Sudão

Omar al-Bashir, o autocrata que desafiou a justiça internacional

Nascido em 1944 em uma família de Hosh Bannaga, cidade situada a cerca de cem quilômetros ao norte de Cartum, Bashir ficou fascinado desde muito cedo pela carreira militar

Agência France-Presse
postado em 11/08/2021 13:46 / atualizado em 11/08/2021 13:46
 (crédito: ASHRAF SHAZLY / AFP)
(crédito: ASHRAF SHAZLY / AFP)

O ex-presidente sudanês Omar al-Bashir, que será entregue ao Tribunal Penal Internacional (TPI), governou seu país com mão de ferro por 30 anos, marcados pelo autoritarismo, corrupção e impunidade, até sua queda por pressão popular, em 2019.

O ex-ditador de 77 anos está atualmente detido na prisão Kober de Cartum, para onde enviava o seus opositores.

Omar al-Bashir desafiava há tempos o TPI, com sede em Haia. Em 2009, o tribunal lançou uma ordem de prisão por "crimes de guerra e contra a humanidade" em Darfur, região do oeste do Sudão afetada pela violência, antes de acrescentar em 2010 a acusação por "genocídio".

O conflito em Darfur deixou mais de 300.000 mortos e 2,5 milhões de deslocados, segundo a ONU.

Em dezembro de 2018, viajou a Damasco para se reunir com presidente Bashar al-Assad, tornando-se o primeiro chefe de Estado árabe a visitar a Síria depois do início do conflito em 2011.

Sob sua presidência, o Sudão entrou em uma coalizão liderada pela Arábia Saudita, que intervém desde 2015 no Iêmen contra os rebeldes.

Carreira militar 


Nascido em 1944 em uma família de Hosh Bannaga, cidade situada a cerca de cem quilômetros ao norte de Cartum, Bashir ficou fascinado desde muito cedo pela carreira militar.

Em 30 de junho de 1989, o general Bashir e um grupo de oficiais derrubaram o governo eleito democraticamente de Sadek al-Mahdi.

O golpe foi apoiado pela Frente Islâmica nacional, partido de seu mentor Hassan al-Turabi, que morreu em 2016 depois de se tornar um de seus piores opositores.

Sob a influência de Turabi, orientou o Sudão para o islã radical.

O Sudão é formado por múltiplas tribos e foi dividido entre o norte de maioria muçulmana e o sul, povoado por cristãos.

O Sudão se tornou o centro da internacional islamista e acolheu o chefe da Al-Qaeda, Osama bin Laden, antes de expulsá-lo em 1996 sob a pressão dos Estados Unidos.

Depois tentou se afastar do islamismo radical e se aproximar de adversários e vizinhos.

Em 2005, assinou um acordo de paz com os rebeldes do sul que abriu caminho para o compartilhamento do poder e para um referendo de independência dessa região. Em 2011, o sul conquistou a independência e o Sudão do Sul foi criado.

Bashir tem duas mulheres e não teve filhos.

Após ser eleito duas vezes presidente nas eleições boicoteadas pela oposição, em 2010 e 2015, Bashir esperava buscar mais um mandato em 2020.

Em 11 de abril de 2019, porém, foi deposto pelo Exército devido à pressão das manifestações. Até então, Bashir havia esmagado implacavelmente qualquer protesto.

Em dezembro de 2019, ele foi condenado por corrupção a dois anos de prisão. Meses depois, o governo de transição lançado após sua queda se comprometeu verbalmente a favorecer o comparecimento de Bashir perante o TPI.

Parece que chegou a hora de o ex-ditador ser responsabilizado nos tribunais.

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