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Da escola pública para a UnB: futuros calouros contam a rotina de estudos

Atualmente, as cotas para estudantes que cursaram todo o ensino médio em colégios do Estado reserva para eles metade das vagas nos processos seletivos. Futuros calouros compartilham como era a rotina antes do ingresso no ensino superior

Ana Luisa Araujo
postado em 06/07/2022 06:00 / atualizado em 06/07/2022 20:20
 (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A.Press)
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A.Press)

Desde que uma lei federal de 2012 alterou o sistema de concorrência nas instituições de ensino superior e técnico, o número de ingressantes em cursos de graduação se tornou mais equilibrado entre ex-alunos de colégios públicos e particulares. A norma reserva de metade das vagas nos processos seletivos para quem cursou todo o ensino médio nas escolas do Estado. Na mais recente etapa do Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília (UnB), referente ao triênio 2019-2021, 1.060 delas se destinaram a candidatos desse sistema de cotas.

A política afirmativa transformou a UnB em um ambiente mais diverso e deu oportunidade de estudos a alunos do ensino médio com realidades bem diferentes. Uma das candidatas do PAS que não conseguiu conter a felicidade com a notícia da aprovação em medicina foi Ester Ribeiro, 17 anos. Com passagem pelo Centro de Ensino Médio Integrado à Educação Profissional e Técnica do Gama (Cemi) e pelo Centro de Ensino Médio 1 da região administrativa, ela enfrentou não só um grande número de concorrentes, mas os efeitos da pandemia. "Cursei segundo e terceiro anos praticamente on-line. Pela manhã, fazia trabalhos e tarefas da escola, com atenção maior para as matérias em que tinha mais dificuldade, como física e química", relembra.

  • Arquivo pessoal
  • Ester estudou em colégios do Gama e conseguiu fazer curso preparatório Ana Luisa Araujo/CB
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  • Matheus aguardava resultado e, agora, vai cursar engenharia espacial Arquivo pessoal

No segundo ano do ensino médio, Ester começou um curso preparatório voltado ao PAS. No entanto, para conseguir a oportunidade, os pais da jovem tiveram de contar com a ajuda de uma tia da adolescente para conseguir custear os estudos, pois a família não tinha condições. "Foi muito importante esse apoio e essa união para me ajudar. Entrei não só como cotista de escola pública, mas de baixa renda e de pessoa PPI (preta, parda ou indígena)", completa a nova caloura, que realizou um sonho de infância. "Desde os 3 anos digo que quero ser médica. Sempre falei que queria me tornar uma profissional da saúde."

Os aprovados no PAS 2019-2021 começam as aulas presenciais na UnB em outubro. Até a próxima semana, eles terão de enviar os documentos necessários para ter a inscrição homologada. Ex-estudante da rede pública do Distrito Federal, no Gama, Matheus de Melo Pinheiro, 18, está entre os próximos calouros da instituição de ensino. Ele relata que, ao fazer as provas, chegou a se questionar se teria capacidade de se sair bem "nessa competição". Contudo, teve êxito e, agora, vai cursar engenharia aeroespacial.

A trajetória até alcançar o resultado não foi fácil. À época da escola, Matheus só podia se dedicar aos estudos à noite. Depois de concluir o ensino médio, teve de trabalhar com o pai. Enquanto aguardava o resultado do PAS, tentou ingressar na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, mas não passou — o que não chegou a se tornar um problema, pois a aprovação na UnB veio na sequência. "No ano passado, eu ainda tive uma perda familiar, meu avô. Ele sempre me deu apoio e dizia que, quando eu me formasse (no ensino básico), ele pagaria minha faculdade. Queria muito que ele estivesse aqui para ver isso", lamenta.

Morador do Itapoã, Paulo Victor Chagas, 18, cursava letras no Instituto Federal de Brasília (IFB), mas aguardava, também, o resultado do PAS, divulgado na segunda-feira. Com a aprovação em medicina veterinária, o calouro pretende se dedicar integralmente à Universidade de Brasília a partir de agora. Ele conta que, quando estudava no Centro de Ensino Médio 1 do Paranoá, dedicava de seis a oito horas do dia se preparando para o exame. O planejamento incluiu o acompanhamento de aulas on-line, a resolução de exercícios e a inscrição em uma plataforma de dicas para participantes das três etapas. "É muita emoção, é um sonho, é o que sempre quis para minha vida. Não consigo acreditar que esse momento finalmente chegou para mim", celebra.

Posição da Secretaria de Educação

A secretária de Educação do Distrito Federal, Hélvia Paranaguá, ressalta o trabalho feito pelos professores da rede pública de Ensino do DF durante a pandemia para que todos os alunos fossem atendidos. “Esse resultado é fruto do trabalho da nossa rede e principalmente dos nossos professores, que, mesmo diante das dificuldades encontradas no ensino remoto, não mediram esforços para levar conhecimento aos estudantes”, disse.

 

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