conseguem uma boa oportunidade de trabalho por falta de educação formal, e não conseguem estudar porque não têm um bom trabalho. É difícil estabelecer quem é causa e consequência”.

Desigualdades raciais e de gênero

O levantamento do Inaf afirma que as desigualdades raciais e de gênero são fatores determinantes para entender o analfabetismo funcional no Brasil, e explica que, entre mulheres analfabetas funcionais, 42% delas não estudam nem trabalham, enquanto apenas 17% dos homens analfabetos funcionais são "nem-nem". O número é razão da responsabilidade feminina de cuidado dos filhos, que impede o desenvolvimento pessoal das mulheres que não tiveram acesso à educação.

Ana Lima explica que a desigualdade de gênero no analfabetismo se manifesta em parcelas mais prejudicadas na sociedade, e que, no geral, mulheres têm mais acesso à educação e capacidade de interpretação do que homens. Mas conta que, enquanto homens analfabetos funcionais, em sua maioria, trabalham, as mulheres têm ainda mais dificuldades de encontrar oportunidades de emprego. “Não é um papo antigo, é a realidade observada na juventude de agora, do ano passado”, conta Lima.

Os dados de alfabetismo também apontam que a população negra é, no geral, mais prejudicada nos indicadores. Jovens negros possuem mais incidências de analfabetismo funcional (17% contra 13% em brancos), e menores índices de alfabetismo consolidado (40% contra 53%).

“A dificuldade da população negra é de acesso, eles têm menos oportunidades, muitas vezes caracterizadas por questões de ambientação social”, explica a coordenadora, que aponta o Ensino de Jovens e Adultos (EJA) como uma solução que está sendo estudada para combater  as desvantagens da população negra. De acordo com Lima, as mulheres negras são as mais atingidas pelas faltas de oportunidades: “É uma soma de vulnerabilidades”.

Indicador 2024

No ano de 2024, o Indicador de Analfabetismo Funcional também destacou um aumento dos analfabetos funcionais na população jovem, que foi de 14%, em 2018, para 16%, em 2024, entre pessoas de 15 a 29 anos. O Inaf identifica o  analfabetismo funcional como a incapacidade de entender textos mais longos e complexos, números maiores, e de realizar tarefas com base na escrita e leitura. Porém, são pessoas que conseguem realizar tarefas simples do dia a dia.

Confira aqui o relatório completo de 2024.

Estagiário sob a supervisão de Ana Sá

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