Governo

O que está em jogo nas eleições regionais da Venezuela

Diante de uma "reputação internacional questionada", Maduro faz "gestos de abertura que diminuem sua falta de credibilidade", disse Ramón Guillermo Aveledo

Agência France-Presse
postado em 05/07/2021 12:10 / atualizado em 05/07/2021 12:10
 (crédito: Handout / Venezuelan Presidency / AFP)
(crédito: Handout / Venezuelan Presidency / AFP)

A Venezuela caminha para eleições regionais, onde estará em jogo muito mais do que votos. O governo de Nicolás Maduro busca o relaxamento das sanções com concessões à oposição enfraquecida, que tenta se reagrupar enquanto Estados Unidos e União Europeia promovem negociações.

Após dois anos de intensificação das sanções políticas e financeiras, Washington e Bruxelas apostam em "uma negociação política que acabe com o pesadelo da Venezuela", disse à AFP o presidente do Inter-American Dialogue, Michael Shifter.

"A estratégia de 'pressão máxima' contra Maduro não só fracassou, foi contraproducente e, de fato, ajudou a fortalecer o regime autoritário (...) Isso não significa que os Estados Unidos estejam prestes a suspender as sanções, mas que se concentrará em seu uso como ferramenta de negociação" por eleições livres, acrescentou o especialista.

Afogado por sanções que incluem o embargo do petróleo venezuelano, Maduro pediu seu "levantamento imediato" para negociar em meio a uma crise sem precedentes, marcada por oito anos de recessão e por uma redução de 80% no Produto Interno Bruto (PIB) desde 2014.

Paralelamente, aproximam-se as eleições para prefeitos e governadores, em novembro. Com elas, Maduro espera reconquistar seu reconhecimento internacional, questionado pela oposição e por cerca de 50 países após sua reeleição em 2018.

A oposição dividida, que boicotou as eleições presidenciais de 2018 e as legislativas de 2020, enfrenta o dilema de participar, ou não.

"Embrião" de diálogo


Um setor da comunidade internacional começa a "olhar com bons olhos" a possibilidade de normalizar suas relações com Maduro, segundo o presidente do instituto de pesquisa Datanálisis, Luis Vicente León.

Um exemplo é a disposição conjunta de Estados Unidos, Canadá e UE de "rever" as sanções, se as negociações para eleições "confiáveis" avançarem.

Reconhecido como presidente da Venezuela pelos Estados Unidos e por vários países da Europa e da América Latina, o líder opositor Juan Guaidó atribui o pronunciamento a uma pequena viagem de seus enviados a Washington e Bruxelas.

Em conversa com a AFP, fontes diplomáticas mencionaram negociações no México, com todos os atores presentes à mesa.

Trata-se, segundo León, do "embrião de um processo de negociação política", embora ainda esteja "muito longe" de levantar pontos e objetivos específicos.

Guaidó, cuja aceitação caiu para 15%, segundo o Datanálisis, considera "chave" o apoio internacional ao que chama de "acordo de salvação nacional". Ele reconhece, no entanto, que, depois de tentativas infrutíferas de negociação, "vai demorar" para uma eventual mudança política.

"É preciso fazer isso de maneira inteligente", disse Guaidó em entrevista coletiva na última quarta-feira (30/6), reconhecendo que o ceticismo é "natural".

A chegada de observadores eleitorais da UE ao país está prevista para esta terça-feira (6/7), a convite do governo de Maduro, para observar a votação de 21 de novembro. A informação foi confirmada para a AFP pelo porta-voz do serviço diplomático do bloco, Peter Stano.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, está "considerando sua resposta", acrescentou.

"É uma missão exploratória que deve decidir se estas eleições podem ser observadas com credibilidade (...). Não queremos validar uma eleição que não merece (ser validada)", disse uma fonte diplomática europeia à AFP.

"Gestos de abertura" 


Na semana passada, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) reabilitou a Mesa da Unidade Democrática (MUD), uma aliança da oposição que venceu as eleições legislativas de 2015, rompendo 15 anos de hegemonia chavista no Parlamento. Ficou banida por três anos.

Antes disso, uma nova CNE foi nomeada, o que abriu espaço para membros ligados à oposição, sem comprometer a maioria oficialista da entidade.

Diante de uma "reputação internacional questionada", Maduro faz "gestos de abertura que diminuem sua falta de credibilidade", disse Ramón Guillermo Aveledo, que chefiou a MUD de 2009 a 2014, à AFP.

Entre outras consequências, as críticas ao governo socialista fecharam o acesso da Venezuela a financiamento internacional.

O chavismo, no entanto, só "faz concessões na medida em que calcula qual causa menos danos", considera Benigno Alarcón, diretor do Centro de Estudos Políticos da Universidade Católica Andrés Bello.

Maduro também prometeu respeitar qualquer vitória de seus adversários e eliminar a figura dos "protetores", funcionários chavistas enviados para regiões onde a oposição triunfou.

Há sinais contraditórios, porém. No sábado (3/7), foram indiciados por "traição, terrorismo e incitação ao ódio" ativistas críticos a Maduro que rejeitam a resposta do Estado ante grupos armados colombianos ativos na fronteira.

E, na sexta-feira (2/7), Maduro acusou a CIA (a agência de Inteligência dos EUA) e o Exército americano de tramarem seu assassinato, perguntando-se se o presidente democrata Joe Biden teria autorizado o complô.

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