A Etiópia realiza, nesta terça-feira (22/6), a apuração dos votos de eleições "históricas", de acordo com seu primeiro-ministro, no dia seguinte a uma votação crucial em um país mergulhado na violência e na fome, especialmente na região do Tigré (norte).
Apesar de as eleições legislativas e regionais não terem sido realizadas em um quinto das circunscrições eleitorais, por razões de segurança e de logística, o primeiro-ministro Abiy Ahmed elogiou, nesta terça, um dia "histórico" para a Etiópia.
"Todas as camadas da sociedade participaram para fazer ouvir suas vozes nas primeiras eleições livres e justas em nosso país", escreveu no Twitter.
Foi possível perceber "a seriedade, o compromisso com a paz e o processo democrático (do) povo", acrescentou.
O líder também apelou a "todos os partidos políticos para seguirem o processo pacífico (...) e para garantirem que nenhum problema ocorra nos próximos dias até que a contagem de votos termine, e os resultados sejam anunciados", segundo um comunicado divulgado por seu gabinete.
Quando foi nomeado primeiro-ministro em 2018, Ahmed, prêmio Nobel da Paz de 2019, prometeu que essas eleições legislativas e regionais seriam as mais democráticas da história do país.
As eleições estavam marcadas para agosto de 2020, mas a pandemia de coronavírus e os problemas de segurança forçaram seu adiamento duas vezes.
O Partido da Prosperidade de Ahmed é o favorito para obter a maioria e formar um governo depois das eleições. Participaram 40 partidos e 9.500 candidatos.
Na Etiópia, os deputados elegem o primeiro-ministro, que lidera o governo.
A imagem de Ahmed como reformista e pacificador foi manchada pela eclosão da violência étnico-política no país e pelo conflito na região do Tigré.
Eleições incompletas
A votação na segunda-feira (21/6) transcorreu de forma globalmente tranquila, segundo a Comissão Eleitoral, exceto por alguns incidentes de intimidação nas regiões de Amhara, a das Nações, Nacionalidades e Povos do Sul (SNNPR) e a de Afar.
Em Bahir Dar, capital regional de Amhara, a segunda mais populosa do país, várias seções eleitorais visitadas pela AFP terminaram sua apuração esta manhã.
"Aprendemos a democracia, e os partidos, seja quem for o vencedor, têm que aceitar o resultado", diz Eshete Alemnew, um artesão de 34 anos.
Em 20% dos 547 distritos eleitorais do país, a votação não pôde ocorrer. A maioria dessas áreas, afetadas pela violência, por insurreições armadas, ou por problemas logísticos, votará em 6 de setembro próximo.
Nenhuma data foi estabelecida, porém, para as 38 circunscrições eleitorais do Tigré. Nesta região, onde o governo realiza uma operação militar desde novembro do ano passado, atrocidades foram denunciadas. Segundo a ONU, pelo menos 350 mil pessoas estão ameaçadas de fome em Tigré.
A comunidade internacional acompanha de perto os resultados, especialmente os Estados Unidos, que já manifestaram preocupação com a exclusão de tantos eleitores do pleito em curso, assim como com a prisão de líderes da oposição.
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