CRISE

França convoca embaixadores após perder contrato bilionário de submarinos

O governo de Emmanuel Macron mostrou-se incomodado com a aliança de segurança, denominada Aukus, desde que ela se tornou oficial, na quarta-feira

Correio Braziliense
postado em 18/09/2021 06:00
O chanceler francês Jean-Yves Le Drian:
O chanceler francês Jean-Yves Le Drian: "gravidade excepcional" - (crédito: Attila KISBENEDEK / AFP)

Numa ação classificada como de “gravidade excepcional”, a França chamou a consultas seus embaixadores nos Estados Unidos e na Austrália. A decisão é um desdobramento do anúncio de associação estratégica entre Washington, Londres e Canberra, que levou ao cancelamento pelo governo australiano de um importante contrato de compra de submarinos franceses.

“A pedido do presidente da República, decidi chamar imediatamente para consultas nossos dois embaixadores”, declarou, em um comunicado, o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian. “Essa decisão excepcional se justifica pela gravidade excepcional dos anúncios realizados em 15 de setembro por Austrália e Estados Unidos”, acrescentou.

O governo de Emmanuel Macron mostrou-se incomodado com a aliança de segurança, denominada Aukus, desde que ela se tornou oficial, na quarta-feira. O cancelamento pela Austrália do contrato para fornecimento de 12 submarinos convencionais franceses tornou a situação ainda mais delicada.

Punhalada

No dia seguinte ao anúncio, Le Drian denunciou uma “punhalada pelas costas” de parte da Austrália e uma decisão “brutal” do presidente americano, Joe Biden. No comunicado de ontem, o chanceler francês considerou que o acordo representa um “comportamento inaceitável entre aliados e parceiros”
É a primeira vez que o Palácio do Eliseu toma uma decisão do tipo em relação aos dois países, aliados históricos da França — especialmente os Estados Unidos.

A Casa Branca expressou pesar pela chamada a consultas do embaixador da França em Washington, mas disse que os Estados Unidos tentarão resolver a disputa diplomática. “Lamentamos que tenham dado esse passo, continuaremos comprometidos nos próximos dias a resolver nossas diferenças, como temos feito em outros temas no transcurso da nossa longa aliança”, destacou um funcionário do Executivo americano, que falou sob a condição do anonimato.

Por sua vez, a Austrália ressaltou que espera continuar trabalhando em estreita colaboração com a França e que entende sua “decepção” com o rompimento do acordo bilionário. “Não há dúvida de que essas são questões muito difíceis de lidar”, disse a ministra de Relações Exteriores australiana, Marise Payne, em Washington.

Payne indicou que a Austrália reconhece o papel da França no Pacífico, inclusive os esforços conjuntos com a Nova Zelândia em termos de ajuda humanitária.

Em outra sinalização do abalo das relações diplomáticas, a França cancelou um evento, previsto para ontem, para comemorar o aniversário da batalha de Chesapeake Bay, decisiva na guerra da Independência dos Estados Unidos, que terminou com a vitória da frota francesa sobre a britânica em 5 de setembro de 1781.

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