Caso naja: ‘Estou sendo perseguida’, diz servidora afastada do Ibama

Adriana Mascarenhas está afastada das atividades do órgão há mais de 15 dias, após suspeita de envolvimento no esquema internacional de tráfico de animais no caso da naja

Darcianne Diogo
postado em 07/08/2020 16:48 / atualizado em 07/08/2020 16:56
A servidora é acusada de contribuir com tráfico de animais  -  (crédito: IVAN MATTOS/ZOOLÓGICO DE BRASÍLIA)
A servidora é acusada de contribuir com tráfico de animais - (crédito: IVAN MATTOS/ZOOLÓGICO DE BRASÍLIA)

Afastada há mais de 15 dias do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por suspeita de envolvimento no caso da naja, a servidora Adriana Mascarenhas afirmou, em entrevista ao Correio, que há pessoas dentro do órgão que a estão “usando, perseguindo e assediando”.

A decisão do afastamento partiu da Justiça Federal da 1ª Região, após documentos comprovarem que ela teria expedido, ilegalmente, licenças do Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetas) para a “coleta, captura e transporte” de serpentes que não pertencem à fauna brasileira. Uma dessas cobras, uma jiboia-arco-íris, foi entregue a Gabriel Ribeiro de Moura, de 24 anos, amigo de Pedro Henrique dos Santos Krambeck Lehmukl, 22. Gabriel é o mesmo que soltou a naja que picou o estudante de medicina veterinária próximo ao shopping Pier 21. Ele chegou a ficar preso na Divisão de Controle e Custódia de Presos (DCCP) por ocultar provas e atrapalhar as diligências.

Em entrevista ao Correio, Adriana se diz inocente e acredita que alguns funcionários de dentro do Ibama querem prejudicá-la. “Isso fica notório. Estão tentando me tornar irregular e todos que estiveram à frente, fizeram. A única coisa que posso dizer é que tem pessoas lá dentro que estão me perseguindo, assediando e me usando”, finalizou.

Segundo o advogado da servidora, Rodrigo Videres, antes de serem concedidas, as licenças passam pelas mãos de outros funcionários. “Não é só uma pessoa que emite essas certidões. Provavelmente, outros servidores emitem esses documentos”, enfatizou. Ele disse, ainda, que os animais considerados ilegais sequer passaram pelo Cetas e questiona a atitude do órgão. “O juiz determinou que ela entregasse o crachá e o token. No entanto, um servidor do Ibama chegou na casa dela, recolheu esse material e ela não tem ciência de onde estão os itens”, questionou.

A reportagem entrou em contato com o Ibama para esclarecimentos, mas até a última atualização desta reportagem, o órgão não havia respondido.

 

Entenda o caso
A polícia chegou à servidora após fortes indícios de que ela estaria envolvida com os fatos da investigação  relacionada à organização de tráfico internacional de animais silvestres. Com base na decisão da Justiça, ela é acusada de conceder uma licença irregular a Gabriel Ribeiro, em 12 de fevereiro de 2019. O termo, assinado pela funcionária, autoriza a entrega de uma cobra jiboia-arco-íris, nativa do Brasil, ao jovem. Porém, ele não tinha autorização para criá-la.

O modelo de licença do Cetas segue as recomendações das Divisões Técnico-ambientais (Ditec). É comum, por exemplo, expedições de licenças para o transporte de animais silvestres que necessitam de atendimento veterinário externo, deslocamento entre unidades do Ibama e para a destinação, seja ela a soltura no ambiente natural ou um cativeiro legalmente admitido. Entre os locais aptos a receberem esses animais estão o Zoológico de Brasília e hospitais veterinários.

Fora isso, é vedada a autorização de licença para outros meios. No caso da servidora, o Ibama considerou que, além de violar gravemente a legislação de regência, ela demonstrou a intenção em conceder o documento infringindo a norma legal, uma vez que, na época dos fatos, era a responsável pelo Cetas, possuindo larga experiência da função.

A servidora, no entanto, nega as acusações. Em uma entrevista ao Correio em 28 de julho, Adriana disse: “Por eu ter concedido a licença, isso não significa que eu esteja envolvida em um esquema de tráfico internacional de animais exóticos. O que eu fiz não é irregular, pois não foi uma destinação final, mas, sim, temporária”, destacou.

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