Pós-graduação

Alunas do UDF conquistam doutorado sem necessidade de mestrado

A história de duas jovens pesquisadoras que conquistaram espaço na ciência e, aos 23 e 25 anos, cursam o doutorado em biotecnologia

Yandra Martins*
postado em 09/11/2025 06:00 / atualizado em 09/11/2025 06:00
Amanda Fonseca e Lana Milhomen foram aprovadas no doutorado sem a necessidade de cursar mestrado -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Amanda Fonseca e Lana Milhomen foram aprovadas no doutorado sem a necessidade de cursar mestrado - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Lana Passos Milhomem, 23 anos, graduada em nutrição, e Amanda Fonseca da Costa, 25,  em enfermagem, referem-se à parceria formada desde a época em que estudavam no Centro Universitário do Distrito Federal (UDF) com um apelido carinhoso: as “Parceirinhas de IC (Inicação Científica)”. Naquele tempo, elas iniciaram no mundo da pesquisa científica de ponta. Inspirações para as próximas gerações de pesquisadoras no Brasil, ambas obtiveram aprovação direta para o doutorado do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), em Campo Grande (MS). Tudo isso sem necessidade de mestrado.   

Amanda atribui o resultado da aprovação ao impacto gerado pelas pesquisas realizadas durante os projetos de Pibic — iniciação científica —, desempenhados pelas jovens. No entanto, também agradece à família e aos orientadores que, segundo ela, as “criaram” e ajudaram no processo para que se lançassem no mundo da pesquisa. Lana, por sua vez, externa gratidão, em especial, aos pais e irmão. De acordo com ela, a família investiu no apoio emocional e no incentivo aos estudos.
Lana concorda com a colega de doutorado e comenta: “Sem nossos familiares, não estaríamos aqui! Isso é, realmente, uma conquista coletiva: nossa, da família e dos  orientadores, que nos criaram nesse meio acadêmico, também”. 
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Para conquistarem a façanha do “salto” da graduação para o doutorado, a jornada traçada por ambas não foi fácil. Ao Correio, elas comentaram as dificuldades relacionadas a fazer pesquisa no Brasil, principalmente, como mulheres. Entre os entraves, estão a falta de equipamentos, os prazos curtos, a falta de incentivo do Estado, a ausência de recursos e a desvalorização dos pesquisadores. Apesar das dificuldades, destacaram que o desejo de melhorar e transformar o futuro não mudou. 

Mulheres na ciência 

Em um universo majoritariamente masculino, mulheres alcançando posições de destaque tendem a surpreender outros da mesma área. O mundo da ciência é amplo e engloba muitos aspectos a serem estudados, e Lana citou o privilégio de ser uma mulher a conquistar, cada vez mais, espaço nessa categoria. 
A doutoranda lembrou uma fala de um dos orientadores que esteve presente ao longo do período em que elas integravam o mesmo grupo de iniciação científica, o fundador e CEO da Peptidus Biotech — empresa de biotecnologia —, Bernardo Petriz, 42. Ao entrar no laboratório, ele brincou, certa vez: “A ciência, agora, é das mulheres”. 
Para Lana, a ciência é um campo fértil. Ao ver cada vez mais mulheres adentrarem nele, ela sente-se privilegiada por fazer parte. “Estar na ciência, como mulher, somente comprova como somos capazes”, disse. A jovem pesquisadora referiu-se à conquista do doutorado como uma das ferramentas que a incentiva, cada vez mais, a estar nesse campo e a mostrar a capacidade do poder feminino. 
Amanda concordou com a amiga e afirmou que “não existem barreiras” ou limites para as mulheres em qualquer espaço que escolham conquistar e crescer cada vez mais. 

Pesquisas de ponta 

Lana e Amanda com os orientadores Filipe Moura e Bernardo Petriz
Lana e Amanda com os orientadores Filipe Moura e Bernardo Petriz (foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

As duas jovens iniciaram as trajetórias científicas em 2021, como parte de um grande grupo de pesquisa, orientado pelo professor universitário e empresário Octávio Franco, 49, na Universidade Católica de Brasília (UCB). Ao mesmo tempo, desenvolviam pesquisas na UDF. Ao longo do período, foram coorientadas pelos professores Filipe Moura, 31, e por Bernardo Petriz. Enquanto Moura guiou Lana, Amanda recebeu o auxílio de Petriz, ao focar sua pesquisa na obesidade.
Para o doutorado, Amanda propõe sair um pouco da área de formação em enfermagem e iniciar o desenvolvimento de peptídeos que trabalham em função do agronegócio — em especial no que se refere à plantação de soja, área de destaque no país. Sua motivação é o combate a pragas em um setor que fomenta bilhões de reais para a economia nacional, segundo ela. 
Lana deu continuidade ao que estudava nos grupos de pesquisa: a obesidade. Seu projeto, focado em uma inovação para a área da nutrição, trabalha com peptídeos sintéticos que inibem o apetite e levam soluções no manejo da obesidade. Ela considera a biotecnologia a profissão do futuro, um setor que permite transformar o que a natureza oferece à sociedade em produtos que auxiliam em diversos aspectos da vida. 

Trajetória acadêmica 

Amanda na apresentação do TCC, no UDF
Amanda na apresentação do TCC, no UDF (foto: Arquivo pessoal)

Moura tem acompanhado a trajetória de amadurecimento acadêmico e humano durante a orientação de Lana, desde o início da graduação até a conclusão e, agora, no doutorado. Ele destacou ser uma honra fazer parte  desses momentos. Para o professor, a conquista da orientanda reverbera em seu trabalho, pois representa o poder transformador da pesquisa científica.
O docente destaca que a ciência muda vidas, não apenas em termos profissionais e financeiros, mas também no sentido de crescimento pessoal e de elevação humana. Ele ressalta: “Acompanhar o desenvolvimento e as conquistas da Lana me inspira a continuar formando novos pesquisadores, fomentando o pensamento crítico e criando projetos que possam, de fato, transformar vidas e contribuir para o avanço da saúde pública.”
Octávio Franco, que segue como orientador de ambas na fase do doutorado, ressaltou as habilidades apresentadas pelas alunos. Segundo ele, desde o primeiro contato que teve com elas no campo científico, percebeu o diferencial na dedicação e na qualidade de pesquisa. Para o professor, ser orientador trata-se de ajudar o mundo com ciência, por meio do treinamento de pessoas que tenham os mesmos objetivos. 
Bernardo Petriz, por sua vez, acredita que o avanço das alunas funciona como uma espécie de validação do impacto gerado por um grupo de pesquisa. Ele comentou sobre a enorme satisfação por acompanhar o crescimento acadêmico e científico de alunas que acompanhou durante a graduação. Na opinião dele, o êxito mostra que o ambiente laboratorial criado foi fértil, formativo e transformador. 

Doutorado direto 

Lana com os pais e o irmão em evento na UnB
Lana com os pais e o irmão em evento na UnB (foto: Arquivo Pessoal)

O doutorado direto é a possibilidade de chegar ao patamar de doutor sem a necessidade de passar pela etapa do mestrado. A modalidade do doutorado direto funciona dentro do programa de pós-graduação em algumas universidades do Brasil. 
No caso de Lana e de Amanda, segundo a primeira, um dos orientadores — professor de pós-graduação de biotecnologia na UCDB, em Campo Grande — sugeriu aos estudantes do grupo orientado em Brasília que se candidatassem ao mestrado ou ao doutorado na universidade. 
Foi então que elas decidiram tentar essa possibilidade, que tinha como critérios a participação em iniciação científica e a publicação de artigos. Ambas enquadraram-se nos requisitos com os quatro anos de pesquisa e com os textos escritos em revistas internacionais, que, segundo Lana, contam como um bom fator de impacto. 
Atualmente, elas estão matriculadas no doutorado na UCDB, mas realizam as atividades práticas na UCB. A duas amigas destacam que vivem no trânsito entre as duas cidades para continuar o processo. Algumas vezes no semestre é necessário ir até Campo Grande para resolver burocracias e participar de aulas teóricas. Isso não foi o bastante para desanimá- -las, e elas admitem sentir muito orgulho pela conquista. 
* Estagiária sob a supervisão de Ana Sá 

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