Por Sofia Sellani — A análise Educação de jovens e adultos: acesso, conclusão e impactos sobre empregabilidade e renda indica que a conclusão do EJA gera impactos positivos na vida profissional dos brasileiros. Segundo dados, entre pessoas de 19 a 24 anos, a renda mensal do trabalho aumenta, em média, 7,5%. Em comparação, no meio de jovens de 19 a 29 anos, o crescimento é de 4,5%.
O levantamento lançado pelo Itaú Educação e Trabalho em colaboração com a Fundação Roberto Marinho teve parte do estudo feita a partir de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), por meio de um painel que cobre o período de 2014 a 2022. Ao acompanhar os mesmos indivíduos durante cinco visitas consecutivas — com intervalos trimestrais — foi possível reunir informações a respeito da escolaridade, ocupação e rendimento dos avaliados.
Para os pesquisadores, a mudança positiva observada pelo período de um ano reforça o impacto imediato do diploma no ensino médio obtido pelo EJA. Segundo Diogo Jamra, gerente de Monitoramento, Avaliação, Articulação e Advocacy do Itaú Educação e Trabalho, a EJA auxilia aqueles que foram negligenciados e não conseguiram concluir os estudos. “Essas pessoas são o resultado de um longo processo de exclusão, é necessário olhar para essa população e buscar uma forma de fazer com que a EJA tenha significado”, afirmou.
Leia também:
Entretanto, a pesquisa exibe que o acesso e a permanência nos estudos podem ser comprometidos por barreiras de idade, trabalho e residência. Apontado pelo Censo Demográfico de 2022, o Brasil possui 66,6 milhões de pessoas com 15 anos ou mais fora da escola ou sem concluir a educação básica, dado que corresponde a 32,8% da população brasileira. Entre o resultado, 11,4 milhões são analfabetos.
Declínio de inscritos
Na pesquisa, é observado que o interesse pela EJA diminui de forma gradual desde 2007. Em 2024, apenas 2,4 milhões de matrículas foram realizadas, sendo que em mais de mil municípios não houve oferta de turmas. Em contrapartida, no ano de 2008, 4,9 milhões de inscrições foram realizadas.
Uma das estratégias para virar o quadro é integrar a EJA à Educação Profissional e Tecnológica (EJA - EPT), prevista na Meta 10 do Plano Nacional de Educação, que estipula que 25% dos registros sejam nessa modalidade. Porém, no último ano, o índice alcançou apenas 5,9%.
Por mais que o número de municípios que oferecem essa integração tenha mais que dobrado nos últimos cinco anos — de 6,3% em 2019 para 13% em 2024 — a oferta, segundo o registro, segue baixa. O estudo compara a trajetória de crescimento com a EPT articulada ao ensino médio regular (17,2%), e pontua que os resultados estão distantes da estratégia nacional de crescimento.
A pesquisa com base nos dados da Pnad Contínua (2019- 2022), investigou os determinantes de matrícula, evasão e conclusão na educação de jovens adultos, e três perfis foram analisados: jovens de 15 a 20 anos matriculados no ensino regular, pessoas de 21 a 29 anos que se encontravam fora da escola sem ter concluído a educação básica e o último grupo formado por cidadãos de 21 anos os mais matriculados no EJA.
O resultado mostra que entre os jovens de 15 a 25 anos, a evasão do ensino regular é mais comum do que a migração para a EJA. Ser homem, negro, ter idade avançada, atraso escolar e baixa renda aumentam as chances de abandonar os estudos ou migrar para a EJA.
No segundo grupo, a chance de matrícula é maior para mulheres e desempregados. O último perfil estudado exibe que, embora as mulheres tenham menor chance de evadir, ser mãe aumenta essa possibilidade. Porém, ser responsável pelo domicílio, residir em áreas rurais e estar trabalhando aumenta a probabilidade de desistência tanto no grupo dois quanto no três.
Resultados
O estudo também analisou o perfil dos inscritos no Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) e quais participantes têm maior probabilidade de obter a certificação. Os dados mostram que o número de inscrições vem caindo nos últimos anos, saindo de 1,6 milhão em 2022 para 900 mil em 2024.
Segundo a especialista em dados de juventudes, educação e mercado de trabalho Katcha Poloponsky, essa pesquisa reafirma o caráter do direito fundamental da educação. “É fundamental integrar monitoramento e avaliações de impacto ao ciclo da EJA para aprimorar e melhorar a experiência” , pontuou. Para Poloponvsky, apesar dos desafios, a pesquisa contribui para a conscientização; e o investimento na política pública é essencial para que o número de matrículas volte a crescer.
Entretanto, a quantidade de pessoas que deixaram de fazer a prova é alta, onde 58% dos 1,2 milhão de inscritos em 2023 não compareceram à avaliação. Nesse mesmo ano, apenas 46% dos candidatos foram aprovados. O apontamento afirma que quanto maior a faixa etária, menor é a chance de obter a certificação.
As mulheres representam a maioria dos candidatos (56%), somando 504 mil inscritas. Entre o valor, 383.040 mil (76%) são mães. Pessoas negras representam 64% dos inscritos, representando 576.000 matrículas, e quase metade declarou não possuir ou viver com renda familiar de até um salário mínimo. Apesar disso, 585.000 (65%) dos candidatos exercem algum tipo de atividade.
Impacto
A pesquisa revela que os efeitos positivos na vida de jovens e adultos é instantâneo. Para Alexandre da Silva, que conseguiu se formar após ter participado da EJA “ Estudar no programa me incentivou a buscar uma faculdade”, afirmou. Ao concluir os estudos, Silva se graduou no curso de sistema de informação e, atualmente, é engenheiro de software e cursa uma segunda graduação, de gastronomia.
* Estagiária sob a supervisão de Ana Sá
