Patrick Selvatti
postado em 24/08/2025 06:00 / atualizado em 24/08/2025 06:00
Marcelo Luis (Geração X), Adriana Ferreira (Geração Y ou Millenial), Gabrielly Souza (jovem aprendiz, da Geração Alpha) e Henrique Souza (analista de crédito, da Geração Z) - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Na sala de reuniões de uma empresa na capital do país, uma cena corriqueira revela um retrato histórico: em uma mesma mesa, um analista de crédito de 27 anos comenta sobre métricas de desempenho, uma auxiliar administrativa de 39 anos fala sobre dificuldades de adaptação tecnológica, um veterano do departamento pessoal, de 55, reforça a importância da disciplina, enquanto uma jovem aprendiz, de apenas 15, escuta, atentamente, anotando tudo no celular. Quatro gerações, lado a lado, compartilham a rotina de trabalho.
Esse quadro tornou-se comum em muitas organizações. Baby Boomers, Geração X, Millennials, Z e, agora, a Alpha formam um mosaico etário que desafia práticas tradicionais de gestão e abre espaço para a construção de novos modelos de liderança, comunicação e remuneração. No tempo em que a regulamentação da profissão de administrador completa 60 anos, fazer a gestão do capital humano parece ser um dos grandes desafios que atravessam as décadas. Entretanto, se a diversidade de idades traz choques e dificuldades, ela também pode se transformar em um dos maiores ativos das empresas.
Para Alexsandra Leite, conselheira do Conselho Regional de Administração (CRA-DF) e consultora especialista em Desenvolvimento Humano e Organizacional, se há um impacto negativo, não está na convivência em si, mas em ignorar que ela existe. "Nós vemos, hoje, muitas empresas que não estão entendendo que existem essas gerações trabalhando juntas e que é uma característica de cada geração as expectativas e a forma com que elas lidam com o trabalho", explica.
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A especialista exemplifica: "Uma geração Baby Boomer não espera que o trabalho a faça feliz. Ela espera que o trabalho dê o resultado financeiro que ela está ali para se propor. O que é diferente, por exemplo, da geração Z, que espera que o trabalho a faça feliz. E se o trabalho impactar na qualidade de vida, ela sai".
Na prática, ignorar essas diferenças gera problemas de relacionamento interno e, principalmente, uma frustração da gestão. "Nós vamos ver líderes mais estressados, líderes mais frustrados e com baixos resultados por conta das expectativas diferentes. Além disso, vai impactar na rotatividade e também dificuldade de contratação", completa Alexsandra.
Multiforme sabedoria
Por outro lado, se bem administrada, essa diversidade pode ser muito mais positiva do que negativa. "Nós vamos ter uma multiforme sabedoria, porque cada geração vem com a sua sabedoria, vem com a sua forma de fazer uma leitura do mundo, de solucionar as coisas. Identificarmos essas diferenças vai trazer para dentro de uma empresa soluções diversas", afirma Alexsandra.
A chave é entender o que cada geração traz de melhor. "Como líder, se eu tenho um problema que exige mais paciência e resiliência, eu sei que talvez uma geração mais experiente vai ter mais facilidade. Agora, se eu tenho algo que exige uma visão tecnológica, uma visão mais rápida, talvez a geração Z esteja mais à frente. Temos que utilizar disso em benefício das soluções corporativas".
io das soluções corporativas". Na Alinutri Nutrição Animal Ltda, essa convivência multigeracional é prática diária. Henrique Souza, 27 anos, da Geração Z, lidera o setor financeiro e sente o peso de gerenciar colegas mais velhos e mais novos. “Com os mais velhos, sempre tive facilidade, porque convivi muito nesse ambiente. Já com os mais novos, ainda é um desafio. Está em minhas mãos o futuro de uma profissional que está começando, e preciso passar todo conhecimento possível”, admite o gestor.
Para Henrique, as diferenças aparecem sobretudo na comunicação. “Quando parte do jovem para o mais experiente, vira troca de conhecimento — boas ideias e conselhos são sempre bem-vindos. Mas quando parte do mais velho para o iniciante, pode haver receio de não ficar claro, o que exige acompanhamento e revisão.”
Essa percepção também é compartilhada por Adriana Ferreira, 39, da Geração Y (Millennial). Ela enxerga ganhos claros na parceria com gestores mais jovens. “Mesmo sendo mais novo, o Henrique tem muita experiência e maturidade. Aprendo diariamente. A geração dele tem mais facilidade em lidar com mudanças tecnológicas, mas nós podemos ensinar calma e foco”, analisa.
No extremo oposto da experiência, a jovem aprendiz Gabrielly Souza, 15, vive o desafio de ser a mais nova do grupo — e talvez a primeira representante da Geração Alpha a entrar no setor. “Aprendi coisas que não teria oportunidade de aprender em outro lugar. O que mais absorvo dos colegas mais velhos é respeito, organização e foco”, observa a mais digitalmente conectada da turma.
Já para Marcelo Luis, 55 anos, da Geração X, o valor está justamente em equilibrar ritmos. “É gratificante dividir conhecimento com os jovens. Como também sou pai de adolescente, vejo muitas semelhanças. Mas precisamos mostrar que, mesmo com tecnologia, a organização continua sendo essencial para alcançar resultados”, ensina o veterano.