COP 26

China se compromete a diminuir emissões de gases de efeito estufa até 2030

Apesar da promessa de mudança, o maior produtor mundial de gases de efeito estufa tem como empecilho a alta dependência do carvão na região Ásia-Pacífico

Correio Braziliense
postado em 25/10/2021 06:00
 (crédito: AFP)
(crédito: AFP)

Às vésperas da abertura da Conferência do Clima nas Nações Unidas, que começa no sábado em Glasgow, o maior produtor mundial de gases de efeito estufa anunciou que vai limitar a menos de 20% o uso de energias fósseis até 2060. A China, que chega à COP 26 em primeiro lugar no ranking das emissões líquidas — 10,17 bilhões de toneladas por ano —, publicou, ontem, um plano para alcançar neutralidade na poluição por carbono.

Segundo a agência oficial de notícias Xinhua, o presidente Xi Jinping deseja começar a reduzir as emissões poluentes até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono 30 anos depois. O documento também inclui o objetivo de que, até 2030, 25% da energia total consumida seja procedente de fontes renováveis. A expectativa é de que, em duas décadas, a quantidade de CO2 produzida por unidade do Produto Interno Bruto (PIB) na China registre uma queda de 65% em comparação a 2005.

Além disso, os geradores de energia eólica devem alcançar uma capacidade instalada superior a 1,2 bilhão de KW, segundo a agência de notícias. Em abril, Xi Jinping afirmou que o país controlaria de maneira rígida os projetos de centrais de energia elétrica que utilizam carvão e reduziria progressivamente o consumo desta matéria-prima. Em setembro, na Assembleia Geral da ONU, o presidente chinês também se comprometeu a parar de construir centrais carvoeiras no exterior.

As metas podem ser consideradas ambiciosas: fonte extremamente poluente, o carvão é responsável por 60% da produção de energia elétrica do país. E, em meio a uma escassez energética pelo aumento do preço desse material, apesar das promessas de redução, a China aumentou sua produção em 6%. Na semana passada, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reformas (NDRC) informou que em setembro foram autorizadas 53 minas, com o objetivo de aumentar a capacidade de produção em 220 milhões de toneladas anuais.

Dependência

Apesar de sentir impactos ambientais e na saúde pública das mudanças climáticas, com níveis letais de poluição na Índia e ondas de calor extremo acompanhadas por incêndios na Austrália, a região Ásia-Pacífico é responsável por 75% do consumo global de carvão. As promessas da China e de outros países de avançar para a neutralidade de carbono aumentaram as esperanças de um futuro mais limpo, mas, de modo geral, essa parte do globo está engajada em uma transição energética para energias renováveis muito lentamente. “Estamos nos movendo muito mais devagar do que o impacto da mudança climática. Nosso tempo está acabando”, diz Tata Mustasya, encarregado de campanhas de energia para o Greenpeace Indonésia.

Cinco países asiáticos — China, Índia, Japão, Indonésia e Vietnã — respondem por 80% das usinas a carvão planejadas em todo mundo, de acordo com um relatório da Carbon Tracker. Os compromissos assumidos por esses países são considerados ainda muito fracos, já que as promessas de paralisar a construção e o financiamento de novas plantas não dizem respeito aos projetos em andamento, destacam os analistas. Os países ricos também deveriam fornecer mais assistência técnica e financeira para ajudar os mais pobres a fazer uma transição bem-sucedida, afirmam.

Esse desafio é ilustrado pela gigantesca usina elétrica a carvão de Suralaya, na ilha indonésia de Java, uma das maiores do sudeste da Ásia e que fornece eletricidade para 14 milhões de residências por ano. A Indonésia prometeu se tornar neutro em carbono em 2060 e parar de construir novas usinas movidas a carvão a partir de 2023, mas a planta em Suralaya está sendo expandida com um orçamento de US$ 3,5 bilhões.

Brasil chega à cúpula sob crítica

Forte produtor e consumidor de combustíveis fósseis, o Brasil foi criticado, recentemente, em estudo copatrocinado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e pelo Instituto do Meio Ambiente de Estocolmo. O país não se comprometeu a reduzir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa até 2030, uma das metas cruciais da COP 26, em Glasgow. O plano energético do Brasil até 2050 demonstra que o governo “pretende atrair investimentos e aumentar a produção de petróleo e gás” para se tornar um dos cinco principais produtores mundiais, afirma o estudo.

Além de não apresentar compromissos de redução, o Brasil chega à COP com um projeto aprovado a toque de caixa pelo Senado que condiciona a meta a projeções a serem feitas por decreto pelo presidente Jair Bolsonaro. A proposta que segue para a Câmara, altera uma versão de 28 de abril, que trazia avanços em relação às contribuições nacionalmente determinadas — as NDCs, compromissos voluntários apresentados por cada signatário do Acordo de Paris.

O texto antecipava para 2025 a meta de redução de emissões em relação a 2005, estipulada para 2030 (43%); estabelecia zerar o desmatamento ilegal no mesmo ano; e determinava um teto de 1,2 bilhão de toneladas nas emissões em 2025. Agora, o PL 1.539, de autoria da senadora Kátia Abreu (PP-TO), dá margem a “pedaladas” ao trocar as emissões absolutas, calculadas em relação a 2005, como vinha sendo até agora, por projetadas. “O PL não estabelece o cálculo para alcançar a meta acordada para 2025 e deixa a sociedade confusa sobre a real efetividade e intenção da meta aprovada. Em meio a um desgoverno do meio ambiente, o PL é, no mínimo, suspeito”, avaliou Fabiana Alves, do Greenpeace Brasil.

Prioridade em Israel

Em um comunicado do gabinete do primeiro-ministro Naftali Bennett, o governo israelense afirmou, ontem (24/10), que a luta contra as mudanças climáticas é uma prioridade de segurança nacional e se comprometeu com investimentos em energias renováveis. Para alcançar a meta de reduzir em 27% as emissões de gases de efeito estufa até 2030 e em 85% até 2050 em relação aos níveis de 2015, o país prevê a adoção de meios de transportes que consumam menos energia. “Hoje (ontem), o governo tomou muitas decisões para fomentar transportes limpos e de baixo consumo de carbono”, disse Bennett, que deve participar da COP 26, em Glasgow, no Reino Unido.

 

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Prioridade em Israel


Em um comunicado do gabinete do primeiro-ministro Naftali Bennett, o governo israelense afirmou, ontem, que a luta contra as mudanças climáticas é uma prioridade de segurança nacional e se comprometeu com investimentos em energias renováveis. Para alcançar a meta de reduzir em 27% as emissões de gases de efeito estufa até 2030 e em 85% até 2050 em relação aos níveis de 2015, o país prevê a adoção de meios de transportes que consumam menos energia. “Hoje (ontem), o governo tomou muitas decisões para fomentar transportes limpos e de baixo consumo de carbono”, disse Bennett, que deve participar da COP 26, em Glasgow, no Reino Unido.

 

Brasil chega à cúpula sob crítica


Forte produtor e consumidor de combustíveis fósseis, o Brasil foi criticado, recentemente, em estudo copatrocinado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e pelo Instituto do Meio Ambiente de Estocolmo. O país não se comprometeu a reduzir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa até 2030, uma das metas cruciais da COP 26, em Glasgow. O plano energético do Brasil até 2050 demonstra que o governo “pretende atrair investimentos e aumentar a produção de petróleo e gás” para se tornar um dos cinco principais produtores mundiais, afirma o estudo.

Além de não apresentar compromissos de redução, o Brasil chega à COP com um projeto aprovado a toque de caixa pelo Senado que condiciona a meta a projeções a serem feitas por decreto pelo presidente Jair Bolsonaro. A proposta que segue para a Câmara, altera uma versão de 28 de abril, que trazia avanços em relação às contribuições nacionalmente determinadas — as NDCs, compromissos voluntários apresentados por cada signatário do Acordo de Paris.

O texto antecipava para 2025 a meta de redução de emissões em relação a 2005, estipulada para 2030 (43%); estabelecia zerar o desmatamento ilegal no mesmo ano; e determinava um teto de 1,2 bilhão de toneladas nas emissões em 2025. Agora, o PL 1.539, de autoria da senadora Kátia Abreu (PP-TO), dá margem a “pedaladas” ao trocar as emissões absolutas, calculadas em relação a 2005, como vinha sendo até agora, por projetadas. “O PL não estabelece o cálculo para alcançar a meta acordada para 2025 e deixa a sociedade confusa sobre a real efetividade e intenção da meta aprovada. Em meio a um desgoverno do meio ambiente, o PL é, no mínimo, suspeito”, avaliou Fabiana Alves, do Greenpeace Brasil.

 

Líder do tráfico será extraditado para os EUA

 (crédito: AFP)
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Considerado o maior narcotraficante da Colômbia desde Pablo Escobar, morto no fim de 1993, Dairo Antonio Úsuga, conhecido por Otoniel, será extraditado para os Estados Unidos. O líder do Clã do Golfo foi preso no sábado numa megaoperação policial classificada pelo presidente Iván Duque como “a mais importante inserção na selva que se viu na história militar do nosso país”. Ontem, em entrevista ao jornal El Tiempo, o ministro colombiano da Defesa, Diego Molano Aponte, explicou que o próximo passo será entregar o criminoso às autoridades americanas, que ofereciam uma recompensa de US$ 5 milhões por informações que levassem a sua captura.

Molano Aponte deu detalhes de todo o processo de inteligência até a prisão de Otoniel, que teve como meta tirá-lo de sua “zona de conforto”. Milimetricamente estudado, o plano era isolar o traficante. No último mês, segundo o ministro da Defesa, ele dormia ao relento, não se comunicava mais por rádio ou celular e sentia a falta de alimentos.

Com informações precisas sobre a localização de Otoniel, cerca de 500 homens, apoiados por 22 helicópteros, foram mobilizados no município de Necoclí (noroeste) para executar a operação, na qual morreu um policial. De acordo com Molano Aponte, o traficante, de 50 anos, estava sozinho, escondido em um arbusto. Os comparsas o abandonaram.

Uma transmissão ao vivo da polícia nas redes sociais mostrou o momento do desembarque de Otoniel em Bogotá, algemado e cercado por vários agentes. Ele foi levado para um edifício da instituição em meio a fortes medidas de segurança.

“É o golpe mais duro que se desferiu no narcotráfico neste século no nosso país (...) comparável somente com a queda de Pablo Escobar”, celebrou Iván Duque, em mensagem à nação, ainda na noite de sábado.

A queda do líder da maior quadrilha de traficantes da Colômbia é o principal êxito do governo do presidente conservador no combate ao crime organizado no país que mais exporta cocaína no mundo. “Sobre esse delinquente há ordens de extradição e trabalharemos com as autoridades para cumprir também essa missão”, ressaltou Duque.

Denunciado pela Justiça americana em 2009, Otoniel é requisitado por tráfico de drogas pela corte do Distrito Sul de Nova York. “Estávamos atrás dele há sete anos”, disse o general Fernando Navarro, comandante das Forças Militares.

O grupo de paramilitares que se denomina Autodefesas Gaitanistas da Colômbia (AGC), ou Clã do Golfo, está presente em quase 300 cidades, segundo o centro de estudos independente Indepaz. O governo aponta a facção, que se financia principalmente com o narcotráfico, o garimpo ilegal e a extorsão, como uma das responsáveis pela onda de violência que assola o país, a pior desde a assinatura de um acordo de paz com a guerrilha das Farc, em 2016.

Em 2017, Otoniel tinha anunciado a intenção de chegar a um acordo para se apresentar à justiça, mas o governo respondeu com uma perseguição feroz, da qual participaram pelo menos mil militares. A organização foi dizimada em uma série de investidas das autoridades contra o círculo próximo do líder do narcotráfico, que assumiu o comando em 2012, após a morte do irmão.

Após meio século de luta contra o narcotráfico, a Colômbia permanece como o principal produtor mundial de cocaína e os Estados Unidos, como o maior consumidor da droga. Segundo a polícia colombiana, o Clã do Golfo mantém o controle da fronteira com o Panamá, rota fundamental para levar os carregamentos ao território americano.

 

 

 

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