Estados Unidos

Malcom X: homens condenados à prisão perpétua provam inocência após 60 anos

Cinquenta e seis anos depois do assassinato de Malcolm X, líder ativista dos direitos dos negros, dois homens acusados pelo crime e presos por duas décadas serão absolvidos hoje. Julgamento foi marcado por erros e omissões

Rodrigo Craveiro
postado em 18/11/2021 06:00 / atualizado em 18/11/2021 15:26
Malcolm Little, depois rebatizado com o nome islâmico Al Hajj Malik Al-Shabazz e conhecido como Malcolm X (D), foi um dos principais símbolos da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos e pelo fim do preconceito racial, ao lado de Martin Luther King Jr (C) -  (crédito: Wikipedia/Reprodução)
Malcolm Little, depois rebatizado com o nome islâmico Al Hajj Malik Al-Shabazz e conhecido como Malcolm X (D), foi um dos principais símbolos da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos e pelo fim do preconceito racial, ao lado de Martin Luther King Jr (C) - (crédito: Wikipedia/Reprodução)

Khalil Islam morreu em 2009, aos 74 anos, dos quais 21 passou na cadeia. Muhammad A. Aziz, 83, esteve encarcerado entre 1966 e 1985. Condenados à prisão perpétua e beneficiados com a liberdade condicional, os dois sempre lutaram para provar à Justiça que ela estava errada. Quase seis décadas depois do assassinato do ativista em defesa dos direitos dos negros Al Hajj Malik Al-Shabazz — mais conhecido como Malcolm X —, Islam e Aziz serão absolvidos do crime e terão os nomes limpos.

"Esses homens não tiveram direito à justiça que mereciam", disse ao jornal The New York Times Cyrus Vance, promotor de Manhattan. Ele afirmou que dará uma entrevista, hoje, após "a anulação das condenações injustificadas". Malcolm X foi morto a tiros em 21 de fevereiro de 1965, quando se preparava para discursar no Audubon Ballroom, em Nova York. 

Vance explicou que uma investigação de 22 meses, conduzida pela Promotoria de Manhattan e pelos advogados de Aziz e de Islam, constatou que o julgamento foi marcado por erros e omissões. Ela descobriu que o FBI (a polícia federal americana) e o Departamento da Polícia de Nova York esconderam evidências que levariam à absolvição de ambos.

 

"Feliz"

Contatado pelo Correio, o escritório de advocacia que representa Aziz enviou uma declaração atribuída a ele. "Os eventos que nos trouxeram à Corte hoje jamais deveriam ter ocorrido. Foram, e são, resultado de um processo que foi corrompido em seu núcleo", afirmou o idoso. "Embora eu não precise deste tribunal, dos promotores ou de um pedaço de papel que me diga que sou inocente, estou feliz com o fato de minha família, meus amigos e os advogados que me apoiaram todos estes anos verem que a verdade foi oficialmente reconhecida."

Aziz se definiu como um homem de 83 anos que foi vitimado pelo sistema da Justiça penal. "Não sei quantos anos mais tenho para ser criativo. No entanto, espero que o mesmo sistema responsável por essa paródia de justiça assuma a responsabilidade pelo dano incomensurável que me causou."

Também em nota emitida à reportagem, David B. Shanies, advogado de Aziz, disse que a decisão da Corte representa um marco importante e muito esperado por Muhammad Aziz e pela memória de Khalil Islam. "Esses homens inocentes experimentaram a agonia de décadas na prisão por um crime que não cometeram. Eles foram privados de sua liberdade no auge de suas vidas e marcados como assassinos de um líder dos direitos civis", comentou. 

Ainda segundo Shanies, as famílias de Muhammad e de Khalil suportaram décadas de dor e de sofrimento. "Os eventos trágicos e injustos do passado jamais poderão ser apagados, mas absolver estes homens é uma afirmação justa e bem merecida de seu verdadeiro caráter", admitiu o defensor. Por sua vez, a também advogada Deborah François disse que as condenações da dupla foram produto de grave má conduta das autoridades e de um sistema judicial criminal pesado contra pessoas de cor.

A agência France-Presse informou que a revisão do caso surgiu depois de um documentário sobre o assassinato e de uma nova biografia do ativista. Ambos não identificaram os assassinos nem revelaram se houve uma possível conspiração da polícia ou do governo para silenciá-lo.

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Do crime à redenção

Da juventude delituosa à redenção

Malcolm Little, depois rebatizado com o nome islâmico Al Hajj Malik Al-Shabazz e conhecido como Malcolm X (D), foi um dos principais símbolos da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos e pelo fim do preconceito racial, ao lado de Martin Luther King Jr (C). Porta-voz do grupo Nação do Islã, Malcolm X nasceu em 19 de maio de 1925 em Omaha (Nebraska), filho de um palestrante batista e de uma repórter. Depois da morte do pai e da doença da mãe, ele passou por lares adotivos e se envolveu em vários crimes. Em 1946, foi condenado a dez anos de prisão por furto e invasão de domicílio. Foi na prisão que ele se uniu à Nação do Islã e adotou o nome Malcolm X. Após cumprir a sentença, passou a defender o empoderamento dos negros e a separação dos americanos brancos e de cor. Também criticou publicamente King pela ênfase à não-violência. Em 21 de fevereiro de 1965, depois de acusar o próprio grupo de desejar matá-lo, Malcolm X foi assassinado com um tiro no peito. 

 

 

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