Guerra santa

Maçonaria tem relação com satanismo? Entenda regras e história da organização

Após viralizar um vídeo em que o presidente Jair Bolsonaro discursa em uma loja maçônica, o Google tem registrado um aumento de pesquisas por palavras que associam Bolsonaro à maçonaria e relacionam, incorretamente, o grupo com seitas satânicas

Francisco Artur
postado em 06/10/2022 17:36 / atualizado em 06/10/2022 17:36
Na Câmara Federal, em 2016, maçons realizam ato contra a corrupção. Essa bandeira é um dos valores difundidos nas lojas maçônicas. -  (crédito: Marcelo Cmargo/Agência Brasil)
Na Câmara Federal, em 2016, maçons realizam ato contra a corrupção. Essa bandeira é um dos valores difundidos nas lojas maçônicas. - (crédito: Marcelo Cmargo/Agência Brasil)

Após um vídeo viralizar, nesta semana, onde o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), discursa em uma loja maçônica, no ano de 2017 — quando ainda era deputado federal —, o Google tem registrado um aumento de pesquisas por palavras que associam Bolsonaro à maçonaria e relacionam, incorretamente, esse grupo de pessoas a uma espécie de sociedade secreta e até com seitas satânicas.

Diante disso, o Correio contactou algumas lojas maçônicas a fim de explicar o que significa maçonaria, quais as regras para participar deste grupo seleto de homens e se existe alguma relação com religiões. O primeiro ponto é desmistificar: maçonaria não é “do diabo” — como questionaram diversos usuários no buscador do Google —, e não tem relação com o satanismo ou com práticas esotéricas.

Para ser maçom, de acordo com a Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil (CMSB), basta apenas acreditar em Deus. Essa crença, no entanto, não necessariamente deve manifestar-se por meio de uma religião.

Ou seja, conforme os critérios da organização de maçonaria intitulada Grande Oriente do Brasil (GOB), a inclusão de pessoas em uma loja maçônica não tem relação com religiões. Mesmo com essa distinção, as igrejas católica e neopentecostais recusam que seus fiéis participem de grupos maçônicos.

No catolicismo, as medidas contrárias à maçonaria datam desde o século 18. À época, em 1738, o papa Clemente 12 proibiu os fiéis de se tornarem maçons — e os católicos que desrespeitassem a regra seriam excomungados.

Nesta época, o mundo ocidental registrava levantes de movimentos iluministas que questionavam o poderio político e social da igreja. Entre os revoltosos, havia líderes maçons, como foi o caso de Jean-Paul Marat e La Fayette - dois líderes da Revolução Francesa.

No Brasil, a participação de maçons em fatos marcantes da história pode ser exemplificada pelo rei que declarou a Independência do país, em 1822, Dom Pedro I, além de Marechal Deodoro da Fonseca — que proclamou a República, no ano de 1889 — e o jurista Ruy Barbosa, que foi o responsável por escrever a primeira Constituição republicana brasileira.

Atualmente, o catolicismo ainda mantém a repulsa à maçonaria. O Vaticano declarou, em 1985, reiterar a proibição do fiel se inscrever em lojas maçônicas. “Os fiéis que nelas se inscreverem estão em estado de pecado grave e não podem se aproximar da Sagrada Comunhão", diz o documento.

No caso das igrejas evangélicas, há instituições que consideram a maçonaria como pecado e outras que aceitam fiéis participantes deste grupo.

O que faz um maçom

Nem religião, nem seita e tampouco um grupo político. A maçonaria é um grupo de homens que se reúnem periodicamente para discutir e fomentar valores morais e solidários.

O objetivo desta comunidade é, de acordo com a Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil, transformar “homens bons em melhores através da livre investigação da verdade, do exame moral e da prática de virtudes”.


Ser revolucionário é uma condição na maçonaria?

Embora a história apresente exemplos de mártires oriundos da maçonaria, ser revolucionário não é pré-requisito para integrar uma das organizações mais antigas do mundo que teve origem na Europa, durante a Idade Média.

Como exposto no site da CMSB, a maçonaria brasileira combate a corrupção, defende o voto consciente e fomenta a filantropia.

Conforme a CMSB, entre as condições no ganho do título de maçom, além da crença em Deus, é preciso ser homem, ter mais de 21 anos, ser casado ou de união estável e ter o consenso da esposa ou da companheira. O indivíduo também deve ser bem recomendado por outros maçons e estar “bem-intencionado quanto ao propósito do seu ingresso”.

Também é necessário viver por, pelo menos, dois anos no município o qual o interessado resida. O cidadão também deve “estar consciente para com seus deveres com a pátria”, ser alfabetizado, ter uma profissão “lícita e honrada” que o capacite a suprir as necessidades de sua família e da loja.

Ao cumprir essas exigências, o homem interessado a aderir à maçonaria se tornará um ‘Aprendiz’, que é o primeiro título na linha gradual do grupo seleto. Ao todo, as escolas maçônicas possuem três níveis, sendo ‘Companheiro’ e ‘Mestre’ os mais avançados títulos, respectivamente.

Para continuar na condição de maçom, além de manter os costumes prescritos no processo de ingresso da maçonaria, o homem deverá destinar uma quantia em dinheiro mensal. Esse pagamento varia de lojas maçônicas e gira em torno de 10% a 20% do salário mínimo.

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