Foram quase dois meses de negociações até que um consenso, antes considerado improvável (ou mesmo impossível), foi alcançado. Depois de 16 anos, o Partido Social Democrata (SPD) voltará a comandar a Alemanha, em um governo de coalizão com os ecologistas dos Verdes e com o Partido Democrático Liberal (FDP). "O semáforo está aceso (cores das legendas). Combinamos um acordo de coalizão. Queremos confiar em nós mesmos e ter a coragem de fazer mais progressos — na proteção ao clima, na construção de nossa indústria, na modernização do país e no fortalecimento da sociedade. Estamos unidos pela vontade de melhorar a Alemanha", declarou Olaf Scholz, 63 anos, o próximo chanceler, que sucederá Angela Merkel.
"O SPD, os Verdes e o FDP entraram em um acordo para um contrato comum de coalizão nas negociações e sobre uma nova aliança de governo", acrescentou Scholz, ao prometer um governo "de igual para igual". O pacto sela a era Merkel, no poder desde 2005. A expectativa é de que o Bundestag (Parlamento alemão) aprove o nome de Scholz e o emposse entre 6 e 9 de dezembro. Apesar de a composição do novo governo não ter sido anunciada, está definido que os Verdes ficarão com o Ministério das Relações Exteriores — Annalenna Baerbock é a mais cotada à chefia da diplomacia — e com uma pasta importante voltada para a proteção climática, enquanto a Christian Lindner, líder do FDP, caberá o Ministério das Finanças da maior economia da Europa.
O novo governo tripartite firmou um contrato chamado "Atrever-se a mais progresso: aliança para a liberdade, justiça e sustentabilidade". Na esteira da recém-finalizada COP26, a coalizão anunciou a antecipação do fim do uso do carvão de 2038 para 2030. O pacto para a gestão da Alemanha prevê a legalização do uso recreativo da maconha. A venda será feita somente para adultos, por meio de "lojas autorizadas". "Isso permitirá controlar a qualidade, impedir a circulação de substâncias contaminadas e garantir a proteção dos jovens", afirma o acordo, que prevê uma reavaliação do "impacto social" da lei em 2025. Segundo o site de notícias Deutsche Welle, Robert Habeck, copresidente dos Verdes, classificou o pacto de coalizão entre o SPD e o FDP de "documento de coragem e de confiança".
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"Irrealista"
Diretor do Departamento de Governo Comparado da Universidade de Mannheim (a 482km de Berlim), o cientista político Marc Debus admitiu ao Correio que, até agosto passado, a coalizão era considerada extremamente irrealista, dadas as posições muito diferentes sobre política econômica do Partido Democrático Liberal, adepto do livre mercado, e de partidos intervencionistas, como o SPD e os Verdes. "É bastante surpreendente como as três partes rápida e facilmente concordaram com um acordo de governo de coalizão. O que podemos esperar é uma política progressista em temas sociais, algo que não seria possível com a União Democrata Cristã (de Merkel) como parceria de coalizão", comentou.
Debus adverte que a pandemia e suas implicações serão um obstáculo para o governo de Scholz. "Não apenas no âmbito econômico, mas também no que diz respeito às discussões sobre a obrigatoriedade da vacinação contra a covid-19. Haverá enormes conflitos sobre isso dentro da sociedade. Além disso, os liberais do FDP são céticos em relação à imunização compulsória", lembrou. Entre as primeiras medidas anunciadas por Scholz, está o repasse de 1 bilhão de euros aos profissionais da saúde "particularmente exigidos" pela emergência sanitária.
A nova cara do governo
Ao fim das negociações que culminaram na formação do governo de coalizão, os principais nomes da aliança posaram para foto, no Centro de Convenções Westhafen (em Berlim), ao lado de Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), o novo líder da Alemanha. Da esquerda para a direita, aparecem Michael Kenner, diretor de gerenciamento político dos Verdes (Die Gruenen); Norbert Walter-Borjans, vice-líder do SPD; Annalenna Baerbock e Robert Habeck, colíderes dos Verdes; Olaf Scholz; Christian Linder, líder do Partido Democrático Liberal (FDP); o secretário-geral do FDP, Volker Wissking; e o colíder do SPD, Saskia Esken.
Eu acho...
“Apesar de Scholz ser muitas vezes visto como parecido com Angela Merkel, ele precisará mostrar que seu estilo de governo é mais diferente e mais ativista. Isso tem que ficar evidente principalmente quando se tratar de resolver questões importantes, como a falta de digitalização, a luta contra as mudanças climáticas e o gerenciamento da pandemia da covid-19. Acredito que veremos mudanças significativas nas políticas sociais e ambientais e menos alterações no campo econômico.” Marc Debus, cientista político da Universidade de Mannheim, a 482km de Berlim.
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