A Rússia saudou, nesta quinta-feira (20/5), os "sinais positivos" nas relações com os Estados Unidos, especialmente depois que Washington abandonou certas sanções contra um gasoduto estratégico, uma decisão vista com preocupação pela Ucrânia.
Enquanto Washington e Moscou negociam uma possível cúpula em junho entre os presidentes Joe Biden e Vladimir Putin, os Estados Unidos anunciaram na quarta-feira (19/5) o levantamento das medidas contra o principal grupo que constrói o gasoduto submarino "Nord Stream 2", que bombeará gás russo para a Europa sem a necessidade de passar pelo território ucraniano.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, saudou esse "sinal positivo" em um momento em que as relações russo-americanas estão em seu nível mais baixo, em meio a alegações de interferência eleitoral, espionagem, ataques cibernéticos e expulsões recíprocas de diplomatas.
Ele também considerou positivo o primeiro encontro, na quarta-feira, em Reykjavik, capital da Islândia, à margem do Conselho do Ártico, entre os chefes da diplomacia russa e americana, Serguei Lavrov e Antony Blinken, respectivamente.
O ministro russo descreveu a reunião como "construtiva" e acrescentou que espera o fim do "clima insalubre" entre a Rússia e os Estados Unidos.
O lado americano, por sua vez, mencionou uma discussão "produtiva" e "honesta", embora não tenha havido mais avanços nas negociações.
Apesar dos "muitos problemas que se acumulam" nas relações russo-americanas, Peskov considerou que essas discussões contribuirão para preparar a possível cúpula Biden-Putin.
"Vitória geopolítica"
As sanções contra "Nord Stream 2" haviam sido decididas sob a administração de Donald Trump.
Embora a oposição americana a este oleoduto permaneça "inalterável", Blinken indicou que os Estados Unidos escolheram apoiar a Alemanha, seu aliado e principal patrocinador do oleoduto na Europa, embora indiretamente também para satisfazer Moscou.
A empresa Nord Stream 2 AG, subsidiária da gigante russa Gazprom, com sede na Suíça, e seu CEO, Matthias Warnig, da Alemanha, se beneficiam, assim, de isenção de sanções.
Washington vai tomar medidas punitivas contra quatro empresas russas que implantam tubos e contra outras entidades que trabalham no gasoduto no leito do Mar Báltico, com cerca de 1.200 km de extensão e 95% concluído.
Antes mesmo deste anúncio, a Alemanha saudou a decisão, considerando-a um "passo construtivo".
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, cujo país se opõe veementemente ao projeto - uma vez que o fará perder receitas significativas com o trânsito do gás em seu território - considerou que o abandono das sanções seria uma "vitória" russa.
"Será a derrota dos Estados Unidos e da equipe do presidente Biden (...) bem como uma vitória geopolítica da Rússia", sentenciou.
Zelenski também criticou a França e a Alemanha por mostrarem pouca firmeza em relação à Rússia, uma vez que são mediadores do conflito no leste da Ucrânia.
Em abril, a Rússia enviou dezenas de milhares de soldados às suas fronteiras com a Ucrânia, aumentando o temor de uma intervenção militar.
Para os detratores do gasoduto, principalmente os países do Leste Europeu, hostis a Moscou, concluir essa obra equivale a abandonar a Ucrânia, aliada do Ocidente, que tem sofrido com as ofensivas russas, a anexação da península da Crimeia e a guerra do separatistas pró-russos no leste do país.
Seus defensores apoiam um projeto inteiramente comercial sobre o qual nenhuma consideração política deve ser feita.
O projeto associa a Gazprom a cinco grupos europeus: a francesa Engie, as alemãs Uniper e Wintershall, a austríaca OMV e a anglo-holandesa Shell.
As obras foram retomadas em fevereiro em águas dinamarquesas.
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