Estados Unidos

Vitória republicana na Virgínia serve de 'manual' para eleições de 2022

A vitória do republicano Glenn Youngkin nas eleições para o governo estadual da Virgínia oferece à direita dos Estados Unidos uma estratégia para reconquistar o Congresso

Agence France-Presse
postado em 04/11/2021 14:36 / atualizado em 04/11/2021 14:36
A vitória do republicano Glenn Youngkin nas eleições para o governo estadual da Virgínia -  (crédito:  Anna Moneymaker)
A vitória do republicano Glenn Youngkin nas eleições para o governo estadual da Virgínia - (crédito: Anna Moneymaker)

A vitória do republicano Glenn Youngkin nas eleições para o governo estadual da Virgínia oferece à direita dos Estados Unidos uma estratégia para reconquistar o Congresso em 2022, tratando de temas caros para o eleitorado conservador e moderado, mas mantendo o ex-presidente Donald Trump à distância, segundo especialistas.

"Glenn Youngkin escreveu um manual", disse Leonard Steinhorn, professor de comunicação na American University de Washington, para um "populismo familiar residencial suburbano", distante das declarações inoportunas do ex-mandatário republicano.

Youngkin, um empresário bilionário de 54 anos estreante na política, superou nesta terça-feira (2) o democrata Terry McAuliffe na Virgínia, que já governou o estado de 8 milhões de habitantes, vizinho da capital Washington.

O republicano se beneficiou de uma mobilização excepcional do eleitorado republicano e manteve a base de Trump, que manifestou o seu apoio ao candidato desde muito cedo.

Youngkin, contudo, se distanciou o suficiente do ex-presidente para conseguir atrair um eleitorado moderado, como as mães de famílias brancas dos subúrbios, apesar dos esforços democratas de destacar a proximidade entre ambos.

"Não funcionou porque Youngkin não agiu nem falou como Trump", afirmou J. Miles Coleman, do Centro de Política da Universidade da Virgínia.

Apesar de ter mantido alguma sinalização para os eleitores trumpistas, Youngkin se desvencilhou do ex-presidente, cujo estilo descarado havia afastado muitos eleitores nos subúrbios de classe média e alta, particularmente as mulheres brancas.

Youngkin recebeu o apoio de Trump ao falar de "integridade eleitoral", uma referência codificada às falsas afirmações do ex-presidente de que ele teria vencido as eleições presidenciais de 2020. Contudo, não fez menções ao magnata durante a campanha eleitoral, nem o convidou para seus comícios na Virgínia.


 Pais preocupados 

Youngkin também atacou a "teoria crítica da raça", que vê o racismo nos Estados Unidos como um sistema perpetuado pela maioria branca para manter seus privilégios, e não como um preconceito individual contra as minorias.


O republicano criticou diversas vezes o ensino dessa teoria nas escolas públicas da Virgínia, um estado cujo passado escravista é alvo de debates acalorados, apesar de os democratas e especialistas terem afirmado que a mesma não fazia parte do programa escolar.

Os pais preocupados, e mais atentos aos afazeres escolares de seus filhos devido ao fechamento das escolas pela pandemia, criticaram o que classificam de "ideias radicais".

Youngkin, ele mesmo um pai de família, reivindicou que os pais fossem "respeitados" e consultados sobre o conteúdo dos programas de ensino na educação pública.

"Ele utilizou uma fórmula de populismo trumpista, mas o fez de uma forma muito inteligente que, eu acredito, se transformará no manual republicano para as eleições de meio de mandato do próximo ano", disse Steinhorn.

Além disso, o governador eleito se opôs à obrigatoriedade de vacinação contra a covid-19 e ao uso obrigatório de máscaras nas escolas, temas caros aos republicanos.


 'Batalhas internas' 

Youngkin também se beneficiou da incapacidade de Biden para conseguir a aprovação no Congresso de seus planos ambiciosos de investimento, por diferenças entre moderados e progressistas dentro do Partido Democrata, algo que prejudicou claramente a campanha de McAuliffe.

"Fala-se de batalhas internas, desordem, disfuncionalidade", mas "os americanos querem resultados", opinou Steinhorn.

Para Coleman, a derrota na Virgínia é um péssimo sinal para os democratas com vistas às eleições legislativas de meio mandato do ano que vem, historicamente desfavoráveis ao partido governante, que ostenta uma maioria frágil no Congresso.

Para reverter os prognósticos, Biden deve recuperar sua autoridade sobre um partido fragmentado, opina Peter Loge, especialista em mídia da Universidade George Washington.

Steinhorn, por sua vez, acredita que as eleições da Virgínia representaram um "chamado de alerta" para os democratas e uma "oportunidade" para os republicanos.

"Donald Trump não estará na cédula eleitoral" das eleições legislativas, por isso "a pregunta aos republicanos é: O quão visível será Donald Trump?", acrescentou.

Se o ex-presidente "começar a percorrer o país com seus comícios dizendo coisas extremas e intempestivas, e promovendo teorias da conspiração, isso pode ser contraproducente para o Partido Republicano", assinalou Steinhorn.

"Para os democratas, a melhor notícia é que ainda resta um ano para que eles possam se reinventar e mudar a narrativa", disse o professor. "Já para os republicanos, a melhor notícia é que encontraram um manual com Glenn Youngkin", concluiu.


 

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