O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, que enfrenta um grande movimento de protesto nas ruas desde sua reeleição em agosto, prestou juramento nesta quarta-feira (23) para o sexto mandato em uma cerimônia mantida em sigilo.
Os Estados Unidos disseram que não reconhecem Alexander Lukashenko como o presidente legítimo.
"As eleições de 9 de agosto não foram livres nem justas. Os resultados anunciados foram fraudulentos e carentes de legitimidade", disse um porta-voz do Departamento de Estado. "Os Estados Unidos não podem considerar Alexander Lukashenko como o presidente legítimo" da Belarus.
Países europeus denunciaram a teimosia de Lukashenko. A Alemanha declarou "não reconhecê-lo" devido à falta de "legitimidade democrática".
Em um evento excepcional, a cerimônia de posse só foi anunciada pela agência oficial Belta e pela presidência depois de concluída.
"Alexander Lukashenko prestou juramento no idioma bielorrusso, depois assinou o documento e a presidente da Comissão Eleitoral entregou o certificado de presidente da República de Belarus", anunciou a agência estatal de notícias Belta, seguida pelo site da presidência.
No início da noite, a polícia anti-distúrbios usou canhões de água contra milhares de manifestantes que se reuniram no centro de Minsk. Os policiais detiveram dezenas de manifestantes e os levaram em vans.
Durante a manhã, os meios de comunicação independentes e as plataformas da oposição já haviam mencionado a possibilidade, depois que o cortejo presidencial foi observado percorrendo a cidade em alta velocidade. A principal avenida de Minsk foi fechada ao público e um grande dispositivo policial foi mobilizado ao redor da sede presidencial.
"Esta posse alegada é claramente uma farsa", denunciou Svetlana Tikhanóvskaya, principal rival de Lukashenko, em um comunicado no aplicativo Telegram. Esta novata política, exilada na Lituânia, reivindicou mais uma vez sua vitória nas urnas da eleição presidencial de agosto.
O porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, declarou em coletiva de imprensa: "não foram cumpridas as exigências mínimas para eleições democráticas". Já o ministro das Relações Exteriores lituano ironizou a cerimônia. "Que farsa! Eleições fraudulentas, posse fraudulenta", tuitou Linas Linkevicius.
"Revolução de cor"
Para os opositores e a imprensa independente, a cerimônia, que deveria acontecer até 9 de outubro, foi organizada em sigilo para não virar um novo catalisador de uma grande manifestação.
De acordo com a Ucrânia, os embaixadores não foram convidados, como de costume. Segundo a presidência bielorrussa, 700 pessoas compareceram.
Em seu discurso, Lukashenko afirmou que seu país havia resistido a uma "revolução de cor" - apelido dado na ex-URSS aos movimentos populares que expulsaram os regimes autoritários do poder desde o início de 2000 na Ucrânia, Geórgia e Quirguistão. Para a Rússia e Lukashenko, foram revoltas apoiadas pelo Ocidente.
"Nosso Estado enfrentava um desafio sem precedentes (...), mas estamos entre os únicos, isso se não formos os únicos, onde a 'revolução de cor' não funcionou. É a decisão dos bielorrussos, que não queriam a queda de seu país", acrescentou.
Depois, em imagens publicadas pela imprensa oficial, o presidente apareceu com um uniforme militar, discursando aos soldados em formação.
"Vocês salvaram a paz neste pedaço de terra, defenderam a soberania e a independência de nosso país", disse Lukashenko, que alega que os ocidentais pretendiam derrubá-lo para usar Belarus como trampolim para uma guerra contra a Rússia.
"Usurpador"
"Que preste o juramento dez vezes, para mim ele não é ninguém", disse à AFP Valentina Sviatskaya, aposentada de 64 anos moradora de Minsk, segura de que o "povo furioso" continuará se manifestando.
"É oficial agora, um usurpador nos governa e vivemos sob uma ditadura", comentou Igor Kujarski, um empresário de 38 anos.
Lukashenko enfrenta desde a eleição presidencial de 9 de agosto um desafio sem precedentes, com dezenas de milhares de pessoas a cada domingo nas ruas de Minsk para denunciar sua reeleição, considerada fraudulenta, apesar da repressão violenta aos protestos.
Líderes da oposição foram detidos ou forçados ao exílio, como a candidata Svetlana Tikhanovskaya, novata na política que reuniu multidões durante a campanha eleitoral e que reivindica a vitória nas urnas.
Muitos jornalistas foram detidos, intimidados ou perderam as credenciais. Nesta quarta-feira foi anunciada a detenção do diretor do site independente Nacha Niva.
Lukashenko, no poder desde 1994, acusa os ocidentais de orquestrar os protestos. Ele tem o apoio da Rússia, apesar de ter acusado Moscou antes das eleições de tentativa de desestabilizar seu governo. A UE ameaça adotar sanções contra Minsk, mas ainda não chegou a um acordo sobre o tema.
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