Afeganistão

Brasileiro que lutou contra talibãs vê ameaça terrorista iminente

Alexandre Danieli chegou a ser ferido após a explosão de uma bomba e, hoje, ainda convive com os efeitos do estresse pós-traumático

Rodrigo Craveiro
postado em 17/08/2021 12:43
 (crédito: Arquivo pessoal)
(crédito: Arquivo pessoal)

Natural de Joaçaba (SC) e naturalizado norte-americano, Alexandre Danieli, 38 anos, conhece como poucos brasileiros a realidade da guerra no Afeganistão, do povo afegão e do Talibã. Engenheiro militar do 11º Batalhão dos Fuzileiros Navais, baseado em San Diego (Califórnia), esteve oito meses em missão no país asiático, entre 2010 e 2011.

Chegou a ser ferido após a explosão de uma bomba e, hoje, ainda convive com os efeitos do estresse pós-traumático. Ele advertiu ao Correio que, com o colapso do Afeganistão e a volta ao poder dos talibãs, o mundo ficará vulnerável a atentados terroristas promovidos por grupos islâmicos e pelo próprio Talibã. Segundo ele, a milícia fundamentalista afegã teria interesse, inclusive, em atacar alvos no Brasil. Leia trechos da entrevista.

Alexandre Danieli esteve em missão no Afeganistão em 2008
Alexandre Danieli esteve em missão no Afeganistão em 2008 (foto: Arquivo pessoal)

Como vê o retorno do Talibã ao poder?
Fui fuzileiro naval (US marine) com o posto de engenheiro militar, entre 2008 e 2013. Estive no Afeganistão por oito meses. Também fui enviado a 28 países para missões rápidas. Vejo o retorno do Talibã como um perigo mundial. Todo o talibã, que é um fundamentalista muçulmano, acredita que aqui é o inferno e que só vai para o céu ganhar sete virgens se matar um não muçulmano.

A quem credita a culpa pelo retorno da milícia islâmica ao poder?
O Talibã voltou ao poder primeiramente por causa da corrupção dos políticos escolhidos pelo povo no Afeganistão. Eu estive lá em ano de eleições. Infelizmente, havia compra de votos, influência familiar... Muito parecido com o Brasil. Os políticos corruptos praticamente venderam o país ao Talibã. Com a ausência dos Estados Unidos e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), ficou mais liberada a corrupção.

Isso lhe causa frustração, por saber que colocou sua vida em risco para combater a milícia?
Eu perdi colegas e amigos, que morreram em combate. Muitos estão feridos até hoje, com problemas até hoje. Mas era visto que o mundo era contra uma invasão militar sem entendê-la direito. Aí acaba acontecendo isso. O que me deixa mais frustrado é que o terrorismo vai voltar ao mundo. O terrorismo religioso voltará em questão de meses. Se não tiver um país corajoso que vá ao Afeganistão parar isso tudo de novo. 

 

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