Formação

ICL lança cursos em teoria crítica para reinterpretar o Brasil

O reitor do instituto, Jessé Souza, conversou com o Correio sobre as novas formações que estão com inscrições abertas

Eduarda Esposito
postado em 21/12/2025 06:00 / atualizado em 21/12/2025 06:00
Reitor do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), Jessé Souza  -  (crédito: ICL/Divulgação)
Reitor do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), Jessé Souza - (crédito: ICL/Divulgação)
 
Sucesso absoluto de adesão, chegou ao Brasil, no último mês, a primeira turma da pós-graduação de Teoria Crítica da Sociedade. O curso, que foi desenvolvido em parceria com a Universidade de Milão, teve as mil vagas ocupadas rapidamente, e o Instituto Conhecimento Liberta (ICL) abriu uma turma inédita no país, trazendo um corpo docente de peso e oferecendo o curso totalmente on-line. Com o mote “Num mundo marcado por desigualdade, crise ambiental, manipulação midiática e alienação cultural, compreender as engrenagens que sustentam o poder é um ato de transformação”, as inscrições foram abertas em novembro, e as aulas terão início em fevereiro. A nova pós-graduação abordará filosofia, política, economia, psicanálise e sociologia e será ministrada de forma 100% on-line, com 360 horas. 
Outra novidade do instituto é a abertura de uma nova turma da pós-graduação Repensando o Brasil: Sociedade, Política e História, que é desenvolvida com a Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp). As inscrições para a nova turma começaram no último domingo (14/12), durante a transmissão ao vivo do instituto com o reitor Jessé Souza e o professor Eduardo Moreira. O ICL está ofertando preços promocionais no site do instituto até 24 de dezembro. As inscrições dos dois cursos podem ser realizadas no portal do ICL, www.iclpos.com. br até o fim de janeiro.  
As duas formações reúnem um corpo docente considerado raro em profundidade e diversidade intelectual pelo ICL. A turma de “Repensando o Brasil” conta com Jessé Souza, João Cezar de Castro Rocha, Ladislau Dowbor, Muniz Sodré, Lindener Pareto, Marilena Chauí e Renato Janine Ribeiro. Já “Teoria Crítica da Sociedade” terá como professores Jessé Souza, Marcia Tiburi, Lindener Pareto, Álvaro García Linera, Ladislau Dowbor, Muniz Sodré, Elias Jabbour, Maria Ribeiro, Reginaldo Nasser, Renato Janine Ribeiro, Vladimir Safatle, e a  maior referência do mundo em Teoria Crítica e uma das mais influentes filósofas políticas e teóricas críticas feministas da contemporaneidade, Nancy Fraser 
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Segundo o instituto, a combinação desses nomes juntamente com o programa de bolsas para professores e grupos minoritários, que foi recém- anunciado pelo ICL, demonstra o esforço em democratizar o acesso à informação crítica de qualidade no Brasil. O instituto oferece 100 bolsas para professores do ensino público, principalmente para mulheres negras, com o objetivo de reduzir desigualdades educacionais. “A Teoria Crítica propõe a união do saber às ações, aliando reflexão profunda e prática social”, explicou Jessé Souza, reitor do ICL, sobre a pós.  
“Teoria Crítica da Sociedade” tem as seguintes disciplinas na grade: fundamentos da teoria crítica; racionalização e emancipação; teoria crítica da cultura; teoria crítica do direito; o racismo cultural da dominação global; justiça social, insurreição e luta pelo reco nhecimento; capitalismo, gênero, raça e classe; teoria Marxista como ciência do poder político e do Estado; psicanálise, afetos e política;  e democracia e poder popular no Brasil e América Latina. 
Reitor do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), Jessé Souza
Reitor do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), Jessé Souza (foto: Divulgação/Instituto Conhecimento Liberta (ICL))
Já “Repensando o Brasil: Sociedade, Política e História”, tem as matérias: conceitos filosóficos para ler o Brasil; narrativas da história do Brasil; problemas brasileiros em perspectiva sociológica; teorias políticas para interpretar o Brasil; fundamentos da economia brasileira; a razão africana no Brasil e cultura política e identidade no Brasil. Ao Correio, o reitor Jessé Souza falou um pouco sobre as novas turmas de pós-graduação, a importância do ensino no Brasil e o que é a teoria crítica, confira:  
Reitor, como foi a ideia de criar uma pós-graduação para Teoria Crítica da Sociedade?
A nossa ideia em montar uma pós-graduação em teoria crítica surgiu da compreensão de que as pessoas precisam entender o mundo e a lógica da sociedade, como ela funciona. E, para isso, temos que muitas vezes desconstruir a ideologia que foi montada pela elite para legitimar a opressão de muitos. Então, é um curso que a pessoa não vai só aprender, mas vai se empoderar, porque nada é mais importante do que o conhecimento. E nada é tão transformador do que o conhecimento crítico. E é exatamente isso que o ICL decidiu fazer, cumprindo a missão que o instituto sempre se dedicou. 
Qual o objetivo do instituto com o curso de pós-graduação?
O objetivo do ICL, com apoio da Universidade de Milão, é contribuir para o pensamento crítico no nosso país. Foi por conta disso que o instituto foi criado. Todos os nossos cursos não são cursos tradicionais ou conservadores. Não, eles repensam o país e o mundo. É exatamente dessa maneira que a gente contribui para um país melhor, mais justo e mais democrático. 
Como foi realizada a montagem do corpo docente para os dois cursos?
A montagem do curso é feita por mim, como reitor, e também pelo conselho pedagógico, com excelentes pessoas, todos professores com doutorado e que dão aula em ótimas universidades no nosso país. A gente escolhe os docentes com um enorme cuidado e sempre procuramos contratar os melhores que estão no mercado, seja fora do país, ou aqui dentro. 
Quanto tempo de duração da pós-graduação?
A duração da nossa pós-graduação é de 12 meses. Contudo, como a gente sabe que as pessoas têm que ter um espaço de manobra, porque afinal, a gente não pode exercer uma pressão, as pessoas trabalham, estudam também. Então, decidimos dar mais seis meses para aqueles que têm alguma dificuldade no curso para dar a possibilidade de finalizar, aumentar e alargar a possibilidade da conclusão do curso. 
O senhor é um dos professores, qual será sua matéria e o que espera ensinar para seus alunos?
A matéria que eu vou ensinar, juntamente com o professor Reginaldo Nasser, vai ser o racismo global, ou seja, como é que funciona o mecanismo que legitima o saque dos países do norte — Europa e os Estados Unidos —, sobre os países que estão na parte sul do nosso planeta, como América Latina, África, Ásia, etc. Porque para oprimir um povo, é necessário fazer com que ele aceite se ver de uma forma inferiorizada. Por exemplo, como um povo corrupto, como um povo preguiçoso, etc. Você tem que desumanizar as pessoas. E é exatamente esse fenômeno que a gente vai analisar com muito detalhe nessa disciplina. 
Com o sucesso da turma em parceria com a Universidade de Milão e da turma anterior de “Repensando o Brasil”, qual a expectativa do ICL com os cursos?
O instituto espera ampliar o pensamento crítico no país. O ICL entende que a reflexão crítica permite que as pessoas não se deixem enganar e nem manipular. O propósito da pós-graduação é empoderar os alunos com conhecimento, estimular a compreensão da sociedade e fortalecer uma visão mais justa, democrática e consciente da realidade. 
Na sua visão, qual a importância da pósgraduação “Teoria Crítica da Sociedade” ter o foco em filosofia, teoria social e debate público?
O foco nessas áreas está diretamente ligado ao caráter transformador do curso. A reflexão produzida pela filosofia e pelas ciências sociais é o que permite mudar o pensamento das pessoas, compreender a realidade e identificar formas de manipulação. A proposta é formar indivíduos empoderados pelo conhecimento. 
Reitor, como o senhor definiria a importância de fomentar uma formação em Teoria Crítica no Brasil?
A formação em Teoria Crítica permite compreender como a sociedade funciona, como são construídos mecanismos de dominação e como surgem narrativas que le gitimam a opressão. Esse conhecimento é essencial para que as pessoas deixem de acreditar em mentiras e manipulações e desenvolvam autonomia intelectual. 
Como o senhor avalia o cenário atual?
Acredita que falta pensamento crítico na população? Sim, obviamente. Uma população que foi privada de conhecimento, de autoconhecimento e de informação isenta. Não vão mostrar os esquemas que estão por trás para deixar o povo pobre, ninguém explica isso. E o povo não sabe quem é o seu inimigo, ou seja, quem o faz pobre num país em que todos nós sabemos que é um país rico. 
O curso é voltado para professores. Acredita que pode haver incremento de pensamento crítico nas escolas com essa formação?
Sim, temos, inclusive, um programa para dar bolsas de estudo exatamente para professores de ensino fundamental, o que é de extrema significância, porque essas pessoas têm dificuldade de estudarem, de se aperfeiçoarem. E o curso é uma forma muito interessante de que isso possa acontecer. 
Qual a perspectiva do senhor para o futuro?
É mais otimista ou pessimista? Eu não sou nem otimista e nem pessimista, porque eu acredito que as coisas podem mudar a cada instante. Não existe um destino inexorável que a gente tem que cumprir. Sempre depende da luta política. A luta política é que decide o mundo. E a luta política se dá no tempo presente. 
Como o ICL deseja reinterpretar o Brasil?
Ora, o instituto vai reinterpretar o Brasil, aliás, como eu fiz em toda a minha obra, mostrando que o pensamento paradigmático, e mais importante hoje em dia no país, é um pensamento elitista, montado para culpar o próprio povo, ou seja, culpar a vítima. Então, você tem aí a coisa perfeita para que se tenha escravidão sobre outras máscaras e a não participação popular. Exatamente porque essas ideias, hoje em dia, influenciam tanto a direita quanto a esquerda e a gente precisa mudar as ideias para poder mudar o país. Sem mudar as ideias, não há mudança de comportamento. 

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